ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XIII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XIII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XIII)

Fadwa Tuqán

فدوى طوقان

Fadwa Tuqán nasceu em 1917 na cidade de Nablusa. Conhecida no mundo árabe como a poetisa da Palestina é um das raras vozes femininas da poesia do meio oriente árabe, além de ser a fundadora dum centro de investigações sobre a situação das mulheres árabes em geral e palestinas em particular na sua cidade natal. Iniciada por seu irmão, o também poeta Ibrahim Tuqán, começou a publicar com o pseudônimo de Dananir os seus primeiros poemas compostos quase na sua totalidade de elegias fúnebres onde a natureza, o amor, a tristeza e a soidade conjugam-se num todo harmonioso. Após a Naqba (o Desastre) de 1967 e a ocupação da Cis-Jordânia e da Faixa de Gaza a sua poesia torna-se um elemento de luita.

Fadwa Tuqán morreu num hospital de Nablusa, após estar vários dias na coma, na noite da sesta-feira do 12 de Dezembro de 2003.

Não chorarei

(Elegia para os poetas da resistência)

Às portas de Jafa, meus amigos,

e entre o caos dos entulhos das casas,

entre a devastação e os espinhos,

disse aos olhos, sossegada:

Detei-vos… Choremos sobre as ruínas

dos que partiram deixando-as em abandono.

Por quem a construiu, a casa está chamando.

Por ele a casa está a dar a condolência.

E o coração, desfeito, geme.

E diz:

Que te fixeram* os dias?

Onde vão os que outrora

te moravam?

Soubeste deles?

Logo de se porem a caminho, deles soubeste?

Aqui sonharam, sim,

aqui estiveram,

e desenharam projectos para amanhã.

Mas, aonde vão os sonhos e amanhã?

E, onde,

onde eles?

Os resíduos da casa nada dixeram.

Lá só se expressou a ausência,

o calamento do silêncio, o abandono.

Ali amoroaram-se os mouchos* e os fantasmas,

estranhos nos rostos, nas mãos e a língua;

introduzindo-se na sua entranha,

dilatando nelas as suas origens.

Lá…

E tantas cousas mais…

Enquanto o coração afoga de tristezas.

Meus queridinhos!:

Limpei a cinzenta brétema* das pálpebras do pranto

para ir de vosso encontro.

Nos meus olhos tinha

uma lumeeira de amor e de esperança

em vós, no homem, e na terra.

Ai, vergonha, se fosse a vós

com a pálpebra trémula, molhada,

e o coração desesperado e roto!…

Acô* estou, meus caros, com vós;

para apanhar de vós uma brasa;

para aceitar-vos, lamparinas da noite!,

um pingo de azeite para a minha lâmpada.

Aqui estou, minhas jóias,

com a minha mão estendida para a vossa;

abaixando aqui, perante as vossas, a cabeça;

alçando a testa, com vós, ao sol.

Aqui estou, com vós,

rijos como as rochas dos montes nossos,

e vós aqui estais,

doces como as flores da nossa terra.

Como me hão esmagar as feridas?

Como me há poder machucar o desespero?

Como hei chorar perante vós?…

Juro, desde hoje, não chorar.

Queridinhos!:

Venceu o alazão do povo

o tropeço de ontem,

e além o rio, erguem-se os heróis.

Escutai bem atentos, que o alazão rincha*

confiado no seu assalto;

que ao bloqueio da escura desgraça escapa já,

e corre para o seu posto por cima do sol;

ao passo que compactos grupos de ginetes

abençoam-no e juram-lhe devoção,

espergem-no com fumo de limpas ágatas vermelhas,

com sangue de corais

dão-lhe dos seus despojos copiosa alfalfa

e aclamam-no, berrando:

Corre para o olho do sol!

Corre, alazão do povo!

Que és tu o sinal e o estandarte

e nós a coorte que te segue.

A maré já não pode deter

a paixão e a raiva;

Não pode cair já nas nossas frentes,

sem lutar, a fadiga,

nem quedos ficaremos

até termos postos fora espectros e sombras.

Meus caros!…Cândis da noite!

Irmãos na ferida!

Ó semente do trigo,

fermento secreto!

Ele morre para nos dar.

Dá-nos, aqui,

e dá-nos.

Percorro os vossos caminhos

e aqui estou, perante vós.

Junto e lavo as bágoas* de ontem

e planto-me, do mesmo modo que vós,

na minha terra e na minha pátria.

Igual a vós, vou semeando meus olhos

na senda do sol e a luz.

http://safa.ps/thumb.php?src=http://safa.ps/uploads//images/471b73a238065a84df535340113356c9.jpg&w=855&zc=1

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XII), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XII)

Moin Tawfiq Bisisu

معين بسيسو

Eu, Tu, Ele

No seu vocabulário não havia árvores

nem flores…

Não havia pássaros no seu vocabulário.

