ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (II), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (II), por André Da Ponte

DA ANTOLOGIA DA POESIA PALESTINA CONTEMPORÂNEA

Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – II

إبراهيم طوقان

Em Beirute

Dizem em Beirute: com abundância vivia.

Vendeis vós a terra e entregam-vos eles o ouro.

Vizinho, sossegue: Desde quando se estima felicidade

que milhares morram para se enriquecer um só?

Quem este ouro dá, demais sabe que

a gente que faz brindes com a mão direita, com a esquerda apanha.

Ora o país é nosso! Como é que podem os seus tesouros

e o seu ouro igualá-lo?

Fazeis-vos ricos em vendendo aos judeus a terra.

Corações mortos

Os que vendem a terra com lágrimas têm-no expiado,

mas as planícies e os outeiros maldiçoam-nos ainda.

Os agentes que com a minha pátria especularam

claramente a Deus não temem por tê-la vendido

ataviados com ostentosas roupas,

cheios da mais desprezível hipocrisia,

enganosas expressões que o rubor não conhece

e peitos como espantosos túmulos

para os seus corações mortos e sepultados.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b7/Ibrahim_Abdelfattah_Toukan.jpg

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (I), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (I), por André Da Ponte

Começo hoje uma antologia da poesia palestina moderna que, penso, é muito pouco conhecida não apenas fora do mundo árabe em geral e palestino em particular, mas que é quase desconhecida no mundo que fala, lê e escreve em galego-português.

De aquí a pocuo enviarei para ser publicado em formato PDF, após escrever um prólogo que a torne notada detro da trágica história deste povo mártir dos nossos tempos.

Assim que, encetemos.

 

 

 

Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – I

 

إبراهيم طوقان‎

 

Ibrahim Tuqan nasceu em Nablus em 1905. Recebeu escolarização elementar na escola al-Gharbiyya da sua cidade natal, mais tarde na escola al-Motran de al-Quds (Jerusalém), culminados na Universidade Americana de Beirute (1923-1929). Ministrou aulas como professor da literatura árabe na escola nacional do al-Najah (agora Universidade) de Nablus.

Com dezaoito anos publica os seus primeiros versos e com vinte e dous já é reconhecido como grande poeta. Primeiro director da secção árabe do Rádio Jerusalém durante quatro anos, é expulso do seu emprego polas suas públicas intervenções patrióticas.

Nunca deixou de advertir que Palestina haveria cair sob a ocupação colonial sionista e que o povo árabe seria expulso da sua própria pátria. Lamentavelmente a profecia cumpriu-se sete anos após o falecimento do poeta no Hospital Francês de Jerusalém em dous de maio de 1941.

A sua irmã Fadwa Tuqan dedicou-lhe uma comovedora biografia: Aji Ibrahim (meu irmão Ibrahim), publicada em al-Quds em 1946.

O Diwan Ibrahim Tuqan recolheu toda a sua poesia publicada após a sua morte.

 

Vós-outros

 

Vós, os devotos patriotas,

vós, os que levais a carga da “questão”,

vós, quem sem falar, em acção vos pondes…,

abençoe Deus os vossos fortes braços!

Que de “declarações” vossas valem o que um exército

poderoso com todos os apetrechos de trás!

Que de “congressos” vossos nos restauram

a pretérita glória das conquistas dos Omíadas2!

Com as floridas festas que vêm

o final do país está a chegar.

Reconhecemos, sim, os vossos “favores”,

não obstante um desejo ainda nos bate na alma:

Visto que ainda possuímos um pedaço de país,

repousai um bocado, não vaia ser que o perdamos, como o resto!

 

 

http://aboufehr.com/wp-content/uploads/2015/10/%D8%A5%D8%A8%D8%B1%D8%A7%D9%87%D9%8A%D9%85-%D8%B7%D9%88%D9%82%D8%A7%D9%86-232×277.png

 

 

 

 

 

 

 

2 O Califado Omíada (em árabe:الأمويون / بنو أمية; transliterado: Umawiyy) foi o segundo dos quatro principais califados islâmicosestabelecidos após a morte de Maomé. Era centrado na dinastia Omíada, originários da Meca, Arábia Saudita. A família Omíada chegara ao poder durante o governo do terceiro califa, Otomão (r. 644–656), contudo a dinastía omíada foi fundada por Moáusia I, governador da Síria, após o fim da Primeira Guerra Civil Islâmica em 41 ano da Hégira (661 do calendário ocidental). Foi assim que a Síria se constituiu como a base da força da nova dinastia, com Damasco com a sua capital. Com a sua ascensão, a dinastia Omíada começou uma enorme expansão polo Cáucaso, a Transxónia, Sinde, o Magrebe e grande parte da Península Ibérica (al-Andalus) alcançando os 15 000 000 km², fazendo do império muçulmano o maior que se tinha visto até então e o quinto maior que o mundo tenha visto.

