Das extensas pradarías de Ávalon

Das extensas pradarías de Ávalon

Para o amigo Xabier P. Docampo: así gratitude e memoria na posteridade.

 

I

Sabemos do territorio. De como a infancia marca os corpos para configurar a filiación da carne. E bordeamos as lagoas, as extensas pradarías de Ávalon onde o froito se ofrece perpetuo. E bordeamos os sinuosos meandros do Minius, falamos dos cáncaros que circundan o leito: a certa distancia prudencial. Coñecemos a transhumancia da pel sobre o mineral que nos invoca.

Existe a radiografía da dor: esta precede sempre ao nervio. Os camiños da luz son premisa. Os camiños da luz son premisa. Pero a primeira luz procede do incendio, se é que define na implosión.

O frenesí das aves nas márdeas da Patria. Falo de como o lavanco aterra nos peitorís das regas de Riba da Insua. Falo das aves que evitan migrar por temor á muda. A muda na retina dos tempos.

Aquí un piar contra o holocausto do idioma.

Poñemos en pé o mercurio para acender unha estrela na memoria de todos os mortos que estercan os campos da Chá.

Non hai cesión, senón prevalencia: creme cando falo de historias que naufragan pero manteñen os mastros baixo as augas da barbarie.

A escrita repousa, reafirma, exércese a sabendas.

 

II

Sabemos do territorio. De como a infancia marca os corpos para configurar a filiación da carne. Ti filiación e territorio. Árbore que sostén a folla cando amence o frío.

Podes fitar o Sol e reflectir a luz de todos os nenos que impelen a lingua.

 

III

Coñecemos a túa temperatura. Quizais. Para que tan só os vestixios regresen nun calafrío.

Coñecemos o teu labio para que o resto da vida te amose en curvatura.

 

*Imaxe: Exteriores do cinema Imperial da Feira do Monte, onde pasou boa parte da súa infancia Xabier P. Docampo; amais de ser eixe pivotante da súa derradeira novela (A nena do abrigo de astracán).

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IX)

Yabra Ibrahim Yabra

جبرا إبراهيم جبرا

Bocal do poço

(Na matança de Deir Iaseem11, o inimigo atirou os cadáveres das vítimas no poço da aldeia)

Bocal do poço,

ponto para o encontro em jogos das mãos dos infantes

com a selha vertendo

água nos cântaros

entre cantos e risos.

Sacrificou-os talvez a boca do túmulo?

É que a boca do curral alimenta-se com meninhos*

e mulheres grávidas que vertem

o sangue lixado polas* balas?

secaram os racimos no seu redor?

queimou-se o trigo? Verteram-se

os odres de óleo no alforje de pedra

e sobre ela está de novo a cruz de Cristo?

O bocal do poço é para nós o segundo Gólgota.

Agromará* da sua boca ensanguentada

ardente lava negra

com a carne das crianças e das mulheres grávidas

para abater

os que a morte semearam

e abutres alimentaram na terra nossa.

da sua inundação sagra e fértil

hão renascer

todas as aldeias nossas.

http://yaeni.com/Files/art_img/20130415-211443214214434.jpg

 

