por Andre da Ponte | May 23, 2017 | Autores/as, Creación
Trinta anos de penar tenho passado
em galope fuga e ardor consciente,
e ao mundo lhe demandei consulente
o que foi do teu olhar nunca olvidado.
Trinta anos no peito tenho guardado
o fogo que queima e alimenta ausente.
Trinta anos a te lembrar tão silente.
Trinta anos que teus olhos têm reinado.
O tempo vai e a tua face perdura
guardada como um ícone que acende
trinta anos em queixume que me fura.
O lume que todo o meu ser transcende,
nem nos dias murcha, nem se arrepende
que em mim há caminhar pra a sepultura.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
https://byluis7.files.wordpress.com/2017/03/picsart_03-04-11-54-40.jpg?w=700https://byluis7.files.wordpress.com/2017/03/picsart_03-04-11-54-40.jpg?w=700
por Andre da Ponte | May 23, 2017 | Autores/as, Creación
Se das cousas certas a memória
lembra-se no presente confirmado,
não dissipem as sombras do afastado
e sejam provas da minha história.
Conste assim na causa acusatória
de todo este o meu penar encerrado.
Justo que à pena seja penado
por esta espinha da minha glória.
Desde que nada tenho já mais deixar,
assino aqui o soneto da minha herda.
no branco caderno deste memento.
Fique à penitência de implorar
que, sentido o sentimento da perda,
não perda de guardar o sentimento.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
https://nomadasfsg.files.wordpress.com/2012/07/escritor-preso.jpg?w=490&h=286
por Andre da Ponte | May 16, 2017 | Autores/as, Creación
(Dialogamos de amor na estrada para Momám)
– Amada minha, carne nacarada
onde o orvalho se sente namorado.
– Deixa-me acalmar no teu peito, amado,
que agora sinto em mim a alma lavrada.
– Dá-me bicos, amor, com tua mirada
que já me pesa o coração ousado.
– Te darei um bico eterno traspassado
e quando morra, a morte namorada.
– Para ainda além do gozo deste instante,
será prazer tua só companhia
e no pulso da noite um canto amante.
– Eu quero amar-te, amor, pola alegria
onde a nossa unidade se agigante
enquanto o rocio amanhece em dia.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
https://3.bp.blogspot.com/-gPaTg3S5Rj4/VMvZJZ9v86I/AAAAAAAArWI/IqZt2ema36U/s1600/231819_Papel-de-Parede-Noite-estrelada–231819_1400x1050.jpg
por Andre da Ponte | May 13, 2017 | Autores/as, Creación
Com Schubert ouço no mar, reclinada
a leve luz de franzidos ardores,
a vasta nudez de algas e rumores
como brilhar de nácares cercada.
Vai na redonda criação colmada
uma ampla arquitectura de tremores:
a morte assim engendra seus verdores
e a vida cumpre o ciclo desvelada.
Abanando, pois, a alma num suspiro
cheio de ti, salgado mar que guia,
no barulho de uma rouca largura
escuito, aqui, nos teus umbrais e miro
no teu tecer em infinita fia
a sombra cintilando a armadura.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
Nota.- O autor recomenda escuitar Ständchen, da coleção póstuma de lieders Schwanengesang (O canto do cisne), D 954, do grande compositor Franz Schubert, entrementres se lè o soneto
https://youtu.be/tRMh9KCzoIQ
por Andre da Ponte | May 11, 2017 | Autores/as, Creación
Aquela noite, tão cálida e mística,
com suave perfume de narciso,
era um encanto dum eco impreciso
como de remota visão artística.
Caladinha, a lua cabalística
dissimulou, acanhada, o seu sorriso
nos ramos dum carvalho, de improviso,
com uma candura panteística.
E fora, então, num bico apaixonado,
que te rendi todo o meu amor aceso
que do meu coração foi libertado.
E fora, então que do teu peito opresso
germinou um suspiro doce, embalado
como um pássaro no ninho indefeso.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
http://s48.radikal.ru/i119/1109/36/0944e12a81a3.jpg