ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXXI), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXXI), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXXI)

 

Makhmud Sobh al-Kurdi

مخمود صبح الكردي

Mahhmud Sobh al-Kurdi nasceu na pequena aldeia de Safad na Galileia, perto de Nazaré. É brutalmente expulso em Maio de 1948 ele e a sua família polos* tanques e os soldados do criado recém Estado sionista na Palestina.

Em Outubro de 1954, logo de ter superado os exames correspondentes é nomeado mestre de ensino primário na Síria. Em 1962 recebe o Diploma de Pedagogia pola* Universidade de Damasco.

Um poema seu dedicado ao poeta clássico al-Mutanabbi33 obtém em 1960 o prémio da Universidade de Damasco e em Julho de 1961 com outro poema, Epopéia Eterna, consegue o primeiro prémio do Certame convocado em Damasco pola* União de Universidades da R.A.U.

Em 1963 vemo-lo como professor na Escola Normal de Oram (Argélia) e em 1964 é nomeado director duma escola secundária em Homs (Síria).

Traslada-se para a Espanha em 1965 aceitando uma beca para fazer uma tese doutoral sobre a poesia clássica andalusi que defende com o título A poesia amorosa arábigo-andaluza obtendo a qualificação de sobressalente. É nomeado professor do Departamento de Árabe e Islã na Universidade Complutense de Madrid e professor de língua árabe na Escola Diplomática Espanhola em Outubro de 1973. Em 28 de Outubro de 1975 obtém um dos prémios Álamo de Poesia polo* seu Livro das Kasidas de Abu Tárek.

Em 22 de Janeiro de 1976 é homenageado no Palácio de Congressos e Exposições de Madrid polos embaixadores árabes na Espanha.

Outorgam-lhe os prémios Concelho de Rota e Cidade de Irún polo seu volume Possesso em Layla.

Em 1978 obtém o prestigioso prémio Vicente Aleixandre e ao seguinte ano concederam-lhe a nacionalidade espanhola.

A 1 de Janeiro de 1981 é nomeado chefe do Seminário de Estudos de Filologia, Literatura e Belas Artes no Instituto Hispano-Árabe de Cultura.

Em 1983 obtém o Prémio Nacional de Tradução e o dia 17 de Janeiro de 1985 é nomeado professor titular na Universidade Complutense de Madrid.

A 9 de Junho de 2001 toma possessão da Cátedra de Estudos Árabes e Islâmicos na Universidade de Madrid.

Prestigioso professor e erudito investigador tem dado, além duma insubstituível História da Literatura árabe clássica, uma formosa coleção de poemas femininos clássicos árabes do al-Ándalus sob o nome de Poetisas arabigo-andaluzas. Toda a sua obra poética está recolhida no livro Divan. Antes, Em, Depois, publicado em Madrid no ano 2001.

 

 

A aldeia ao pôr-do-sol

 

Fazia-se noite e os disparos na garganta da aldeia enrouqueceram.

Um silêncio solene, sem serenos reflexos, apoderou-se das ruas.

Inclinou-se para a terra o nevoeiro dando-lhe de mamar o seu carinho,

com os seus véus arroupava-a e com a sua própria boca estinguia o laído*.

Polas* veias do lugar um arrepio de espantosa morte andava em derredor,

alimentava-se dele o sossego e dos regatos das bágoas* bebia.

Como espectros de lobos quando o rebanho espreitam, achegava a noite.

Convulsos segundos foram os que a aldeia surprendida deixou passar.

Para esquadrinhar as ruas, minha mãe, tremente, medrosa, assomara a cabeça.

Olhava eu para ela, silente, num breve instante de terror e mudezes.

Os meus olhos espetara no candeeiro e vestido de palidezes mirei-me.

O sangue era tam só um carambano… Minha mãe exclamou:

Mataram os nossos homens, meu filho. Bestas às casas nossas se acercam.

Meu filho, foram assassinados os homens nossos. E agarrando-me as mãos botou-se a [fugir.

A praça da aldeia conquistaram já a récua dos deuses da Morte:

cadáveres espalhados. Um silêncio afogado em fiada de explosões.

De traje carmesim a brétema* cingia os rostos das vítimas

enquanto debandadas de fugitivos da Morte atingiam os caminhos

mas, dava-lhes alcance a Morte com o seu atroz exército de milhares de tropas.

Corriamos eu e minha mãe. As catástrofes, atrás nosso, apressavam também.

Os pés nos resgataram da Morte até que a fadiga nos rendeu.

O terror multiplicava a sua silhueta e espreitava às escondidas no silêncio.

A pergunta fervia-me nas entranhas: Mãe… Onde…

Onde… Onde vai o papá? E das pupilas escorreram-nos as lágrimas.

A nossa aldeia foi destroçada, meu filho, e mataram todos os moradores.

Só se salvou a desonra e a perversa maldição do destino.

Fitava em silêncio para a distante aldeia e em mim prendia o ódio no seu incêndio.

Vamos… que os pés prossegam o caminho, baldados e rendidos.

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33 Abu-l-Tayyib Ahmad ibn Husayn, mais conhecido como Al-Mutanabbi (Kufa (Iraque), 915 – Bagdade, 23 de setembro de 965) foi um poeta do califado abássida do século X e pertence a época neo-clássica. Entre os eruditos é comum afirmar que é o mais grande poeta árabe de todos os tempos.

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXX)

Ibrahim Nasralah

إبراهيم نصرالله

Dias

O primeiro dia

susteve a minha mão enquanto debuxava um ataúde.

Então me enviaram uma coroa.

No segundo dia

susteve a minha mão enquanto debuxava uma flor.

Então me enviaram um ataúde.

O dia terceiro bradei a voz cheia:

Quero viver.

Enviaram-me então um assassino.

Imigrante

Para todos os lados aonde os seus pés caminharam

eles chegavam,

Mas ele

não.

A pátria

Sob o jugo das nossas manhãs

Desfaz-se o sol.

E na escuridade dos nossos passos

A nossa agitada respiração se incendeia.

Estas pátrias incompletas nas que estamos em aparência

apenas prisioneiros de guerra.

A morte

Em tempos do meu avô

Chamavam-na: Turquia.

Em tempos de meu pai: Grã-Bretanha.

Nós chamamo-la: Estados Unidos de América.

Muito temos feito então.

Sabemos, polo* menos o que é,

para que os nossos filhos não mal gastem as suas vidas

buscando um nome

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