AELG – Parlamento de Escritoras/es en Pontevedra

A AELG, co apoio do Concello de Pontevedra e CEDRO, celebra outro Parlamento de Escritoras-es que terá lugar o 15 e 16 de marzo de 2019 en Pontevedra, baixo o lema Identidade e dereitos civís desde a escrita.

Con esta actividade preténdese reflexionar, nun momento de especial gravidade no relativo á vulneración na Galiza e no Estado español de dereitos culturais, sociais, políticos, etc., sobre a vinculación entre a escrita literaria e a defensa dos dereitos civís e identitarios, da xustiza social e da liberdade de expresión nas súas máis diversas formas. A defensa destes dereitos humanos é a cerna dos valores irrenunciábeis, que guiarán este parlamento na súa temática e convocatoria, así como nas súas reivindicacións e pronunciamentos.

Este é o programa previsto que foi presentado este 11 marzo en rolda de prensa:

Venres 15 de marzo no Pazo Mugartegui (Praza da Pedreira).

Tarde

  • 16:30 Mesa redonda. Liberdades civís e dereitos nacionais. Moderador: Cesáreo Sánchez Iglesias.
    • Relatoras-es: Carme Adán, Laura Mintegi (Euskadi) e Clàudia Pujol (Òmnium Cultural, Catalunya).
  • 18:30 Mesa redonda. Violencia institucional, violencia estrutural na sociedadeModeradora: Mercedes Queixas.
    • Relatoras-es: Joan Elies Adell Pitarch (director da Institució de les Lletres Catalanes), Ana Luísa Amaral (Portugal) e Suso de Toro.

Sábado 16 de marzo

Mañá

Pazo da Cultura de Pontevedra. Seminarios 2 e 3.

  • Grupo de traballo (temas escollidos abaixo).
  • 10:30 a 12:00. 2 grupos simultáneos, con posibilidade de acceso a socias-os da AELG até cubrir o aforo das aulas.
  • 12:30 a 14:00. 2 grupos simultáneos con posibilidade de acceso a socias-os da AELG até cubrir o aforo das aulas.

Grupos de traballo:

De 10:30 a 12:00 h.

  • Feminismos. Identidades. Coordinadora: Marta Dacosta. Relatoras-es: Daniel Asorey, María Reimóndez e Antía Yáñez.
  • Desposesión da terra e da identidade. As migracións de hoxe. A emigración galega no século XXI. Coordinador: Xoán Carlos Domínguez Alberte. Relatoras-es: Ana Acuña, Vicente Araguas e Afonso Becerra. Inclúense comunicacións escritas de varias persoas residentes fóra de Galiza, para completar a perspectiva deste grupo de traballo.

 De 12:30 a 14:00 h.

  • Lingua e patrimonio cultural. Papel do/a creador/a na sociedade actual e exercicio de dereitos nacionais. Coordinador: Antonio Reigosa. Relatoras-es: Pilar García Negro, David Otero e Diana Varela Puñal.
  • Cultura, medios de comunicación e poderes. A literatura e a creación/expresión literaria como ferramenta construtora dunha sociedade libre. Coordinadora: Rosalía Fernández Rial. Relatoras-es: Manuel Bragado, Camilo Franco e Ana Romaní.

Tarde

Teatro Principal (Rúa Paio Gómez Chariño, 6)

  • De 17:00 h. a 19:00 h. Lectura e debate das achegas das mesas anteriores. Cesáreo Sánchez, Mercedes Queixas, e as/oscoordinadoras/es das mesas de traballo da mañá.
  • 19:30 h. Acto literario e musical de peche. Xosé María Álvarez Cáccamo, Tamara Andrés, Marica Campo, Berta Dávila, Estíbaliz Espinosa, Antonio García Teijeiro, Antía Otero, Eli Ríos, Manuel Rivas, Xavier Seoane e Rafa Vilar. Conducen: Aldaolado.

Animámosvos encarecidamente a participardes neste Parlamento de Escritoras-es, dada a situación de especial gravidade na que se atopa a nosa realidade cultural e social.

*Información facilitada pola Secretaría Técnica da AELG.

Presentacións do libro A GOTIÑA VIAXEIRA, de Toño Núñez

O escritor TOÑO NÚÑEZ levará a cabo esta semana próxima dúas presentacións do seu último libro, A GOTIÑA VIAXEIRA, un conto publicado por Edicións Fervenza e que ilustrado por Miguel Anxo Macía.

