ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (III), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (III), por André Da Ponte

Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – III

إبراهيم طوقان

O fedai3

Não rogueis a salvaguarda para ele

que o seu espírito ainda mais que a paz vale.

As mágoas dispuseram já a sua mortalha

e a chegada da hora atroz tão só aguarda.

Detido, no umbral,

arrepia o perverso quando o vê

e o furacão sossega, envergonhado,

em presença da sua valentia.

Não fala, e se o faz,

é sangue e fogo a sua voz.

Diga-lhe então a quem estraga o seu silêncio

que é muda a firmeza,

que um homem com a mão trabalha,

não com a boca.

Deixai de criticá-lo!

Ele enxergou a verdade e o direito opressos:

um país que ama,

os seus firmes baluartes derrubados,

e malvados contrários

confundindo céu e terra.

Houve, num quase nada, morrer

em desespero, porém…

Não, que no umbral,

assegurado,

o malvado arrepia quando o olha.

E o furacão sossega envergonhado,

quando fita a sua bravura.

Mil

Há um número negro que o treze não é,

mas põe-lhe o pé por diante em falcatruas:

O número mil. Jamais fora batida

Palestina com tanta e tanta fúria.

Há um milhar que emigra… Outros mil escapam

e mil turistas que entram, sem retorno.

Há mil salvo-condutos e também mil modos

de diminuir-lhes todos os obstáculos.

E no mar há milhares… Semelham que as suas ondas

vão carregadas todas de navios.

Ó filhos do meu povo!

Talvez se desperta após o sonho?

Nesta espessa sombra algum lôstrego* haverá?

Meu Deus, eu não o sei! E assim, desesperado,

clamarei por Amim ou invoco Rágueb?

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3 Homem consagrado em cheio à luita patriótica.

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (II), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (II), por André Da Ponte

DA ANTOLOGIA DA POESIA PALESTINA CONTEMPORÂNEA

Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – II

إبراهيم طوقان

Em Beirute

Dizem em Beirute: com abundância vivia.

Vendeis vós a terra e entregam-vos eles o ouro.

Vizinho, sossegue: Desde quando se estima felicidade

que milhares morram para se enriquecer um só?

Quem este ouro dá, demais sabe que

a gente que faz brindes com a mão direita, com a esquerda apanha.

Ora o país é nosso! Como é que podem os seus tesouros

e o seu ouro igualá-lo?

Fazeis-vos ricos em vendendo aos judeus a terra.

Corações mortos

Os que vendem a terra com lágrimas têm-no expiado,

mas as planícies e os outeiros maldiçoam-nos ainda.

Os agentes que com a minha pátria especularam

claramente a Deus não temem por tê-la vendido

ataviados com ostentosas roupas,

cheios da mais desprezível hipocrisia,

enganosas expressões que o rubor não conhece

e peitos como espantosos túmulos

para os seus corações mortos e sepultados.

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