11 Na noite do 9 ao 10 de Abril de 1948 a organização terrorista Irgum comandada por Menahim Beguim, depois Primeiro Ministro de Israel, com a colaboração de outro grupo terrorista dos sionistas, o Stern, perpetrou a horrível matança de 254 pessoas – entre elas 35 mulheres grávidas a quem os energúmenos não duvidaram em fender-lhes o ventre -, crianças e idosos, na aldeia árabe dos arredores de al-Quds (Jerusalém) do mesmo nome. Os assassinos atiraram depois os cadáveres mutilados aos poços para que ninguém pudesse beber da sua água. Jaques de Reyner, delegado da Cruz Vermelha, escreveu a este respeito: “Trescentas pessoas foram mortas sem motivo militar algum, ou provocação de qualquer espécie: anciãos, mulheres e meninhos* foram selvagemente assassinados com granadas ou esfaqueados por tropas judias do Irgum” Vede: Víctimas de ayer, verdugos de hoy de Juan Larra, Editorial Fundamentos, Madrid, 1981, págs. 31-32; Palestina. Tierra de luz y sombra, Mohamed Safa, Ed. do autor, Vigo, 1991, pág. 58 e Sumud. Conversación con Palestina, Xavier Navaza, Fundación Araguaney, A Corunha, 2003, págs. 55-56. É impossível, até para a historiografia sionista, encobrir semelhantes atrocidades, se bem tratarão de justificá-las: “Ambas organizações (Etzel e Lehi) atacaram a aldeia árabe de Deir Iasseem (…) Durante este ataque morreram perto de 200 povoadores, entre eles também mulheres e crianças. A Hagana reprovou a matança, e o Etzel tentou explicar que a mesma não fora premeditada.” E, cinicamente, em nota: “A população árabe de Deir Iasseem fora advertida antecipadamente polo* Irgum, aconselhando-a para abandonar as suas casas. Alfim, os árabes da aldeia determinaram ficar e pelejar. Conste: em Deir Iassem houve batalha, não foi um progromo!Historia del Estado de Israel, Shlomo Ben Ami e Zvi Medin, Ediciones Rialp, S.A., Madrid, 1992, pág. 77.

O mundo fala galego: “Poema de amor em outono”, de Toño Núñez

O mundo fala galego: “Poema de amor em outono”, de Toño Núñez

Poema de amor em outono

 

Bate o vento do outono

na fiestra dos meus dias.

As feridas da ilusão

vão fechando.

Mareleam as folhas dos castiros

no Souto Escuro.

Como os meus cabelos.

Se miro para atrás

já me perdo na distância

do caminho andado.

Pero abisco, ao longe,

a infância.

Mas, ainda vou

como um neno desprezado

polos nenos

enchendo os recunchos

baleiros que deixades.

Ainda miro cara abaixo.

Devecem as horas dos dias

como devece o meu capital

de vida…

Xá vou canso de dizer sim

quando penso não.

Pero sigo sendo covarde.

A pesar de que já sei

que valho tanto

como essa folha esmorecida,

como essa minúscula formiga.

O mesmo ca vós.

E já presinto a noite.

Pero não tenho medo.

 

Não,

não estou só.

À minha beira revoam

duas pombas brancas

Que enchem o ar

de esperança.

E sempre estás tu.

E as árvores que prantei.

A tua voz quente

escorrenta o frio

dos meus pesadelos.

As tuas mãos resgatam-me

da cova dos agoiros

quando me perco.

Pero voltarei dizer que sim

ainda que pense o contrário.

Como um náufrago

que luta sem forças

no mar da incompreensão.

E sucumbe.

E seguirei fazendo versos

para vingar-me.

Vingar-me?

De quem?

Eu que sei…

Ai, a poesia…

Onde vai a poesia

do home?

Quem mudou a poesia?

Perco-me no labirinto

das palavras opacas

que pesam como lousas,

Pero sigo aqui,

teimudo,

amoreando lenha

para o inverno.

A primavera foi dura

e fria.

Avondosa em desejos.

Avondosa em carências.

Avondosa em complexos.

Pero descobri o amor.

E também o sexo:

esa força que sai

dos adentros

irreprimível, misteriosa…

e vai deixando trás de si

um ronsel de vida.

E morte.

O sexo pode-o todo.

Pero ja não é o que era…

E chegou o vrão.

E trouxe-te à minha beira.

E vi a luz

nos teus olhos

que vieram para alumar

o meu caminho de névoas.

Como fachos trermeluzentes

no cárcere escuro

das minhas soidades.

E o frio baleiro

do desamor

derreteu-se nos teus beiços.

E o sexo deixou de ser

desejo.

E sementamos juntos

a vida…

E já temos colheita.

 

Bate na fiestra

dos meus dias

o vento do outono

para lembrar-me que existo.

Seguem matando os homens.

Uns em nome do poder

que conquistaram.

Outros por acadá-lo.

Outros…

Non sei por quê.

Mas eu, engaiolado,

resisto

a carão do teu lume.

Pero… ai,

não o esqueço.

