ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (V), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (V), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (V)

Abu Salma

(Abd al-Karim al-Karmi)

عبد الكريم الكرمي

 

No teu nome

Palestina, no teu nome estamos no campo da batalha,

em pé combatemos nesta guerra.

Que de vezes quiseram riscar o nome de Palestina

e extinguir o latejo das linhagens!

Sóis rutilam em cada letra do teu nome

e alumia mil manhãs cada sol.

O meu povo sobre fogo caminha,

apaga com lume a vergonha,

atravessa sobre a ponte da morte

que faz germinar a vida dos homens livres.

O sangue dos meus é como facha

que em fileira levam os revolucionários.

Por vezes ateam-se em Nablusa,

outras em al – Aguar,

e a sua claridade exibe Palestina

junto à história do seu povo poderoso.

O meu coração rente deles está nas vermelhas batalhas,

guirnaldas fundas som as suas feridas.

A par deles nas tendas no horizonte largo,

na geada e a troada.

Em Palestina, ao longo do tempo, imorredoiros

como montes e rios eternos,

somos as cantigas do Iarmuk6 e de Hattim7 .

A poeira somos da sua recendente terra

e os seus arbustos cingidos às rosas

defronte ao vento e à chuva.

Somos a oliveira de fundas raízes

e origem de qualquer esperança.

Quem dirige um exército para a morte pola* pátria

não é como quem o guia para a fugida.

Vós, que governais no nome da pátria minha

que é o que tramais trás as cortinas?

Cimeiras? Que cimeiras? Palestina

segue atrás das lágrimas e as muralhas.

Cimeiras de governos? Que cimeiras de governos

construídas sobre humilhação e ignomínias?

Estas capitais, logo de Jerusalém, hão-se tornar

peças de museu.

O Barada, o Eufrates e o Nilo,

se o Jordão não se recupera, lágrimas fluentes hão ser.

Pregunto polos* escondidos

na negridão do petróleo e dos poços,

polos* que depois da derrota não vejo,

polos* que se converteram numa triste notícia.

Cimeiras negras para os grandes

que pola* manhã chegam ao fundo da vilania.

Se uma mulher os esbofeteasse

existiria ainda um consolo.

Determinaram avançar na luita*

e foram para frente detrás do decreto,

tiraram-nos a liberdade de morrer

para se gabar diante do imperialismo.

Mal não se gastará o nosso sangue. Palestina

triunfará sobre os poderosos criminais.

Ante ela há se derrubar o poder e o sólio real

e cairá o poder do dinheiro.

http://www.karamapress.com/arabic/thumbgen.php?im=../images_lib/images/24_1507753610_4611.jpg&w=585

6 Rio no Noroeste de Palestina, afluente do Jordão, confinante com a Síria e a Jordânia. À beira dele o exército árabe do califa Umar, sob o mando de Jaled b. al-Walid, derrotou numa batalha célebre, ao exército de Bizâncio em 20 de Agosto de 636 (Historia del Estado Bizantino, G. Ostrogorsky, Editorial Akal, Madrid, 1983, pág. 123; Historia de Bizancio, Emilio Cabrera, Editorial Ariel, Barcelona 1998, pág. 77).

7 Aldeia palestina no noroeste de Tiberíade onde triunfara Saladino numa grande batalha sobre o exército cruzado dos francos em 4 de Julho de 1187 (Historia de las Cruzadas, Mijail Zaborov, Editorial Sarpe, Madrid, 1985, pág. 130; Las cruzadas vistas por los árabes, Amin Maalouf, Ediciones del Prado, Madrid, 1994, págs. 212-214)

NPG Nova Poesía Guitirica e Culturalia GZ coa UNED Sénior

NPG Nova Poesía Guitirica e Culturalia GZ coa UNED Sénior

Novos cursos literarios e artísticos na UNED Sénior.

O grupo poético NPG Nova Poesía Guitirica e a plataforma Culturalia GZ colaboran coa UNED Sénior de Aranga, Monfero e Terra Chá na realización de novos cursos de poesía, literatura e arte.

O poeta chairego Martiño Maseda e a poeta/artista Adolfina Mesa serán quen coordinen as clases e obradoiros destas materias, que contarán co apoio da NPG e Culturalia GZ e os seus componentes.

 

Así, as preinscricións, xunto coa información, poderanse realizar até o 15 de setembro nos seguintes correos:

info@culturaliagz.com

dosvilares@gmail.com

coordinadorunedsenior@gmail.com

 

Tamén a través das redes sociais da NPG Nova Poesía Guitirica, Culturalia GZ e Os Vilares Lareira de soños.

