por martinho | Jul 24, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
NA MEMÓRIA DE JOSEFA CABADO LOPEZ (A REQUECHA E A REGUEIFEIRA DO CANDO – SÃO SALVADOR DE PARGA), prima coirmã de meu defunto pai que faleceu em 31 de março de 2018.
Com saudades e sentindo muito a sua ausência.
DERRADEIRA VONTADE
Deixai-me, bem seja breve,
um pedaço de lembrança
num floco de branca neve
quando eu morrer. Caia leve,
sossegada, quase mansa;
ouça-a eu como descansa
no colo da minha Terra.
E sinta que a selha berra
(cantava quando eu criança)
velhas cantigas da serra.
E recender novamente
no deleite da verdura
a nossa fala mais pura
nos lábios da minha gente.
E os risos da rapazada,
e da fonte que escorrega
nesta paisagem calada,
e o curto vó duma pega.
E o fumo duma lareira
sair do turvo das lousas.
Ressentir todas as cousas
tal qual fosse a vez primeira.
Apenas isto requeiro,
só esta ânsia procuro:
dormir sono derradeiro
numa Pátria com futuro.…
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Na manhã mais sonolenta
perceba na terra algente
cair a neve mui lenta…
lenta… lenta… lentamente…
…………………………………..
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por martinho | Jul 23, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXXII)
Makhmud Sobh al-Kurdi
مخمود صبح الكردي
Onde voam as águias ninguém em Palestina esquecerá Gassán
Lim nos jornais que a miúdo de ti falavam
e disse para mim: mintem os jornais igual que sempre.
Como havia acreditar que se atrevera a morte, disfarçada de artefacto explosivo,
a te insinar o seu terrível rosto cara a cara, em pleno dia maldito.
pudo essa voraz suja velha roubar-te os teus projectos, as tuas muitas ilusões
e dispersar o teu peito tão valente, esfanicar o teu jovem corpo.
Levavas esse dia os teus projectos, como a cotio, nas algibeiras.
Ainda lembro, Gassán, quando, com cuidado primoroso, os tiravas
do bolso esquerdo das tuas calças cinzentas, esfarrapadas de todo e bastante limpas [não obstante.
naquele campamento nosso de refugiados, no arrabalde de Damasco,
onde a nossa ira medrava e também a esperança junto a fame* e a sua semelhança, a [miséria.
«Justo nesta montanha onde abundam os bosques e as covas —disses-te—
está o caminho mais curto para o nosso lugar, pertinho de acô*.
Deveríamos atacar de súpeto. A guerra é com surpresa, há que aprender deles.
Mas, é só o dia o nosso.
Cuida de não matar meninhos*, não destruir os nossos fogares
Também não queimar anaco* algúm da querida pátria.
O nosso é uma guerra de guerrilhas de espaçoso alento humano.
Jamais o rancor, que é muito descorado.
O ódio e a vingança hám ficar para o outro bando.
Flor violenta é o nosso, ardente mas, também fermosa.
Um alvor que abraça um claro dia e à vida nascente, o nosso é».
Que dedos de pianista voavam nos teus sobre o pequeno mapa
enquanto chamavas a atenção para as tuas tácticas guerreiras, nunca antes inventadas,
o teu grande convencimento de profeta,
aquela voz tua musical e de diamante à vez.
Hoje justificar pretendem os desesperados a violência louca, sen sentido.
E poucos, muito escasos, seguem a acreditar nos teus puros projectos juvenís, algum dia [certos.
Repartidos agora estamos em milhares de pedaços, como contigo fizeram.
E, no entanto, Gassán, não chorou da tua morte e tambén não na vida dos órfãos.
Desminto os que crem não cumplem os poetas o prometido nem fazem o que dizem.
Hoje volvo repetir-te aqueles versos meus que de cor conhecias:
«Apertai, com força, as bexigas.
e com o sal rociai-a ».
Todo o que não seja ira e luz dos vossos olhos, arrincai.
