por martinho | Jul 17, 2018 | Autores/as, Novas, Xeral
Axenda da semana:
_ Venres 20, dentro do “II ciclo de Música na Praza”, temos ás 20:30h Cuarteto de corda Castelao, na Praza Coronel Pena. (En caso de choiva no centro Cultural Recreativo).
__Sábado 21 ás 18:00h, continuamos co “Verán Activo”, este sábado temos a Javi Javichi con “Plato, platito, platete”, espectáculo de malabares, circo e clown.
_Sábado 21 ás 23:00h, continuamos coa mostra de verán Teatronoite coa obra “Maniféstate!!” da compañía Andaravía Teatro (A. C
. Papaventos), na Praza da Constitución. (En caso de choiva no Auditorio Carmen Estévez).
_ Domingo 22, “Festival Internacional de Folclore” coa participación de grupos de música e baile tradicional de catro países e coa participación de grupos de música tradicional do municipio.
Ás 19:30h participarán nun desfile con saída da Praza da Constitución que pasará polas rúas Basanta Silva e rúa da Pravia cunha comitiva de arredor de 300 persoas.
Ás oito comezará o festival na Praza da Constitución, e en caso de que o tempo non acompañe, as actuacións trasládanse ao auditorio municipal Carmen Estévez.
SALA DE EXPOSICIÓNS AUDITORIO
__14 de xullo ao 20 de agosto, IESCHA. Debuxos “Só lapis” de Jesús Trastoy.
por martinho | Jul 17, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXVI)
Makhmud Darwish
محمود درويش
Penúltimo discurso do índio perante o homem branco
há-vos faltar uma rocha que se resiste ao fluxo do veloz rio do tempo,
há-vos faltar uma hora para a contemplaçấo de qualquer cousa, para que amadureça em [vós
um céu indispensável para a terra, uma hora para duvidar entre dous
caminhos. Um dia há-vos faltar Eurípides e os poemas de Canaã e os babilônios.
Hão-vos faltar
as cantigas de Salomấo a Shulamite, a açucena da saudade.
Há-vos faltar, brancos, uma lembrança que adestre os cavalos da loucura
e um coraçấo que esfregue as rochas para que o brunissem na chamada dos violinos.
Falhar-vos-á uma trégua com os espectros nossos nas infecundas noites do inverno,
um sol menos aceso, uma lua menos cheia para que o crime apareça
menos majestoso na pantalha. Tomai o vosso tempo
para matar a Deus.
IV.
Nós sabemos o que encobre esta eloqüente ambigüidade
um céu que do nosso se pendura e fadiga a alma, um sabugueiro
que sobre os passos do vento anda, uma fera que erige um reino nos
buracos da atmosfera ferida e um mar que a madeira das nossas portas salga.
A terra nấo era mais pesada antes da criaçấo, mas
nós o soubemos antes de tempo. Os ventos hão nos contar
a origem nossa e o fim, mas hoje tiramos o sangue ao nosso presente
e soterramos os nossos dias na cinza dos mitos. Atenas nấo é para nós.
Conhecemos os nossos dias polo* fumo do lugar e Atenas nấo é para nós.
Estamos informados do que o senhor metal nos reserva
e reserva aos deuses que nấo protegem o sal do nosso pấo.
Sabemos que a verdade é mais forte do que a injustiça, que os tempos
mudaram desde que mudaram as armas. Quem alçará as nossas vozes
para uma chúvia seca nas nuvens? Quem limpará os nossos costumes
do fragor dos metais? «Anunciamos a boa nova da civilizaçấo», dissera o estrangeiro,
«Eu sou o senhor do tempo que veio para herdar a terra vossa.
Passai perante mim para que vos conte, cadáver a cadáver, sobre a superfície do lago»
«Anúncio-vos a boa nova da civilizaçấo» o estrangeiro dissera. «Que vivam os [Evangelhos. Passai
e andado despidos para que a alma do ar nos cobra com mulheres
que nos devolvam os presentes da natureza. A nossa história era a sua e o tempo tinha
um tempo para nascermos nela e para retornar dela para ela, restituindo à terra as [suas almas
com o sal e o azeite. Penduramos os seus nomes nos pássaros dos regatos.