Para preinscricións chega con enviar a calquera desas direccións

Nome e apelidos

Data de Nacemento

DNI

Estudos

Dirección

Tfno fixo e/ou móbil

E-Mail

 

 

PROPOSTAS DE CURSOS:

OBRADOIRO DE POESÍA:

POEMAXE (combinación de poesía e imaxe).

 

OBRADOIRO DE NARRATIVA:

O MICRORRELATO (a condensación da palabra).

 

CURSO DE PINTURA E ARTES DECORATIVAS (a emoción reflectida a través da cor).

 

Obxectivos:

Que o alumnado se achegue ás disciplinas pictórica e literaria (pintura, poesía, narrativa) dun xeito ameno coa intención de provocar un exercicio comunicativo das emocións ao tempo que se adquiren unha serie de coñecementos relacionados coas disciplinas mencionadas.

Finalidade:

Creación dunha antoloxía literaria (poesía ou narrativa) ou pictórica cos traballos realizados polo alumnado ao longo dos obradoiros, para que sexan apreciados por parte do público.

 

Aberto o prazo de matrícula da UNED Sénior, para maiores de 50 anos

15.06.2018 | | A Coruña

A UNED Sénior da Coruña xa abriu o prazo de matrícula para o curso 2018/2019 e poden inscribirse todos os maiores de 50 anos que queiran unha formación universitaria. A inscrición seguirá aberta ata que se acaben as prazas e comecen as clases en outubro. O ano pasado un total de 365 alumnos acudiron á UNED Sénior e espérase que o número sexa similar ou maior.  Ademais dos cursos, antes citados, tamén se impartirán os seguintes: Prevención de Riscos na Vida Cotiá, Actividade Física e Incidencia na Saúde, Patrimonio Histórico, Informática, Música, Canto e Gimnasia. Cada un deles ofrece 30 horas lectivas.

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IV), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IV), por André Da Ponte

Abu Salma

(Abd al-Karim al-Karmi)

عبد الكريم الكرمي

Abd al-Karim al-Karmi, mais conhecido na história da literatura polo* seu pseudônimo de Abu Salma, nasceu em Tulkarém em 1909. Seguindo o pai, fez estudos em Damasco (Síria), As-Salt (Jordânia) e mais outra vez em Damasco, onde obtém o título de bacharel. Volta à pátria para ministrar aulas como professor de língua árabe ao tempo em que trabalha na emissora de rádio dirigida por Ibrahim Tuqan.

Desde muito jovem participa nas manifestações contra o colonialismo e em 1930 um poema seu, “Palestina”, converte-se num canto à solidariedade de todos os povos oprimidos do mundo:

“… revelando-se contra a opressão, a ignorância e a pobreza

para criar uma pátria universal

onde a igualdade seja de todos os homens”.

A rebelião em toda Palestina contra a ocupação colonialista, a morte do guerrilheiro al-Qassam4 e a provocação do Alto Comissariado britânico quando instalou a sua residência no alto do monte al-Mukabbir, beira de Jerusalém, inspira-lhe um poema que se converte em manifesto dos combatentes palestinos (poema VI da nossa antologia). Este poema causa a sua expulsão das atividades docentes e tem de sair para Haifa onde exerceu como advogado até 1948 (ele obtivera a titulação em Direito no Instituto de Jerusalém). Durante muito tempo tão só as publicações do Partido Comunista deram-lhe oportunidade de publicar, desde que a burguesia árabe interditara-lhe editar em quaisquer dos jornais e revistas por ela controladas. É nas páginas dos comunistas onde o poeta pode exprimir as vontades que latejam nos corações do povo palestino. Assim, quando Abu Salma publica num jornal comunista o poema Versos em Chamas, os militantes do Partido Comunista Palestino clandestinamente distribuem-no, os versos circulam entre o povo em cópias manuscritas e são recitados nas moradas ou em reuniões clandestinas. Os portadores que são apanhados com um manuscrito do poema são imediatamente presos polos* ocupantes britânicos.

Em 22 de Abril de 1948, a cidade de Haifa cai nas mãos dos sionistas, apoiados polos* tanques da ocupação britânica. Abu Salma, como milhares de muçulmanos e cristãos árabes, tem de sair para o exílio de Akka. Leva consigo como única possessão numa pequena maleta um romance sobre a revolução de al-Qassam com uma introdução escrita por Ibrahim Abd al-Qadir al-Mazini5.