Tempo haberá para chorar polos* mortos vossos.
O tempo do regresso à nossa terra, quando a apertemos e a rociemos
dos distintos sabores das lágrimas ao se fazerem o reencontro, distante tantas vezes.
Não conteis esse dia nem percas, nem traedores, nem desesperados.
«Já virá o tão veloz outono
e, perante a sua força, cairá o cerco e derrubarám-se os valados
e abrirám-se ao vento casas e casas».
«Então virá-lhe a sua vingança para quem foi traído,
e à terra o seu espasmo,
o seu parto a tanta luz.
Então, na certeza, há resuscitar Jerusalém
e a vergonha da frente do povo cairá».
Gassán, asseguro-te que hei cumplir os meus versos e fazer que os teus projectos [fructifiquem.
Ocupo-me agora, tam só, de recompor no meu poema um corpo esmigalhado.
Atesoura a História o que a terra inuma.
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por Adolfina Mesa | Jul 22, 2018 | Autores/as, Novas, Xeral
O pasado sábado, 14 de xullo, celebrouse no Pazo de Sabadelle (Chantada), administrado por Xosé Figueroa Lorenzana, o seu dono e un activo promotor de diversas propostas multidisciplinares (artísticas, poéticas, musicais). Figueroa tivo un pretexto sensible para o deleite dos sentidos, onde as imaxes tanxibles, a poesía recitada e a música a través da festa deron paso á unión de todos os mundos posibles e imposibles nun espazo rodeado de natureza, como é o Pazo de Sabadelle.
No seguinte enlace atoparemos unha crónica gráfica que reproduce distintos instantes vividos nesta VI Folidada das Artes.
*As imaxes que compoñen a galería fotográfica foron achegadas por Xosé Figueroa Lorenzana.
por martinho | Jul 21, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXXI)
Makhmud Sobh al-Kurdi
مخمود صبح الكردي
Mahhmud Sobh al-Kurdi nasceu na pequena aldeia de Safad na Galileia, perto de Nazaré. É brutalmente expulso em Maio de 1948 ele e a sua família polos* tanques e os soldados do criado recém Estado sionista na Palestina.
Em Outubro de 1954, logo de ter superado os exames correspondentes é nomeado mestre de ensino primário na Síria. Em 1962 recebe o Diploma de Pedagogia pola* Universidade de Damasco.
Um poema seu dedicado ao poeta clássico al-Mutanabbi obtém em 1960 o prémio da Universidade de Damasco e em Julho de 1961 com outro poema, Epopéia Eterna, consegue o primeiro prémio do Certame convocado em Damasco pola* União de Universidades da R.A.U.
Em 1963 vemo-lo como professor na Escola Normal de Oram (Argélia) e em 1964 é nomeado director duma escola secundária em Homs (Síria).
Traslada-se para a Espanha em 1965 aceitando uma beca para fazer uma tese doutoral sobre a poesia clássica andalusi que defende com o título A poesia amorosa arábigo-andaluza obtendo a qualificação de sobressalente. É nomeado professor do Departamento de Árabe e Islã na Universidade Complutense de Madrid e professor de língua árabe na Escola Diplomática Espanhola em Outubro de 1973. Em 28 de Outubro de 1975 obtém um dos prémios Álamo de Poesia polo* seu Livro das Kasidas de Abu Tárek.
Em 22 de Janeiro de 1976 é homenageado no Palácio de Congressos e Exposições de Madrid polos embaixadores árabes na Espanha.
Outorgam-lhe os prémios Concelho de Rota e Cidade de Irún polo seu volume Possesso em Layla.
Em 1978 obtém o prestigioso prémio Vicente Aleixandre e ao seguinte ano concederam-lhe a nacionalidade espanhola.
A 1 de Janeiro de 1981 é nomeado chefe do Seminário de Estudos de Filologia, Literatura e Belas Artes no Instituto Hispano-Árabe de Cultura.