 

A BELEZA, un poema de Charles Baudelaire traducido por André Da Ponte

A BELEZA, un poema de Charles Baudelaire traducido por André Da Ponte

XVII

A BELEZA

 

Sou bela como um sonho de pedra, ó mortais,

E meu seio, onde à vez foi machucada a dor,

Foi criado para dar ao poeta amor

Eterno e mudo como os mudos materiais.

 

No azul, como esfinge incompreendida, a reinar,

Junto o branco cisne e o coração de neve fria;

Ódio os movimentos que sempre as linhas desvia;

Nem sei bem o que é rir, nem sei o que é chorar.

 

Os poetas, ante as minhas atitudes fátuas,

Que cópio, se diria, às mais nobres estátuas,

em sofismas graves os seus dias vão gastar;

 

Possuo para encantar a tão dóceis amantes

os puros espelhos que a tornaram deslumbrantes:

Meus olhos, meus grandes olhos de eterno brilhar.

 

 

XVII

LA BEAUTÉ

Je suis belle, ô mortels, comme un rêve de pierre,
Et mon sein, où chacun s’est meurtri tour à tour,
Est fait pour inspirer au poète un amour
Éternel et muet ainsi que la matière.

Je trône dans l’azur comme un sphinx incompris;
J’unis un cœur de neige à la blancheur des cygnes;
Je hais le mouvement qui déplace les lignes,
Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.

Les poètes devant mes grandes attitudes,
Qu’on dirait que j’emprunte aux plus fiers monuments,
Consumeront leurs jours en d’austères études;

Car j’ai pour fasciner ces dociles amants
De purs miroirs qui font les étoiles plus belles:
Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles!

 

[Les Fleurs du mal (1857), Poulet-Malassis et de Broise, 1857 (p. 46-47).]

 

 

http://www.clubdelecturazamora.com/wp-content/uploads/2018/02/Charles-Baudelaire-150×220.jpg

A TUMBA DE EDGAR POE, soneto de Stephan Mallarmé traducido ao galego por André Da Ponte

A TUMBA DE EDGAR POE, soneto de Stephan Mallarmé traducido ao galego por André Da Ponte

A TUMBA DE EDGAR POE

 

Como a Eternidade cabal o converte

Ergue-se o Poeta de estoque soltado

O seu siglo não conheceu amedrentado

Quanto que nessa voz tinha a morte alerte!

 

Eles, com torpe surpresa que a hidra adverte

Dar um sentido puro e mais alteado

Bradam com a voz cheia o feitiço tomado

No negro nascente que sem honra verte.

 

Do solo e a nuvem contrários, ó enlevo!

Se a ideia não dá para baixo-relevo

Da que a tumba de Poe orna deslumbrante;

 

Abatido bloco dum revês escuro

Que o grande granito seu terminal levante

Os negros voos esparsos no futuro.

 

LE TOMBEAU D’EDGAR POE

Tel qu’en Lui-même enfin l’éternité le change,
Le Poëte suscite avec un glaive nu
Son siècle épouvanté de n’avoir pas connu
Que la mort triomphait dans cette voix étrange!

Eux, comme un vil sursaut d’hydre oyant jadis l’ange
Donner un sens plus pur aux mots de la tribu
Proclamèrent très haut le sortilège bu
Dans le flot sans honneur de quelque noir mélange.

Du sol et de la nue hostiles, ô grief!
Si notre idée avec ne sculpte un bas-relief
Dont la tombe de Poe éblouissante s’orne

Calme bloc ici-bas chu d’un désastre obscur
Que ce granit du moins montre à jamais sa borne
Aux noirs vols du Blasphème épars dans le futur.

 

Stéphane Mallarmé, de verdadeiro nome Étienne Mallarmé, (Paris, 18 de março de 1842 – Valvins, comuna de Vulaines-sur-Seine, 9 de setembro de 1898).

 

Texto em francês apanhado da edição Stephane Mallarmé, Poésies, classiques français, Bookking International, Paris, 1993, página 81.

https://www.zendalibros.com/wp-content/uploads/2018/04/poemas-de-mallarme.jpg

PREXUÍZOS AGÓNICOS

PREXUÍZOS AGÓNICOS

Como podemos pedir os poetas a lúa

E non  morrer de vergoña ante a barbarie de Alepo

Como chorar polo desengano do amor

En tanto milleiros de seres humanos

Están a ser subastados en cotas de acollida

Invisibles corpos afundidos no Mare Nostrum

Na miseria calculada por meritócratas impostores

Cal é a construción poética da insensibilidade

Como se escribe sobre a desidia e a vesania

Nos campamentos de exterminio de Gaza

Como se riman os versos arrítmicos

Na sociopatía colectiva en cotas mensuais

Na caridade sincopada en acrónimos de ONGS

Como podemos respirar tanto veleno

Mentres a natureza nos rodea de cadáveres

Que non computan nos PIBS

Nin nas conciencias adormentadas

Na endogamia irresoluble entre líneas imaxinarias

Na pugna polas gabias dos valados e os derregos

Mentres, o futuro afoga en prexuízos agónicos

 

Pilar Maseda