Éramos os primeiros. Nấo havia lousado* entre o céu e o azul das nossas portas.
Nenhum cavalo pastava a erva das nossas gazelas nas pradarias. Estrangeiro nenhum
as noites das nossas mulheres trespassava. Deixai a flauta ao vento, que chore
polo povo deste lugar ferido que amanhã há chorar por nós.
Amanhã por nós chorará.
V.
Ao nos despedir das nossas lareiras nấo devolvemos a saudaçấo. Nấo nos ordeneis
os mandamentos do novo deus, deus do ferro, e nấo pedais
um pacto de paz aos mortos. Nấo resta nem um de vós
para anunciar-vos a paz de si para si e com os outros. Lá
mais teríamos vivido se nấo houvesse sido polas* espingardas inglesas, o vinho francês e [as febres.
Como há que viver vivíamos, na companhia do povo da gazela.
Cuidadosamente guardamos a nossa história oral e entregávamos as boas novas com inocência e margaridas.
é o rio, e se reparamos no rio, em nós o tempo chora.
Nấo lembrais um pouco de poesia para deter o morticínio?
Nấo nascestes de mulheres? Nấo mamastes, como nós,
O leite da saudade? Nấo pusestes, como nós, asas
para vos unir à andorinha? Nós anunciamos a primavera. Nấo tireis da bainha as armas.
Ainda poderíamos cambiar algumas dádivas e algumas cantigas.
Aí estava o meu povo. Aí jaz meu povo. Aí estão os castanheiros
que escondem as almas do meu povo. Meu povo há retornar em ar, luz e água.
Conquistai a terra da minha mấe pola* espada, mas nấo assinarei
o pacto entre a vítima e o seu assassino. Nấo assinarei
a venda dum palmo de espinheiro em redor dos campos de milho.
Sei que me despeço do último sol, que me envolvo no meu nome
e caio no rio. Sei que retorno ao coraçấo da minha mấe
para seres tu admitido no teu século, senhor dos brancos. Ergue sobre o meu cadáver
as estátuas duma liberdade que nấo devolve a saudaçấo e cava a cruz de ferro
na minha sombra de pedra. Montarei devagar aos cimos do canto,
ao hino do suicídio das comunidades na ocasiấo em que acompanhem a sua História à [distância.
Ceibarei* nelas aos pássaros das nossas vozes. Venceram aqui os estrangeiros
sobre o sal. O mar misturou-se com as nuvens. Venceram os estrangeiros
em nós à casca do trigo e dilataram as linhas do telégrafo e a corrente eléctrica.
Aqui o falcấo suicidara-se de tristeza. Venceram-nos aqui os estrangeiros
e nada restou em nós no tempo novo.
Evaporam-se aqui os nossos corpos, nuvem por nuvem, no espaço.
Aqui cintilam as nossas almas, estrela a estrela, no espaço do canto.
VI.
Decorrerá um longo tempo antes que o nosso presente em passado se converta, como [nós.
Haveremos marchar primeiramente para a nossa morte. Defenderemos as árvores que nos [cobrem
e o sino da morte. Uma lua que desejamos no alto das nossas cabanas defenderemos
e o aturdimento das nossas gazelas. A argila da nossa cerâmica defenderemos
e o nosso plumấo na asa das derradeiras cantigas. De aqui a um bocado
edificareis o vosso mundo acima do nosso. Projectareis o caminho dos nossos túmulos
em direcçấo à lua artificial. Este é o tempo das indústrias,
o tempo dos metais. O champanha dos poderosos nasce do carvấo.
Há mortes e colônias, mortos e calcadores, mortos
e hospitais, mortos e radares que vigiam os mortos
que mais uma vez morrem na vida e mortos
que após a morte sobrevivem, mortos que ao monstro das civilizações ensinam a morte
e mortos que morrem para transportar a terra sobre os restos.
