Para o amigo Xabier P. Docampo: así gratitude e memoria na posteridade.
I
Sabemos do territorio. De como a infancia marca os corpos para configurar a filiación da carne. E bordeamos as lagoas, as extensas pradarías de Ávalon onde o froito se ofrece perpetuo. E bordeamos os sinuosos meandros do Minius, falamos dos cáncaros que circundan o leito: a certa distancia prudencial. Coñecemos a transhumancia da pel sobre o mineral que nos invoca.
Existe a radiografía da dor: esta precede sempre ao nervio. Os camiños da luz son premisa. Os camiños da luz son premisa. Pero a primeira luz procede do incendio, se é que define na implosión.
O frenesí das aves nas márdeas da Patria. Falo de como o lavanco aterra nos peitorís das regas de Riba da Insua. Falo das aves que evitan migrar por temor á muda. A muda na retina dos tempos.
Aquí un piar contra o holocausto do idioma.
Poñemos en pé o mercurio para acender unha estrela na memoria de todos os mortos que estercan os campos da Chá.
Non hai cesión, senón prevalencia: creme cando falo de historias que naufragan pero manteñen os mastros baixo as augas da barbarie.
A escrita repousa, reafirma, exércese a sabendas.
II
Sabemos do territorio. De como a infancia marca os corpos para configurar a filiación da carne. Ti filiación e territorio. Árbore que sostén a folla cando amence o frío.
Podes fitar o Sol e reflectir a luz de todos os nenos que impelen a lingua.
III
Coñecemos a túa temperatura. Quizais. Para que tan só os vestixios regresen nun calafrío.
Coñecemos o teu labio para que o resto da vida te amose en curvatura.
*Imaxe: Exteriores do cinema Imperial da Feira do Monte, onde pasou boa parte da súa infancia Xabier P. Docampo; amais de ser eixe pivotante da súa derradeira novela (A nena do abrigo de astracán).
11 Na noite do 9 ao 10 de Abril de 1948 a organização terrorista Irgum comandada por Menahim Beguim, depois Primeiro Ministro de Israel, com a colaboração de outro grupo terrorista dos sionistas, o Stern, perpetrou a horrível matança de 254 pessoas – entre elas 35 mulheres grávidas a quem os energúmenos não duvidaram em fender-lhes o ventre -, crianças e idosos, na aldeia árabe dos arredores de al-Quds (Jerusalém) do mesmo nome. Os assassinos atiraram depois os cadáveres mutilados aos poços para que ninguém pudesse beber da sua água. Jaques de Reyner, delegado da Cruz Vermelha, escreveu a este respeito: “Trescentas pessoas foram mortas sem motivo militar algum, ou provocação de qualquer espécie: anciãos, mulheres e meninhos* foram selvagemente assassinados com granadas ou esfaqueados por tropas judias do Irgum” Vede: Víctimas de ayer, verdugos de hoy de Juan Larra, Editorial Fundamentos, Madrid, 1981, págs. 31-32; Palestina. Tierra de luz y sombra, Mohamed Safa, Ed. do autor, Vigo, 1991, pág. 58 e Sumud. Conversación con Palestina, Xavier Navaza, Fundación Araguaney, A Corunha, 2003, págs. 55-56. É impossível, até para a historiografia sionista, encobrir semelhantes atrocidades, se bem tratarão de justificá-las: “Ambas organizações (Etzel e Lehi) atacaram a aldeia árabe de Deir Iasseem (…) Durante este ataque morreram perto de 200 povoadores, entre eles também mulheres e crianças. A Hagana reprovou a matança, e o Etzel tentou explicar que a mesma não fora premeditada.” E, cinicamente, em nota: “A população árabe de Deir Iasseem fora advertida antecipadamente polo* Irgum, aconselhando-a para abandonar as suas casas. Alfim, os árabes da aldeia determinaram ficar e pelejar. Conste: em Deir Iassem houve batalha, não foi um progromo!” Historia del Estado de Israel, Shlomo Ben Ami e Zvi Medin, Ediciones Rialp, S.A., Madrid, 1992, pág. 77.
Yabra Ibrahim Yabra nasceu em Belém em 28 de Agosto de 1920 numa família cristã muito humilde. Com enorme esforço dele e dos pais cursou estudos na Universidade de al-Quds (Jerusalém) e mais tarde nas de Exeter e Cambridge (Grã-Bretanha) e em Harvard nos Estados Unidos. Em 1948, após a criação do Estado de Israel, foi obrigado a fugir da Palestina, com milhares de compatriotas seus, abandonando a sua casa de estreia em Jerusalém logo do bombardeamento polas* tropas sionistas do hotel Semiramis onde tantas pessoas inocentes de todo morreram. Após vários tentos ineficazes de ministrar aulas em Beirute e Damasco, estabeleceu-se em Iraque com contrato de professor na Universidade de Bagdade. Lá, conhece um grupo de poetas fundamentais na historia recente da poesia árabe moderna, dentre eles Buland al-Haidari, Nazik al-Malaika, Badr Shakir al-Saab e Abd al-Wahhab al-Bayati. Eles darão ao lume uma nova poesia que desbaratará todos os arquétipos técnicos e temáticos moldurados em catorze séculos.
Para Yabra Ibrahim a poesia “Pode ser considerada como débil demais, um brinquedo que se atira contra as espingardas, mas às vezes é tão boa como a dinamita. Patenteia todo o sofrimento e a cólera duma nação, cristaliza posições políticas por meio de linhas que, memorizadas polos* velhos e os novos, vigora a resistência popular e proporciona a palavra de ordem comum”.
Uma imensa curiosidade fez-lhe percorrer quase todos os gêneros: narrativa, ensaio, além da continua adição poética e pictórica. O intenso labor intelectual do poeta de Belém foi reconhecido com prémios numerosos como The Targa Europa Prize for Culture, Roma, 1983, o primeiro prémio da Kuwaiti Foundation for Scientific Achievement, en 1987, o Prémio Nacional Iraquiano de romance em 1988, a Medalha das Letras e das Artes de Jerusalém em 1990, a Medalha das Letras da Tunícia em 1991, o prémio da Universidade de Colúmbia ao seu trabalho de tradutor. Entre 1982 e 1990 foi eleito Presidente da União de Críticos Iraquianos; também fez parte da União de Escritores do Iraque e da Associação Internacional de Críticos da Arte, sediada em París e Membro de honra das Associações de Tradutores Iraquianos e da de Artistas do Iraque. O seu nome resoou várias vezes como candidato para o prémio Nobel de Literatura.
Yabra Ibrahim Yabra faleceu em Bagdade dum ataque ao coração o dia 12 de Dezembro de 1994.
Entre as obras poéticas são de destaque: Tammuz fi-l-madina (Adonis na cidade), 1959; Al-madar al-muglaq (A órbita fechada), 1964; Lawat al-shams (Aflição do sol), 1978.