ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXV)

Makhmud Darwish

محمود درويش

Testemunho de Bertolt Brecht perante o tribunal militar

Senhor juiz:

eu no sou um soldado,

que é o que de mim quer?

Nada tenho a ver com o que assevera o tribunal.

O passado se passou com pressa…

sem ouvidos me prestar.

A guerra, caminho da taberna passou para colher alento…

Os seus pilotos sos e salvos tornaram

e o céu quebrou-se na minha língua. Senhor

juiz – e isto bem que me toca-

os guardas seus escapam com o meu céu…

ao meu coraço assomam e atiram cascas de banana

ao poço. À carreira passam diante dos meus narizes

e dizem-me: boa tarde – bem que no sempre-

e metem-se no curral da minha casa… como se nada.

Adormecem no cimo da nuvem de meu sonho… como se tal cousa.

As minhas palavras dizem

no meu nome

na minha janela, ao vero que ressumbra de jasmim,

e volvem tirar meu sonho

no meu nome.

Choram polos* meus olhos os meus velhos salmos da saudade

e, como eu cantei, à oliveira e à figueira cantam,

às partes e ao todo com uma lógica secreta.

A minha vida vivem com todo o prazer,

no meu nome,

e vadiam levando em riste o meu apelido…

E eu, senhoria, aqui estou,

perante o tribunal do passado, prisioneiro

duma guerra passada. Os seus oficiais voltaram sos e salvos

e as videiras procriaram na minha língua. Senhor

juiz – e isto bem que me toca – ainda que

a cela me afogasse, deu-me ar a terra toda.

Mas os seus guardas raivosos bisbilhotam as minhas palavras,

e bradam a Akhab e a Jezabel: em pé, herdade

a muito estimada vinha de Nabot29!

Dizem: Deus nos pertence

e a terra de Deus

a ninguém mais pertence!

Que é o que lhe pede, senhoria,

a um passageiro qualquer?

Num país onde a batalha reclama

das suas vítimas uma elegia aos galões!

Chegou o tempo de gritar

e libertar a minha voz da máscara da palavra:

isto é uma cela, senhoria, no um tribunal

e eu julgo e testemunho. Você é o acusado agora,

renuncie à sua cadeira e parta: é livre você, livre,

cativo Senhor juiz.

Os seus pilotos sos e salvos tornaram

e o céu quebrou-se na minha língua primeira

-e isto bem que me toca – para que voltem

os nossos mortos– sos e salvos.

29 Na história bíblica relata-se a maldição que caiu sobre o ímpio rei de Israel Akhab (874/73-853 a. de C.) e a sua linhagem por causa da conspiração de Jezabel, mulher do rei, para assassinar Nabot e roubar-lhe de tal modo a vinha que se negara a vender ao rei por ser um herdo dos seus [Livro Primeiro dos Reis 21, A Bíblia, págs. 370-371, SEPT, 2ª edição, Vigo, 1992]. Também: Oeming M., Nabot, der Jesreeliter, ZAW 98 (1986) 362-382.