Um dia chegará

a noite.

Quiçá no inverno…

Aguardarei por ela

ao teu abeiro.

 

Toño Núñez (Poemas de amor en Outono. Fachinelo, 2014)

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (VIII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (VIII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (VIII)

 

Yabra Ibrahim Yabra

جبرا إبراهيم جبرا

Yabra Ibrahim Yabra nasceu em Belém em 28 de Agosto de 1920 numa família cristã muito humilde. Com enorme esforço dele e dos pais cursou estudos na Universidade de al-Quds (Jerusalém) e mais tarde nas de Exeter e Cambridge (Grã-Bretanha) e em Harvard nos Estados Unidos. Em 1948, após a criação do Estado de Israel, foi obrigado a fugir da Palestina, com milhares de compatriotas seus, abandonando a sua casa de estreia em Jerusalém logo do bombardeamento polas* tropas sionistas do hotel Semiramis onde tantas pessoas inocentes de todo morreram. Após vários tentos ineficazes de ministrar aulas em Beirute e Damasco, estabeleceu-se em Iraque com contrato de professor na Universidade de Bagdade. Lá, conhece um grupo de poetas fundamentais na historia recente da poesia árabe moderna, dentre eles Buland al-Haidari, Nazik al-Malaika, Badr Shakir al-Saab e Abd al-Wahhab al-Bayati. Eles darão ao lume uma nova poesia que desbaratará todos os arquétipos técnicos e temáticos moldurados em catorze séculos.

Para Yabra Ibrahim a poesia “Pode ser considerada como débil demais, um brinquedo que se atira contra as espingardas, mas às vezes é tão boa como a dinamita. Patenteia todo o sofrimento e a cólera duma nação, cristaliza posições políticas por meio de linhas que, memorizadas polos* velhos e os novos, vigora a resistência popular e proporciona a palavra de ordem comum”.

Uma imensa curiosidade fez-lhe percorrer quase todos os gêneros: narrativa, ensaio, além da continua adição poética e pictórica. O intenso labor intelectual do poeta de Belém foi reconhecido com prémios numerosos como The Targa Europa Prize for Culture, Roma, 1983, o primeiro prémio da Kuwaiti Foundation for Scientific Achievement, en 1987, o Prémio Nacional Iraquiano de romance em 1988, a Medalha das Letras e das Artes de Jerusalém em 1990, a Medalha das Letras da Tunícia em 1991, o prémio da Universidade de Colúmbia ao seu trabalho de tradutor. Entre 1982 e 1990 foi eleito Presidente da União de Críticos Iraquianos; também fez parte da União de Escritores do Iraque e da Associação Internacional de Críticos da Arte, sediada em París e Membro de honra das Associações de Tradutores Iraquianos e da de Artistas do Iraque. O seu nome resoou várias vezes como candidato para o prémio Nobel de Literatura.

Yabra Ibrahim Yabra faleceu em Bagdade dum ataque ao coração o dia 12 de Dezembro de 1994.

Entre as obras poéticas são de destaque: Tammuz fi-l-madina (Adonis na cidade), 1959; Al-madar al-muglaq (A órbita fechada), 1964; Lawat al-shams (Aflição do sol), 1978.

Galerias

Não quisera, não quisera eu

fugir do meu labirinto,

do labirinto dos meus,

dos meus companheiros,

onde os mosquitos da corrupção supuram

enquanto à morte se resignam

dia por dia.

Durante a vida toda se dilata a morte

como uma eternidade.

Não quisera, não quisera eu

contar o meu labirinto,

eu, que são livre, livre

entre três valados

e o quarto é uma galeria que se dilata

como a eternidade.

Não quisera, não quisera eu contar

o meu êxodo

dum quarto para outro quarto

e um tenebroso vazio onde

o eco dos longínquos cascos

não cessa de ferir as minhas pupilas.

Como a eternidade se dilata

desde a terra da ausência

para a terra da ausência.

Ainda assim

na palavra livre achei

a minha saída.

Por fim na palavra encontrei

uma saída para o espaço

que perante mim se dilata

como uma eternidade.

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