Abu Salma

(Abd al-Karim al-Karmi)

عبد الكريم الكرمي

Abd al-Karim al-Karmi, mais conhecido na história da literatura polo* seu pseudônimo de Abu Salma, nasceu em Tulkarém em 1909. Seguindo o pai, fez estudos em Damasco (Síria), As-Salt (Jordânia) e mais outra vez em Damasco, onde obtém o título de bacharel. Volta à pátria para ministrar aulas como professor de língua árabe ao tempo em que trabalha na emissora de rádio dirigida por Ibrahim Tuqan.

Desde muito jovem participa nas manifestações contra o colonialismo e em 1930 um poema seu, “Palestina”, converte-se num canto à solidariedade de todos os povos oprimidos do mundo:

“… revelando-se contra a opressão, a ignorância e a pobreza

para criar uma pátria universal

onde a igualdade seja de todos os homens”.

A rebelião em toda Palestina contra a ocupação colonialista, a morte do guerrilheiro al-Qassam4 e a provocação do Alto Comissariado britânico quando instalou a sua residência no alto do monte al-Mukabbir, beira de Jerusalém, inspira-lhe um poema que se converte em manifesto dos combatentes palestinos (poema VI da nossa antologia). Este poema causa a sua expulsão das atividades docentes e tem de sair para Haifa onde exerceu como advogado até 1948 (ele obtivera a titulação em Direito no Instituto de Jerusalém). Durante muito tempo tão só as publicações do Partido Comunista deram-lhe oportunidade de publicar, desde que a burguesia árabe interditara-lhe editar em quaisquer dos jornais e revistas por ela controladas. É nas páginas dos comunistas onde o poeta pode exprimir as vontades que latejam nos corações do povo palestino. Assim, quando Abu Salma publica num jornal comunista o poema Versos em Chamas, os militantes do Partido Comunista Palestino clandestinamente distribuem-no, os versos circulam entre o povo em cópias manuscritas e são recitados nas moradas ou em reuniões clandestinas. Os portadores que são apanhados com um manuscrito do poema são imediatamente presos polos* ocupantes britânicos.

Em 22 de Abril de 1948, a cidade de Haifa cai nas mãos dos sionistas, apoiados polos* tanques da ocupação britânica. Abu Salma, como milhares de muçulmanos e cristãos árabes, tem de sair para o exílio de Akka. Leva consigo como única possessão numa pequena maleta um romance sobre a revolução de al-Qassam com uma introdução escrita por Ibrahim Abd al-Qadir al-Mazini5.

Combatente internacionalista convencido, Abd al-Karim al-Karmi fez parte do Conselho Universal da Paz e das Comissões Afro-Asiáticas de Solidariedade. Em 1978 a União de Escritores de Ásia e África concedera-lhe o galardão Lótus (de natureza parelha ao Nobel) e em 1980 é eleito por unanimidade presidente da União Geral de Escritores e Jornalistas Palestinos.

Errante polo* mundo e predicando por toda parte e palestra a justa luita* do povo palestino a morarem, amarem, trabalharem e mesmo falecerem na sua terra muitas vezes milenária morreu, sem poder voltar à pátria, em 11 de Outubro de 1980 em Damasco. O povo aguarda que, a não muito tardar, os seus veneráveis ossos repousem afinal na nunca esquecida terra de Tulkarém.

Palestina amada

Palestina amada, como podo* eu dormir

quando os espectros torturam meus olhos?

No teu nome saúdo o largo mundo,

mas as caravanas dos dias se passam

assoladas por conspirações de amigos e inimigos.

Amada Palestina, como irei viver

afastado dos teus chãos e outeiros?

Chamam-me os vales e os litorais

queixam-se ecoando nos ouvidos dos tempos;

as fontes, com desavença, também choram ao pingar.

As tuas cidades e lugares reverberam os prantos.

Haverá um retorno, perguntam os meus camaradas,

uma volta depois de tanta longa ausência?

Sim, voltaremos e bicaremos* a terra molhada,

enquanto florir o amor nos lábios nossos.

Regressaremos algum dia, logo que as gerações escuitem*

os ecos das nossas pisadas.

Como tormentas furiosas retornaremos,

lôstregos* sagrados e lume,

esperança elevada e cantigas,

altas águias

quando o alvor sorri nos desertos.

Haveremos voltar alguma manhã cavalgando no cimo da onda,

com os nossos estandartes ensanguentados drapejando

sobre o fulgor das lanças.

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4 Izzedin al-Qassam (em árabe: عزّ الدين القسّام; também transcrito como Izz ad-Din al-Qassam ou al-Kassam; nome completo: Izzedin ibn Abdelkader ibn Mustafa ibn Yusuf ibn Muhammad al-Qassam, Jableh (Noroeste da Síria), 19 de novembro de 1882 Nazlat ash-Sheikh Zeid (Norte da Cisjordânia), 20 de novembro de 1935) foi predicador árabe e clérigo do Islão suni durante o Mandato Britânico da Palestina. Em 1930, al-Qassam fundou al-Kaf al-Asuad (A Mão Negra), o primeiro grupo de resistência anti-sionista palestino.

5 Ibrahim ´Abd al-Qadir al-Mazini (em árabeابراهيم عبد القادر المازنى) O Cairo, 19 de agosto de 1889 ou 1890 – 12 de julho ou 10 de agosto de 1949), poeta, romancista, jornalista e tradutor egípcio.