ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XX), por André Da Ponte

ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XX)

Tawfiq Zayyadd

توفيق زيّاد

Quem haveria chegar a ser um grande poeta e militante comunista nasceu em 1929 em Nazaré (Annaçera). Em Moscovo estudou literatura russa traduzindo lá vários autores. Tomando parte na luita* polo* direito dos palestinos à sua terra e os direitos espezinhados polo* estado israelense num vergonhoso e insultante estado de apartheid, filia-se desde muito novo no Partido Comunista (Rakah).

Em Dezembro de 1975 sai eleito vereador-mor da cidade de Nazaré. O estado sionista fizera tudo o que tiver na sua mão para parar a eleição dum membro do Rakah, desde ameaças à população, oferecimentos à gente árabe de retorno de alguma terra se Zayyad não fosse eleito, ameaças veladas de atentar contra a sua vida, mesmo o ministro sionista do Interior, Moshe Barain, diz: “A população não deve imaginar que o estado de Israel permitiria que a administração da cidade caísse nas mãos de um agente admitido de Arafat”. As ameaças e as promessas caíram no vazio. Nazaré não tivera jamais nenhuma indústria, nem biblioteca pública, nem serviços sociais. Um muito dilatado tempo onde o “programa de desenvolvimento” sionista significou para o povo árabe mais confiscações das suas terras e a construção, em terras extraidas à população originária, duma cidade só para judeus na Galiléia superior. Muitos longos anos de repressão e cooperação dos líderes árabes locais leais a Israel impediram qualquer protesto dos árabes de Israel, explodiram naquele momento. Das janelas das suas casas muitos sonhavam voltar possuir a terra que cultivaram uma vez seus avôs, nem serem empregados como proletários em terras que tinham pertencido às suas famílias por gerações. Estavam prontos para resistir.

Eleito deputado na Knesset (Parlamento Israelense), tem afirmado da cidade da que foi máximo vereador: “Se Jesus vivesse hoje, não encontraria lugar para instalar a sua carpintaria”. Em 1976 liderou o “Dia da Terra”, não obstante a oposição dos Comitês dos notáveis locais.

Toda a sua obra está dominada por uma implicação inspirada polo* pensamento marxista. A sua rebeldia contra a injustiça e o desenraizamento da terra dos antepassados faz parte impartível da sua obra. Orgulhoso de contribuir para a salvaguarda dum rico patrimônio cultural, insere nos seus poemas cantigas populares, provérbios, legendas, contos do folclore palestino para não perder uma tradição em perigo pola* dispersão do seu povo, embora compor impecáveis poemas redigidos num límpeço e harmonioso árabe clássico.

Muitos dos seus poemas têm passado a integrar a memória popular ao serem musicados e cantados, tanto por artistas palestinos como do resto da arabofonia. O seu derradeiro poema, “Adnan wa Adnan Akhar“, refere o seu intenso amor pola* Palestina e resulta uma emotiva homenagem os rapazinhos da intifada de 1994. Pólo* seu labor em prol da cultura e as artes recebeu em 1990 a medalha al-Quds.

O grande poeta morreu por conseqüência dum funesto acidente de automóvel em 6 de Julho de 1994.

Em Julho de 1996 o ministério de Educação e Cultura palestino, em honra dele, estabeleceu um prémio com o seu nome para obras em crítica poética e literária.

O impossível


Mil vezes mais fácil há-vos ser
passar um elefante polo* furado* duma agulha,
pescar um peixe torrado numa galáxia,

abrir sulcos no mar
e fazer falar um crocodilo,
mil vezes mais fácil há-vos ser
do que, ao perseguir-nos, destruir
o fulgor da nossa ideia
ou um palmo afastar-nos do caminho que escolhemos.

Se diria que somos vinte prodígios
em Lidda, em Ramlah, em Galileia.
Aqui permaneceremos
sobre os vossos peitos como uma muralha,
nas vossas gargantas como um pedaço de vidro…
como o espinho dum cacto
e nos vossos olhos como tempestade de fogo.
Se diria que somos vinte prodígios

em Lidda, em Ramlah, em Galiléia.

Aqui persistiremos

contra os vossos peitos como uma muralha,

lavando pratos das vossas tabernas,

enchendo os copos dos senhores,

esfregando chãos das vossas lôbregas cozinhas,

para vos arrancar um anaco* de pão para os nossos filhos

dos vossos cárdeos caninos.

Aqui persistiremos,

contra os peitos vossos como um muro,

famintos, sedentos, desafiando-vos,

cantando versos,

enchendo as ruas com a nossa cólera e o nosso protesto,
cumulando de orgulho as cadeias

e fazendo com que os nossos filhos, sem parar,

engendrem gerações vingadoras.

Como se fôssemos vinte prodígios
em Lidda, em Ramlah, em Galileia…

Aqui permaneceremos.

Ide e bebei o mar.
Vigiando a sombra da nossa figueira

e da nossa oliveira,

semeando as nossas idéias,

como o fermento na massa do pão.

Com o frio do gelo nos nossos nervos

e um inferno vermelho nos nossos corações.

Se tivermos sede, pedras espremeremos para fartar a nossa sede.

Se famintos, pó morderemos para saciar a nossa a fame*.Mas não nos moveremos.
Não traímos o nosso limpo sangue.
Aqui temos um passado,
um presente,
um futuro.

Como se fôssemos vinte prodígios
em Lidda, em Ramlah, em Galileia.
Ó viva raiz nossa, afunda-te bem.
Mergulha até ao fundo.
Melhor será ao opressor
tomar a fazer as contas
antes que o enredo se desfaça.
Toda a acção tem resposta.

Lede…
Lede o que o Livro diz…

Como se fôssemos vinte prodígios.
Em Lidda, em Ramlah, em Galileia.

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