A primeira desas presentacións terá lugar en Santiago de Compostela, na Biblioteca Afundación o xoves 14 de marzo ás 19:30 horas. Nela participarán, ademais do propio Toño Núñez, o profesor, escritor e crítico literario Armando Requeixo e o director xeral de Políticas Culturais Anxo Lorenzo.

A outra presentación de dito conto vaise realizar en Monterroso, no edificio da Cúpula o sábado 16 de marzo a partir das 11:30 horas, durante a celebración da IV Feira do Disco e do Libro Galego.

QUANDO FORES VELHINHA, À NOITE À LUZ DA VELA.., de Pierre Ronsard, tradución galego-portuguesa de André Da Ponte

SONETO DE PIERRE RONSARD E ALGO SOBRE O POETA

            Pierre de Ronsard (nascido em setembro de 1524, no Castelo de La Possonnière, perto da aldeia de Couture-sur-Loir na Vendôme, ao norte de Loir-et-Cher, a ambos lados do rio Loir, e falecido em 27 de dezembro de 1585 no convento de Saint-Cosme em Touraine), é um dos mais  importantes, senão é o mais excelso, dos poetas franceses. do século XVI.

            Denominado como “Príncipe dos poetas e poeta dos príncipes”, Pierre de Ronsard é uma das figuras mais importantes na literatura poética europeia. Autor dum vastíssimo trabalho que, em mais de trinta anos, focou tanto em poesia comprometida e oficial no contexto de guerras religiosas com Hinos e Discursos (1555-1564), como no canto épico com La Franciade (1572) ou a poesia lírica com as coleções Les Odes (1550-1552) e Les Amours (Les Amours de Cassandre, 1552, Continuation des amours, 1555 e Sonnets pour Hélène, 1578).

            Tentando imitar os autores clássicos greco-latinos, Ronsard primeiro usou as formas da ode como no belíssimo poema Mignonne, allons voir si la rose… (Fermosa, vamos ver se a rosa…) e o hino, mas ele usará cada vez mais o soneto que fora levado para a França por Clément Marot em 1536, usando primeiramente o decassílabo: Mon dieu, mon dieu, que ma maistresse est belle!,  (Meu deus, meu deus, que minha amante é linda!), embora mais tarde inventado para a poesia francesa o moderno metro do alexandrino: Quand vous serez bien vieille, soneto que vimos a traduzir.

            A coleção de poemas Sonnets por Hélène foi encomendada pola rainha Catarina de Medici para a sua protegida e dama de honra, Hélène de Fonsèque (filha de René de Fonsèque, barão de Surgères e Anne de Cossé), para consolá-la pola perda de seu amante na guerra. Ronsard comprometeu-se a escrever-lhe uma coleção de sonetos, na forma do madrigal, em que elogia a sua beleza comparando-a com a bela Helena, heroína da Guerra de Tróia.

            Uma grande diferença de idade separava Hélène de Ronsard, que tem na altura quase 45 anos, quando se encontram. Foi a rainha que encorajou Ronsard a cortejar Hélène por interposição. A obra é um trabalho de maturidade que celebra um amor platônico por uma mulher que permanece indiferente, ficando como uma obra mestra, não só da poesia francesa, mas de toda a arte ocidental. Ronsard baseando-se na influência que exercia a longa e poderosa sombra de Petrarca e a figura mitológica de Helena de Tróia constrói uma obra cheia de lirismo, languidez e saudade.

            Os Sonetos para Hélène foram publicados em 1578 numa nova edição de Des Amours.

            Ronsard é um grande poeta que não deixa de admirar-nos, que nos surpreende, que nos causa emoção polo seu sublime amor e por uma música nos seus versos duma brilhantez e duma música que só pode ser ronsardiana e que nos transporta até a sua alma sabendo, como ele sabe, que as mulheres amadas hão ser imortais quando delas apenas fique poeira e esquecimento.