Só sabia o que lhe ensinaram:

matar pássaros

e dous pássaros matou,

odiar à lua

e à lua odiou,

ter coração de pedra

e um coração de pedra teve,

a berrar: “Viva o que seja!”

“Abaixo o que seja!”

“Morra o que seja!”

No seu vocabulário não havia árvores,

no seu vocabulário não havia

nem eu nem tu

pois tinha de matarnos

a mim e a ti.

Só sabia o que

lhe ensinadaram:

matarnos a mim e a ti.

Para uma turista americana

Após a Guerra dos Seis Dias – 1967

Poupe, senhora,

mas você apareceu quando

a mão do poeta fora cortada.

Que é o que há para vender no Leste?

Vendemos nós a uma turista velha

que chegara antes

o sepulcro de Saladino e a cidade de Hittim14.

Vendemos os jardins de Babilônia

nos mercados do mundo,

flor a flor e rebento a rebento.

E fizemos liquidação de dedos e anéis.

Apenas nos restam as Pirâmides,

mas são bem pesadas as suas pedras!

E a esfinge está ferida,

e há morrer se a tiramos fora desta terra,

ou se é que da sua frente não arranca o cuitelo*.

Perdoe, senhora, vendemos já o último ataúde,

atiramos no rio o último tinteiro

e temos degolado o último galo que cantava.

Não nos resta mais que Deus,

que foge para qualquer parte

como gazela perseguida por cães da partida.

A contrafracção dá-lhe caça

com o seu bom cavalo.

Perseguiremo-lo por toda parte

e o pilharemos para você.

Senhora, quem vendeu ao poeta também venderá Deus.

http://www.alnaked-aliraqi.net/files/2014/06/maein-2-269×300.jpg

14 Lugar da Palestina onde Saladino em 1187 venceu aos cruzados e se tornou o prelúdio da reconquista de Jerusalém.

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XI), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XI), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XI)

Moin Tawfiq Bisisu

معين بسيسو

 

Moin Bisisu nasceu em 1930 em Gaza. Após a implantação em 1948 do Estado israelense foi obrigado a escapar da Palestina para O Cairo onde estuda na Universidade Americana e depois para Bagdade. Membro muito activo do Partido Comunista, nunca renunciou às ideias dum mundo melhor e pola sua actividade política esteve encarcerado em Egipto entre 1955 e 1958 e, de novo, entre 1959 e 1962. Em 1953 volta para a Gaza por tempo muito breve. Uma peregrinação nos anos sessenta levá-lo-á desde O Cairo para Beirute, Damasco, Moscovo e de novo a Beirute onde residirá em começos de 1970 até 1982. Lá desenvolverá uma intensa actividade política e cultural (a editorial Dar al-Awda editará em dous volumes as suas Obras Completas e o mesmo fizera a direcção da versão árabe da revista Lótus) até a invasão sionista do Líbano em 1982. Durante o cerco à cidade escreve alguns dos mais intensos poemas, alguns deles mesmo em colaboração com outro grande poeta resistente: Makhmud Darwish. Foi, durante um tempo, responsável dos assuntos culturais da Secretaria da União Geral de Escritores Palestinos e membro do Conselho Nacional Palestino. Tem de partir para a Tunísia com o resto dos combatentes palestinos e mais tarde para a Alemanha Democrática e a Grã-Bretanha. Proposto candidato para embaixador da OLP em Moscovo, não chegou a ocupar o posto desde que morreu dum ataque de coração no Hotel Intercontinental da capital britânica em 25 de Janeiro de 1984.

Considerado pola* crítica como um dos mais inspirados poetas palestinos, recebe em 1981 a distinção Lótus da União dos Escritores Afro-asiáticos polos seus méritos literários.

Entre as suas obras há que salientar: Filastin fi al-Qalb (Palestina no coração, 1960), al-Ashjar Tamut Waqifah (as árvores morrem de pé, 1966), Ma‘sat Ernest Guevara (a tragédia de Ernesto Guevara, 1969), al-Zinj Thawrat (a revolta dos negros, 1970), Shamshun wa Dalila (Sansão e Dalila, 1971), Difa‘n ‘an al-Batal (na defesa do herói, 1975) e al-Na Khudhi Jadasi Kisa ´n min Raml (Agora, toma o meu corpo como um saco de areia, 1976).

 

Três muros para a câmara da tortura

 

À alva

Resistirei…

enquanto haja no muro uma página branca

e não se derretam os dedos da minha mão.

Alguém bate aqui

uma mensagem através do muro.

Os fios converteram-se em veias nossas,

as veias destes muros.

O nosso sangue verte-se todo

nas veias destes muros…

Uma mensagem através do muro:

Eles fecharam uma cela,

mataram um prisioneiro.

Abriram uma cela,

levaram um prisioneiro…

Ao meio-dia

Pusseram-me diante um papel,

pusseram-me diante um lápis,

meteram-me na mão a chave da minha casa.