Ó, senhor dos brancos, para onde levas o meu povo e o teu?
Rumo a que abismo leva à terra este robote armado até os dentes de aviões
e porta-aviões? Em direcçấo que muito extenso abismo vos elevais?
Tudo o que desejeis vosso é: a nova Roma, a Esparta da tecnologia
e
a ideologia da loucura.
E nós, fugiremos dum tempo para o que nấo preparamos ainda a nossa ideia.
caminharemos para a pátria do pássaro, como uma bandada humana de precursores.
Olharemos a nossa terra desde os calhaus da nossa terra, desde os furados das nuvens,
Olharemos a nossa terra desde as palavras das estrelas. Olharemos a nossa terra
desde o ar dos lagos, desde a penugem do tenro milho, desde
a flor das campas, desde as folhas do álamo, desde todo
quanto vos assedia, brancos, mortos que falecem, mortos
vivos, mortos que voltam à vida, mortos que espalham o segredo.
Outorgai um prazo à terra para que diga a verdade, toda a verdade
sobre vós
e sobre nós,
sobre nós
e sobre vós.
VII.
Há mortos que adormecem nos quartos que edificareis,
há mortos que visitam o seu passado nos lugares que demolis,
há mortos que passam sobre as pontes que tendes de construir,
há mortos que aclaram a noite das borboletas, mortos
que chegam à alvorada para tomar o chá convosco, tão tranquilos
como os deixaram os vossos fuziles. Consenti, convidados do lugar,
alguns escanos livres aos convidados para que vos leiam
as cláusulas da paz com os mortos.
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por martinho | Jul 16, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXV)
Makhmud Darwish
محمود درويش
Testemunho de Bertolt Brecht perante o tribunal militar
Senhor juiz:
eu nấo sou um soldado,
que é o que de mim quer?
Nada tenho a ver com o que assevera o tribunal.
sem ouvidos me prestar.
A guerra, caminho da taberna passou para colher alento…
Os seus pilotos sấos e salvos tornaram
e o céu quebrou-se na minha língua. Senhor
juiz – e isto bem que me toca-
os guardas seus escapam com o meu céu…
ao meu coraçấo assomam e atiram cascas de banana
ao poço. À carreira passam diante dos meus narizes
e dizem-me: boa tarde – bem que nấo sempre-
e metem-se no curral da minha casa… como se nada.
Adormecem no cimo da nuvem de meu sonho… como se tal cousa.
As minhas palavras dizem
no meu nome
na minha janela, ao verấo que ressumbra de jasmim,
e volvem tirar meu sonho
no meu nome.
Choram polos* meus olhos os meus velhos salmos da saudade
e, como eu cantei, à oliveira e à figueira cantam,
às partes e ao todo com uma lógica secreta.
A minha vida vivem com todo o prazer,
no meu nome,
e vadiam levando em riste o meu apelido…
E eu, senhoria, aqui estou,
perante o tribunal do passado, prisioneiro
duma guerra passada. Os seus oficiais voltaram sấos e salvos
e as videiras procriaram na minha língua. Senhor
a cela me afogasse, deu-me ar a terra toda.
Mas os seus guardas raivosos bisbilhotam as minhas palavras,
e bradam a Akhab e a Jezabel: em pé, herdade
a muito estimada vinha de Nabot!
Dizem: Deus nos pertence
e a terra de Deus
a ninguém mais pertence!
a um passageiro qualquer?
Num país onde a batalha reclama
das suas vítimas uma elegia aos galões!
Chegou o tempo de gritar
e libertar a minha voz da máscara da palavra:
isto é uma cela, senhoria, nấo um tribunal
e eu julgo e testemunho. Você é o acusado agora,
renuncie à sua cadeira e parta: é livre você, livre,
cativo Senhor juiz.
Os seus pilotos sấos e salvos tornaram
e o céu quebrou-se na minha língua primeira
-e isto bem que me toca – para que voltem
os nossos mortos– sấos e salvos.