Combatente internacionalista convencido, Abd al-Karim al-Karmi fez parte do Conselho Universal da Paz e das Comissões Afro-Asiáticas de Solidariedade. Em 1978 a União de Escritores de Ásia e África concedera-lhe o galardão Lótus (de natureza parelha ao Nobel) e em 1980 é eleito por unanimidade presidente da União Geral de Escritores e Jornalistas Palestinos.

Errante polo* mundo e predicando por toda parte e palestra a justa luita* do povo palestino a morarem, amarem, trabalharem e mesmo falecerem na sua terra muitas vezes milenária morreu, sem poder voltar à pátria, em 11 de Outubro de 1980 em Damasco. O povo aguarda que, a não muito tardar, os seus veneráveis ossos repousem afinal na nunca esquecida terra de Tulkarém.

Palestina amada

Palestina amada, como podo* eu dormir

quando os espectros torturam meus olhos?

No teu nome saúdo o largo mundo,

mas as caravanas dos dias se passam

assoladas por conspirações de amigos e inimigos.

Amada Palestina, como irei viver

afastado dos teus chãos e outeiros?

Chamam-me os vales e os litorais

queixam-se ecoando nos ouvidos dos tempos;

as fontes, com desavença, também choram ao pingar.

As tuas cidades e lugares reverberam os prantos.

Haverá um retorno, perguntam os meus camaradas,

uma volta depois de tanta longa ausência?

Sim, voltaremos e bicaremos* a terra molhada,

enquanto florir o amor nos lábios nossos.

Regressaremos algum dia, logo que as gerações escuitem*

os ecos das nossas pisadas.

Como tormentas furiosas retornaremos,

lôstregos* sagrados e lume,

esperança elevada e cantigas,

altas águias

quando o alvor sorri nos desertos.

Haveremos voltar alguma manhã cavalgando no cimo da onda,

com os nossos estandartes ensanguentados drapejando

sobre o fulgor das lanças.

http://alresalah.ps/ar/img.php?src=uploads/General/CF13C4004.jpg&w=676&h=450&zc=1

4 Izzedin al-Qassam (em árabe: عزّ الدين القسّام; também transcrito como Izz ad-Din al-Qassam ou al-Kassam; nome completo: Izzedin ibn Abdelkader ibn Mustafa ibn Yusuf ibn Muhammad al-Qassam, Jableh (Noroeste da Síria), 19 de novembro de 1882 Nazlat ash-Sheikh Zeid (Norte da Cisjordânia), 20 de novembro de 1935) foi predicador árabe e clérigo do Islão suni durante o Mandato Britânico da Palestina. Em 1930, al-Qassam fundou al-Kaf al-Asuad (A Mão Negra), o primeiro grupo de resistência anti-sionista palestino.

5 Ibrahim ´Abd al-Qadir al-Mazini (em árabeابراهيم عبد القادر المازنى) O Cairo, 19 de agosto de 1889 ou 1890 – 12 de julho ou 10 de agosto de 1949), poeta, romancista, jornalista e tradutor egípcio.

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (III), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (III), por André Da Ponte

Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – III

إبراهيم طوقان

O fedai3

Não rogueis a salvaguarda para ele

que o seu espírito ainda mais que a paz vale.

As mágoas dispuseram já a sua mortalha

e a chegada da hora atroz tão só aguarda.

Detido, no umbral,

arrepia o perverso quando o vê

e o furacão sossega, envergonhado,

em presença da sua valentia.

Não fala, e se o faz,

é sangue e fogo a sua voz.

Diga-lhe então a quem estraga o seu silêncio

que é muda a firmeza,

que um homem com a mão trabalha,

não com a boca.

Deixai de criticá-lo!

Ele enxergou a verdade e o direito opressos:

um país que ama,

os seus firmes baluartes derrubados,

e malvados contrários

confundindo céu e terra.

Houve, num quase nada, morrer

em desespero, porém…

Não, que no umbral,

assegurado,

o malvado arrepia quando o olha.

E o furacão sossega envergonhado,

quando fita a sua bravura.

Mil

Há um número negro que o treze não é,

mas põe-lhe o pé por diante em falcatruas:

O número mil. Jamais fora batida

Palestina com tanta e tanta fúria.

Há um milhar que emigra… Outros mil escapam

e mil turistas que entram, sem retorno.

Há mil salvo-condutos e também mil modos

de diminuir-lhes todos os obstáculos.

E no mar há milhares… Semelham que as suas ondas

vão carregadas todas de navios.

Ó filhos do meu povo!

Talvez se desperta após o sonho?

Nesta espessa sombra algum lôstrego* haverá?

Meu Deus, eu não o sei! E assim, desesperado,

clamarei por Amim ou invoco Rágueb?

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3 Homem consagrado em cheio à luita patriótica.