            A sua suma elegância, a brilhantez do seu verso cincelado a golpe de fulgor na escolha da palavra justa, o acento ajustado e um rasgamento sem igual em toda a literatura poética da Europa, fazem dele um poeta imprescindível em cada biblioteca e em cada memória. Um poeta que, através das suas inúmeras doenças: surdez, reumatismo, doença de gota, insónia, deu, para as gerações seguintes, uma obra que transpassará os séculos, palavras acesas que chegam até nós ressoando desde factos concretíssimos como um eco que nos atravessa pois para ele somente a escritura poética permite guardar a lembrança e imortalizar à bem-amada.

            Rosard é único, excepcional, singular, incomum e lê-lo é reviver uma das vozes mais belas e autênticas, mais fundas e verdadeiras de toda a poesia.

            Nota.- O texto em francês, na ortografia modernizada, foi colhido de “Une forêt de symboles. La Poésie, une petite anthologie littéraire”, Les Éditions du Carrousel, Paris, 1999, página 117.

QUANDO FORES VELHINHA, À NOITE À LUZ DA VELA…

Quando fores velhinha, à noite à luz da vela,

Sentada ao pé do lume, enovelando e fiando,

Dirás, cantando meus versos, e te maravilhando:

“Ronsard me solenizava no tempo em que era bela.”

E livre do trabalho, então, não há existir aquela,

Que ao cabo dos lavores, e meio dormitando,

Quando o meu nome escuitar não vaia despertando

Ao louvar já o esplendor que o teu nome revela.

Sob o terra dura estarei e, fantasma desossado,

Entre as sombras dos mirtos ficarei, já repousado;

E tu hás estar em casa, velha, débil e abatida,

Chorando o meu amor e polo teu impassível desdém.

Vive tu, sem mim aguardar, polo dia que vem:

e colhe desde hoje as rosas que vai dando-te a vida.

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QUAND VOUS SEREZ BIEN VIEILLE, AU SOIR À LA CHANDELLE…


Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, dévidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous émerveillant:
«Ronsard me célébrait du temps que j’étais belle.»

Lors vous n’aurez servante oyant telle nouvelle,
Déjà sous le labeur à demi sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s’aille réveillant,
Bénissant votre nom, de louange immortelle.

Je serai sous la terre et, fantôme sans os,
Par les ombres myrteux je prendrai mon repos;
Vous serez au foyer une vieille accroupie,

Regrettant mon amour et votre fier dédain.
Vivez, si m’en croyez, n’attendez à demain:
Cueillez dès aujourd’hui les roses de la vie.

http://www.lesvraisvoyageurs.com/wp-content/uploads/2018/12/Pierre-de-Ronsard-Anonyme-du-XVII-si%C3%A8cle-Mus%C3%A9e-de-Blois.jpg

O poema “Pedra negra pedra branca”, de César Vallejo, versión galego-portuguesa de André Da Ponte

UM POEMA DE CÉSAR VALLEJO VERTIDO PARA O GALEGO-PORTUGUÊS E UMA NOTÍCIA SOBRE A BREVE E ATORMENTADA VIDA

César Abraham Vallejo Mendoza (Santiago de Chuco, Perú, 16 de março de 1892 – Paris, 15 de abril de 1938).

            Neto de mulheres indígenas, toda a sua vida foi marcada pola condição de pobreza, de desamparo, de mestiço e de perseguido militante de esquerda. Seu pai tinha um emprego razoavelmente cómodo, não obstante tendo uma família numerosa, não possuía renda suficiente para dar uma vida confortável aos filhos.

            César Vallejo ingressou em 1910 na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Trujillo, mas não conseguiu formar-se por causa da falta de meios económicos, passando a manter-se como tutor do filho dum fazendeiro e entre outros empregos, como assistente na administração duma fazenda de açúcar. A miséria vista durante esta época marcou as suas posições políticas.

            Em 1915 consegue, por fim,  tirar o título de professor em Trujillo, embora parte para a cidade de Lima por problemas amorosos. Conseguido o cargo de diretor duma escola de Lima, conhece ao poeta anarquista Manuel González Prada e publica o seu primeiro grande livro de poesia, “Los Heraldos Negros” que alcança boa acolhida nos círculos intelectuais de Lima.

            Durante uma visita à sua cidade natal em 1920 e, no meio dum confuso acontecimento em que uma autoridade que agia como sub-prefeito local sofreu um disparo, o poeta viu-se preso injustamente durante três meses ao ser acusado como instigador intelectual à revolta contra as autoridades, apesar dos múltiplos protestos dos círculos intelectuais limenhos.