Em 1983 obtém o Prémio Nacional de Tradução e o dia 17 de Janeiro de 1985 é nomeado professor titular na Universidade Complutense de Madrid.
A 9 de Junho de 2001 toma possessão da Cátedra de Estudos Árabes e Islâmicos na Universidade de Madrid.
Prestigioso professor e erudito investigador tem dado, além duma insubstituível História da Literatura árabe clássica, uma formosa coleção de poemas femininos clássicos árabes do al-Ándalus sob o nome de Poetisas arabigo-andaluzas. Toda a sua obra poética está recolhida no livro Divan. Antes, Em, Depois, publicado em Madrid no ano 2001.
A aldeia ao pôr-do-sol
Fazia-se noite e os disparos na garganta da aldeia enrouqueceram.
Um silêncio solene, sem serenos reflexos, apoderou-se das ruas.
com os seus véus arroupava-a e com a sua própria boca estinguia o laído*.
Polas* veias do lugar um arrepio de espantosa morte andava em derredor,
alimentava-se dele o sossego e dos regatos das bágoas* bebia.
Como espectros de lobos quando o rebanho espreitam, achegava a noite.
Convulsos segundos foram os que a aldeia surprendida deixou passar.
Para esquadrinhar as ruas, minha mãe, tremente, medrosa, assomara a cabeça.
Olhava eu para ela, silente, num breve instante de terror e mudezes.
Os meus olhos espetara no candeeiro e vestido de palidezes mirei-me.
O sangue era tam só um carambano… Minha mãe exclamou:
Mataram os nossos homens, meu filho. Bestas às casas nossas se acercam.
Meu filho, foram assassinados os homens nossos. E agarrando-me as mãos botou-se a [fugir.
A praça da aldeia conquistaram já a récua dos deuses da Morte:
cadáveres espalhados. Um silêncio afogado em fiada de explosões.
De traje carmesim a brétema* cingia os rostos das vítimas
enquanto debandadas de fugitivos da Morte atingiam os caminhos
mas, dava-lhes alcance a Morte com o seu atroz exército de milhares de tropas.
Corriamos eu e minha mãe. As catástrofes, atrás nosso, apressavam também.
Os pés nos resgataram da Morte até que a fadiga nos rendeu.
O terror multiplicava a sua silhueta e espreitava às escondidas no silêncio.
A pergunta fervia-me nas entranhas: Mãe… Onde…
Onde… Onde vai o papá? E das pupilas escorreram-nos as lágrimas.
A nossa aldeia foi destroçada, meu filho, e mataram todos os moradores.
Só se salvou a desonra e a perversa maldição do destino.
Fitava em silêncio para a distante aldeia e em mim prendia o ódio no seu incêndio.
Vamos… que os pés prossegam o caminho, baldados e rendidos.
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por martinho | Jul 21, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXX)
Ibrahim Nasralah
إبراهيم نصرالله
Dias
O primeiro dia
susteve a minha mão enquanto debuxava um ataúde.
Então me enviaram uma coroa.
No segundo dia
susteve a minha mão enquanto debuxava uma flor.
Então me enviaram um ataúde.
O dia terceiro bradei a voz cheia:
Quero viver.
Enviaram-me então um assassino.
Imigrante
Para todos os lados aonde os seus pés caminharam
eles chegavam,
Mas ele
não.
A pátria
Sob o jugo das nossas manhãs
Desfaz-se o sol.
E na escuridade dos nossos passos
A nossa agitada respiração se incendeia.
Estas pátrias incompletas nas que estamos em aparência
apenas prisioneiros de guerra.
A morte
Em tempos do meu avô
Chamavam-na: Turquia.
Em tempos de meu pai: Grã-Bretanha.
Nós chamamo-la: Estados Unidos de América.
Muito temos feito então.
Sabemos, polo* menos o que é,
para que os nossos filhos não mal gastem as suas vidas
buscando um nome
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