PORQUE O AMOR SE TORNA PERDURÁVEL

PORQUE O AMOR SE TORNA PERDURÁVEL

Trinta anos de penar tenho passado

em galope fuga e ardor consciente,

e ao mundo lhe demandei consulente

o que foi do teu olhar nunca olvidado.

 

Trinta anos no peito tenho guardado

o fogo que queima e alimenta ausente.

Trinta anos a te lembrar tão silente.

Trinta anos que teus olhos têm reinado.

 

O tempo vai e a tua face perdura

guardada como um ícone que acende

trinta anos em queixume que me fura.

 

O lume que todo o meu ser transcende,

nem nos dias murcha, nem se arrepende

que em mim há caminhar pra a sepultura.

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

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PENA NA PRISÃO DO AMOR

PENA NA PRISÃO DO AMOR

Se das cousas certas a memória

lembra-se no presente confirmado,

não dissipem as sombras do afastado

e sejam provas da minha história.

 

Conste assim na causa acusatória

de todo este o meu penar encerrado.

Justo que à pena seja penado

por esta espinha da minha glória.

 

Desde que nada tenho já mais deixar,

assino aqui o soneto da minha herda.

no branco caderno deste memento.

 

Fique à penitência de implorar

que, sentido o sentimento da perda,

não perda de guardar o sentimento.

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

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AQUELA NOITE DE VERÃO ESTRELADA

AQUELA NOITE DE VERÃO ESTRELADA

(Dialogamos de amor na estrada para Momám)

 

 

– Amada minha, carne nacarada

onde o orvalho se sente namorado.

– Deixa-me acalmar no teu peito, amado,

que agora sinto em mim a alma lavrada.

 

– Dá-me bicos, amor, com tua mirada

que já me pesa o coração ousado.

– Te darei um bico eterno traspassado

e quando morra, a morte namorada.

 

– Para ainda além do gozo deste instante,

será prazer tua só companhia

e no pulso da noite um canto amante.

 

– Eu quero amar-te, amor, pola alegria

onde a nossa unidade se agigante

enquanto o rocio amanhece em dia.

 

 

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

 

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CANÇÃO MELANCÓLICA DUMA NOITE OLHANDO JUNTOS O MAR

Com Schubert ouço no mar, reclinada

a leve luz de franzidos ardores,

a vasta nudez de algas e rumores

como brilhar de nácares cercada.

 

Vai na redonda criação colmada

uma ampla arquitectura de tremores:

a morte assim engendra seus verdores

e a vida cumpre o ciclo desvelada.

 

Abanando, pois, a alma num suspiro

cheio de ti, salgado mar que guia,

no barulho de uma rouca largura

 

escuito, aqui, nos teus umbrais e miro

no teu tecer em infinita fia

a sombra cintilando a armadura.

 

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

 

Nota.- O autor recomenda escuitar  Ständchen, da coleção póstuma de lieders Schwanengesang (O canto do cisne), D 954, do grande compositor Franz Schubert,  entrementres se lè o soneto

 

https://youtu.be/tRMh9KCzoIQ

LEMBRAS-TE, AMOR, DAQUELA NOITE?

LEMBRAS-TE, AMOR, DAQUELA NOITE?

Aquela noite, tão cálida e mística,

com suave perfume de narciso,

era um encanto dum eco impreciso

como de remota visão artística.

 

Caladinha, a lua cabalística

dissimulou, acanhada, o seu sorriso

nos ramos dum carvalho, de improviso,

com uma candura panteística.

 

E fora, então, num bico apaixonado,

que te rendi todo o meu amor aceso

que do meu coração foi libertado.

 

E fora, então que do teu peito opresso

germinou um suspiro doce, embalado

como um pássaro no ninho indefeso.

 

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

 

 

 

http://s48.radikal.ru/i119/1109/36/0944e12a81a3.jpg