            Ficando em liberdade condicional, volta para Lima e em 1922 publica o livro de poemas “Trilce” que escrevera durante a sua passagem polo cárcere. A tiragem foi apenas de 200 exemplares saídos do prelo por conta do poeta e custando mais valor a sua impressão do que o preço posto para a venda.

            No ano de 1923, animado por um amigo e temendo voltar à prisão muda-se para Paris, onde irá conhecer pintores e escritores como Antonin Artaud, Pablo Picasso e Jean Cocteau quem haveria desenhar um famoso retrato do poeta peruano. César Vallejo nunca mais voltaria para o Peru.

            Uma vida de miséria persegue ao poeta em Paris, onde apenas consegue um emprego numa gráfica, três anos depois, tendo quase morrido de fame. Após isso, o Governo Republicano Espanhol concede-lhe uma bolsa de estudos para poder terminar os estudos de direito que começara em Peru. É, por volta dos acontecimentos que se sucedem em toda a Europa e nomeadamente no Estado Espanhol que ele se achega ao marxismo, visitando a União Soviética em três ocasiões.

            Passa a viver junto com a francesa Georgette Philipart, que mais tarde, em 1934, se haveria converter na sua esposa, mas é preso e expulso da França no ano de 1930, com muita probabilidade por razões políticas, passando assim a viver no exílio no Estado Espanhol, porém cedo consegue a  permissão para voltar à França, onde já estava Georgette Philipart, que voltara em 1931 encontrando o seu apartamento totalmente destruído pola polícia francesa. Vallejo volta a Paris com uma mala de roupas muito usadas e mais nada.

            Durante a Revolução Espanhola e a posterior Guerra Civil, engaja-se com a causa dos trabalhadores. Chocado polos horrores da guerra, que pôde ver durante uma breve visita a Madrid, escreveu o livro militante e profundamente padecido “España, aparta de mí este caliz”, que o poeta não viu publicado durante sua vida, assim como o livro de 54 poemas “Sermón de la barbarie”, escrito na mesma época.

            Quando César Vallejo morre em Paris em 1938, dumas misteriosas febres, com um mau e pouco preciso diagnóstico, segundo sua esposa, o poeta estava numa condição de homem muito pobre.

            Eduardo Galeano tem-no chamado, com infinita razão, “o poeta dos vencidos”. Talvez a melhor homenagem que se lhe pode render a César Vallejo, – ao meu ver um dos poetas essenciais, junto com Pablo Neruda, da literatura hispano-americana do século XX – é lê-lo, hoje que estamos em tempos de misérias humanas e intelectuais.

            O poema foi tirado da edição “César Vallejo. Poesia Completa”, Edición crítica y exegética al cuidado de JUAN LARREA, Director del Centro de Documentación e Investigación «César Vallejo» de la Universidad Nacional de Córdoba (República Argentina) con la asistencia de FELIPE DANIEL OBARRIO, Fiscal de la Cámara Federal de la Nación Argentina, Barral Editores, Barcelona, 1978, página 579.  

Pedra negra pedra branca

Morrerei em Paris com aguaceiro

num dia do qual já tenho a lembrança.

Morrerei em Paris – daqui não saio –

Talvez uma quinta-feira, como é hoje, de outono.

Quinta-feira será, porque hoje, quinta-feira,

em que eu proso estes versos, dei os  úmeros

para o mal e, nunca como hoje, voltarei,

com todo o meu caminho, a ver-me só.

César Vallejo morreu, nele bateram

todos sem que lhes fizesse nada;

davam-lhe com força com um pau e duro

também com uma corda; são testemunhas

às quintas-feiras e os ossos do úmero,

a solidão, a chuva, os caminhos…

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Piedra negra sobre una piedra blanca

Me moriré en París con aguacero,

un día del cual tengo ya el recuerdo.

Me moriré en Paris — y no me corro —

Tal vez un jueves, como es hoy, de otoño.

Jueves será, porque hoy, jueves, que proso

estos versos, tos húmeros me he puesto

a la mala y, jamás como hoy, me he vuelto,

con todo mi comino, a verme solo.

César Vallejo ha muerto, le pegaban

todos sin que él les haga nada;

le daban duro con un palo y duro

también con una soga; son testigos

los días jueves y los huesos húmeros,

la soledad, la lluvia, los caminos…

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