Poema de amor em outono

 

Bate o vento do outono

na fiestra dos meus dias.

As feridas da ilusão

vão fechando.

Mareleam as folhas dos castiros

no Souto Escuro.

Como os meus cabelos.

Se miro para atrás

já me perdo na distância

do caminho andado.

Pero abisco, ao longe,

a infância.

Mas, ainda vou

como um neno desprezado

polos nenos

enchendo os recunchos

baleiros que deixades.

Ainda miro cara abaixo.

Devecem as horas dos dias

como devece o meu capital

de vida…

Xá vou canso de dizer sim

quando penso não.

Pero sigo sendo covarde.

A pesar de que já sei

que valho tanto

como essa folha esmorecida,

como essa minúscula formiga.

O mesmo ca vós.

E já presinto a noite.

Pero não tenho medo.

 

Não,

não estou só.

À minha beira revoam

duas pombas brancas

Que enchem o ar

de esperança.

E sempre estás tu.

E as árvores que prantei.

A tua voz quente

escorrenta o frio

dos meus pesadelos.

As tuas mãos resgatam-me

da cova dos agoiros

quando me perco.

Pero voltarei dizer que sim

ainda que pense o contrário.

Como um náufrago

que luta sem forças

no mar da incompreensão.

E sucumbe.

E seguirei fazendo versos

para vingar-me.

Vingar-me?

De quem?

Eu que sei…

Ai, a poesia…

Onde vai a poesia

do home?

Quem mudou a poesia?

Perco-me no labirinto

das palavras opacas

que pesam como lousas,

Pero sigo aqui,

teimudo,

amoreando lenha

para o inverno.

A primavera foi dura

e fria.

Avondosa em desejos.

Avondosa em carências.

Avondosa em complexos.

Pero descobri o amor.

E também o sexo:

esa força que sai

dos adentros

irreprimível, misteriosa…

e vai deixando trás de si

um ronsel de vida.

E morte.

O sexo pode-o todo.

Pero ja não é o que era…

E chegou o vrão.

E trouxe-te à minha beira.

E vi a luz

nos teus olhos

que vieram para alumar

o meu caminho de névoas.

Como fachos trermeluzentes

no cárcere escuro

das minhas soidades.

E o frio baleiro

do desamor

derreteu-se nos teus beiços.

E o sexo deixou de ser

desejo.

E sementamos juntos

a vida…

E já temos colheita.

 

Bate na fiestra

dos meus dias

o vento do outono

para lembrar-me que existo.

Seguem matando os homens.

Uns em nome do poder

que conquistaram.

Outros por acadá-lo.

Outros…

Non sei por quê.

Mas eu, engaiolado,

resisto

a carão do teu lume.

Pero… ai,

não o esqueço.

Um dia chegará

a noite.

Quiçá no inverno…

Aguardarei por ela

ao teu abeiro.

 

Toño Núñez (Poemas de amor en Outono. Fachinelo, 2014)