ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XI)

Moin Tawfiq Bisisu

معين بسيسو

 

Moin Bisisu nasceu em 1930 em Gaza. Após a implantação em 1948 do Estado israelense foi obrigado a escapar da Palestina para O Cairo onde estuda na Universidade Americana e depois para Bagdade. Membro muito activo do Partido Comunista, nunca renunciou às ideias dum mundo melhor e pola sua actividade política esteve encarcerado em Egipto entre 1955 e 1958 e, de novo, entre 1959 e 1962. Em 1953 volta para a Gaza por tempo muito breve. Uma peregrinação nos anos sessenta levá-lo-á desde O Cairo para Beirute, Damasco, Moscovo e de novo a Beirute onde residirá em começos de 1970 até 1982. Lá desenvolverá uma intensa actividade política e cultural (a editorial Dar al-Awda editará em dous volumes as suas Obras Completas e o mesmo fizera a direcção da versão árabe da revista Lótus) até a invasão sionista do Líbano em 1982. Durante o cerco à cidade escreve alguns dos mais intensos poemas, alguns deles mesmo em colaboração com outro grande poeta resistente: Makhmud Darwish. Foi, durante um tempo, responsável dos assuntos culturais da Secretaria da União Geral de Escritores Palestinos e membro do Conselho Nacional Palestino. Tem de partir para a Tunísia com o resto dos combatentes palestinos e mais tarde para a Alemanha Democrática e a Grã-Bretanha. Proposto candidato para embaixador da OLP em Moscovo, não chegou a ocupar o posto desde que morreu dum ataque de coração no Hotel Intercontinental da capital britânica em 25 de Janeiro de 1984.

Considerado pola* crítica como um dos mais inspirados poetas palestinos, recebe em 1981 a distinção Lótus da União dos Escritores Afro-asiáticos polos seus méritos literários.

Entre as suas obras há que salientar: Filastin fi al-Qalb (Palestina no coração, 1960), al-Ashjar Tamut Waqifah (as árvores morrem de pé, 1966), Ma‘sat Ernest Guevara (a tragédia de Ernesto Guevara, 1969), al-Zinj Thawrat (a revolta dos negros, 1970), Shamshun wa Dalila (Sansão e Dalila, 1971), Difa‘n ‘an al-Batal (na defesa do herói, 1975) e al-Na Khudhi Jadasi Kisa ´n min Raml (Agora, toma o meu corpo como um saco de areia, 1976).

 

Três muros para a câmara da tortura

 

À alva

Resistirei…

enquanto haja no muro uma página branca

e não se derretam os dedos da minha mão.

Alguém bate aqui

uma mensagem através do muro.

Os fios converteram-se em veias nossas,

as veias destes muros.

O nosso sangue verte-se todo

nas veias destes muros…

Uma mensagem através do muro:

Eles fecharam uma cela,

mataram um prisioneiro.

Abriram uma cela,

levaram um prisioneiro…

Ao meio-dia

Pusseram-me diante um papel,

pusseram-me diante um lápis,

meteram-me na mão a chave da minha casa.

O papel que quiseram lixar

disse: Resiste!

O lápis cuja frente quiseram desonrar

disse: Resiste!

A chave da minha casa disse:

em nome da cada pedra

da tua humilde morada, Resiste!

Um golpe no muro

é a mensagem duma mão quebrada

que disse: Resiste!

E a chuva cai

gotejando no teito* da cela de torturas.

Cada pinga brada: Resiste!

Ao pôr-do-sol

Ninguém está comigo,

ninguém escuita* a voz deste homem,

ninguém o vê.

Cada noite, quando os valos

e as portas se fecham…

sai das minhas sangrentas feridas

e caminha pola* minha cela.

Sou eu.

É como eu.

Vejo-o de meninho*

e de vinte anos.

É o meu consolo,

o meu único amor.

É a carta que cada noite escrevo

e o selo para o largo mundo

e um pequeno país.

Olhei-o esta noite

saindo das minhas feridas

melancólico, torturado, triste,

caminhando em silêncio, sem nada contar,

como se dissesse:

não volverás ver-me se confessas,

Se escreves…

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