ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (IX)

Yabra Ibrahim Yabra

جبرا إبراهيم جبرا

Bocal do poço

(Na matança de Deir Iaseem11, o inimigo atirou os cadáveres das vítimas no poço da aldeia)

Bocal do poço,

ponto para o encontro em jogos das mãos dos infantes

com a selha vertendo

água nos cântaros

entre cantos e risos.

Sacrificou-os talvez a boca do túmulo?

É que a boca do curral alimenta-se com meninhos*

e mulheres grávidas que vertem

o sangue lixado polas* balas?

secaram os racimos no seu redor?

queimou-se o trigo? Verteram-se

os odres de óleo no alforje de pedra

e sobre ela está de novo a cruz de Cristo?

O bocal do poço é para nós o segundo Gólgota.

Agromará* da sua boca ensanguentada

ardente lava negra

com a carne das crianças e das mulheres grávidas

para abater

os que a morte semearam

e abutres alimentaram na terra nossa.

da sua inundação sagra e fértil

hão renascer

todas as aldeias nossas.

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11 Na noite do 9 ao 10 de Abril de 1948 a organização terrorista Irgum comandada por Menahim Beguim, depois Primeiro Ministro de Israel, com a colaboração de outro grupo terrorista dos sionistas, o Stern, perpetrou a horrível matança de 254 pessoas – entre elas 35 mulheres grávidas a quem os energúmenos não duvidaram em fender-lhes o ventre -, crianças e idosos, na aldeia árabe dos arredores de al-Quds (Jerusalém) do mesmo nome. Os assassinos atiraram depois os cadáveres mutilados aos poços para que ninguém pudesse beber da sua água. Jaques de Reyner, delegado da Cruz Vermelha, escreveu a este respeito: “Trescentas pessoas foram mortas sem motivo militar algum, ou provocação de qualquer espécie: anciãos, mulheres e meninhos* foram selvagemente assassinados com granadas ou esfaqueados por tropas judias do Irgum” Vede: Víctimas de ayer, verdugos de hoy de Juan Larra, Editorial Fundamentos, Madrid, 1981, págs. 31-32; Palestina. Tierra de luz y sombra, Mohamed Safa, Ed. do autor, Vigo, 1991, pág. 58 e Sumud. Conversación con Palestina, Xavier Navaza, Fundación Araguaney, A Corunha, 2003, págs. 55-56. É impossível, até para a historiografia sionista, encobrir semelhantes atrocidades, se bem tratarão de justificá-las: “Ambas organizações (Etzel e Lehi) atacaram a aldeia árabe de Deir Iasseem (…) Durante este ataque morreram perto de 200 povoadores, entre eles também mulheres e crianças. A Hagana reprovou a matança, e o Etzel tentou explicar que a mesma não fora premeditada.” E, cinicamente, em nota: “A população árabe de Deir Iasseem fora advertida antecipadamente polo* Irgum, aconselhando-a para abandonar as suas casas. Alfim, os árabes da aldeia determinaram ficar e pelejar. Conste: em Deir Iassem houve batalha, não foi um progromo!Historia del Estado de Israel, Shlomo Ben Ami e Zvi Medin, Ediciones Rialp, S.A., Madrid, 1992, pág. 77.