O papel que quiseram lixar

disse: Resiste!

O lápis cuja frente quiseram desonrar

disse: Resiste!

A chave da minha casa disse:

em nome da cada pedra

da tua humilde morada, Resiste!

Um golpe no muro

é a mensagem duma mão quebrada

que disse: Resiste!

E a chuva cai

gotejando no teito* da cela de torturas.

Cada pinga brada: Resiste!

Ao pôr-do-sol

Ninguém está comigo,

ninguém escuita* a voz deste homem,

ninguém o vê.

Cada noite, quando os valos

e as portas se fecham…

sai das minhas sangrentas feridas

e caminha pola* minha cela.

Sou eu.

É como eu.

Vejo-o de meninho*

e de vinte anos.

É o meu consolo,

o meu único amor.

É a carta que cada noite escrevo

e o selo para o largo mundo

e um pequeno país.

Olhei-o esta noite

saindo das minhas feridas

melancólico, torturado, triste,

caminhando em silêncio, sem nada contar,

como se dissesse:

não volverás ver-me se confessas,

Se escreves…

http://www.pbc.ps/sites/default/files/field/image/1_279.jpg

#SalvemosOsFrescosDosVilares

#SalvemosOsFrescosDosVilares

Frescos únicos na Igrexa dos Vilares

Estamos diante dun serio perigo de desaparición definitiva dos frescos dos Vilares pola falta de sensibilidade das administracións a pesares de levar catro anos petando en tódalas portas e advertindo da degradación das pinturas murais, unha xoia da iconografia relixiosa da Terra Chá.

Mesmo coa aprobación na Comisión de Cultura do Parlamento Galego, non se teñen habilitado fondos nin posto de acordo as diferentes administracións para evitar o posíbel desastre patrimonial que tem sobrevivido cinco séculos e vai camiño de ser destruído en só 25 anos.

Estes elementos pictóricos fóronse conservando pola costume profiláctica desde o século XVI de calear as paredes para evitar a proliferación de pestes e enfermidades.

Datan, segundo un estudo de Juan M. Monterroso Montero, do Século XVI, probablemente de 1530 a 1540 na que coinciden tamén cos da igrexa de San Estevo de Parga e probablemente o autor, polas coincidencias iconográficas das pinturas, da autoría do Mestre de Parga, moi coñecido na época.

Os frescos sitúanse á dereita e á esquerda. Así na parede da esquerda á entrada representan tres escenas; a lamentación de Cristo Morto, a imposición da casulla a San Ildefonso e Santiago Matamouros. Os da parede á dereita da entrada representan ornamentos xeométricos e fragmento de escenas de paisaxe.

Deixamosvos aquí este estudo do profesor Monterroso para sensibilizar sobre este tesouro vilarego que devemos defender como respeito da nosa própria história e a dos nossos antepassados.

Nos próximos meses iniciaremos unha campaña para acadar a recuperación definitiva destas pinturas, unha xoia renacentista única e que foi testemuña do nacemento e despedida de milleiros de vilaregos e tamén visionada por milleiros de visitantes á Romaría dos Desamparados na busca de cura aos seus males.

Aguardemos que a Virxe e San Vicenzo axuden a preservar as paredes do seu templo e que vilaregos e vilaregas así como todos aqueles Chairegos  sensíveis co nóso património os apoien nesa labor.

Velaquí o enlace ao estudo antes citado.

 

Os Vilares Lareira de soños

ENTRE AS SOMBRAS DA NOITE

ENTRE AS SOMBRAS DA NOITE

Pérdome nas sombras… dunha noite 
onde ata a lúa se agocha de mín…

Escoito ó lonxe o triste ouvear
dun lobo solitario que ó ceo berra…


Corren as nubes cada vez máis mouras,
preñadas de tronos que ameazan con rachar
a miña sombra…


E o triste ouvear… segue ó lonxe
coma unha letanía nada no silencio,
que vai envolvendo o meu medo…
Lóstregos en darredor, lume celeste
que se acende no monte e disípase a escuridade
por cachos… de intre.


As sombras seguen a reinar cabo de mín.
Teño medo… da noite e dos seus meigallos.
Deste pesadelo que me pón bencellos
darredor das mans e amárranme forte… 


Caio de xeonllos no fondo do valado,
nunha gábea tan fonda coma o meu soño…


Abro os ollos, por entre as nubes
deste ceo anubrado a lúa ábrese camiño
e óllame dende o seu trono, dame alento…
o ouvear xa se escoita máis lonxe… máis lonxe, lastimeiro, preto da nada…
 


A luz da lúa racha as tebras… 


Os suores mollan o meu corpo espido,
na almofada descansa… o pesadelo. 


A respiración vólvese calma…
e os lobos seguen a ouvear… ó lonxe.