A GIGANTA  de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A GIGANTA de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

 A GIGANTA

 

Quando a Natura, antanho, cuja força é tanta,

a diário gerava o seu ser mais monstruoso,

quijera viver eu junto à jovem giganta,

qual aos pés da rainha um gato voluptuoso

 

Olhar como o seu corpo e sua alma florecia

e senti-la medrar entre os horríveis folguedos;

decifrar se alguma chama o coração lhe ardia

entre as úmidas névoas dos seus dous olhos quedos;

 

Percorrer a modo as suas curvas multiformes,

subir à vertente dos seus joelhos enormes,

e às vezes, no verão, de malefícios cheios,

 

Obrigam-lhe a deitar-se, sobre uma campa estranha

dormir languidamente à sombra dos seus seios,

dormir como uma aldeia ao pé duma montanha

 

 

 XIX

LA GÉANTE

 

Segundo a edição. Poulet-Malassis et de Broise, 1857 (pp. 50-51).

 

Du temps que la Nature en sa verve puissante
Concevait chaque jour des enfants monstrueux,
J’eusse aimé vivre auprès d’une jeune géante,
Comme aux pieds d’une reine un chat voluptueux.

J’eusse aimé voir son corps fleurir avec son âme
Et grandir librement dans ses terribles jeux,
Deviner si son cœur couve une sombre flamme
Aux humides brouillards qui nagent dans ses yeux,

Parcourir à loisir ses magnifiques formes,
Ramper sur le versant de ses genoux énormes,
Et parfois en été, quand les soleils malsains,

Lasse, la font s’étendre à travers la campagne,
Dormir nonchalamment à l’ombre de ses seins,
Comme un hameau paisible au pied d’une montagne.

 

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SEPULTURA de Charles Baudelaire (versión ao galego de André Da Ponte)

SEPULTURA de Charles Baudelaire (versión ao galego de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

SEPULTURA

 

Se uma lúgubre noite escura,

um bom cristão por caridade,

concede-te uma sepultura

nos entulhos de alguma herdade

À hora em que as estrelas graves

os seus cansos olhos fechar,

a aranha urdirá suas caves

e a cobra andará a criar;

 

Tua condenada  cabeça

escuitará com certeza

durante anos as conspirações

 

dos lobos seu cavo ouvear

às loucas bruxas difamar

e as ruins intrigas dos ladrões

 

 

LXX

SÉPULTURE

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 150-151).

 

Si par une nuit lourde et sombre
Un bon chrétien, par charité,
Derrière quelque vieux décombre
Enterre votre corps vanté,

À l’heure où les chastes étoiles
Ferment leurs yeux appesantis,
L’araignée y fera ses toiles,
Et la vipère ses petits ;

Vous entendrez toute l’année
Sur votre tête condamnée
Les cris lamentables des loups

Et des sorcières faméliques,
Les ébats des vieillards lubriques
Et les complots des noirs filous.

 

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O HOMEM E O MAR de Charles Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

O HOMEM E O MAR de Charles Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

Das minhas traduções

  

O HOMEM E O MAR

 

Homem livre, sempre has de querer o mar!

É como a tua alma, um espelho fulgente

na essência infinita do coração ardente

e teu espírito é pego a amargurar.

 

Te agrada afundar na tua própria imagem;

a cinges com olhos e braços, teu amor

por vezes se ocupa em seu certo rumor

no ruído da queixa altiva e selvagem

 

Sodes ambos tenebrosos e discretos;

Homem, ninguém explorou os teus paroxismos,

Mar!, ninguém sabe dos teus fundos abismos;

ciumentos de guardar-vos os secretos!

 

E, contudo, há séculos inumeráveis

os dous vos bateis numa briga a braçagem,

De tal jeito amais a luita selvagem,

Oh eternos que lutais, oh, irmãos implacáveis!

 

 

XIV

L’HOMME ET LA MER

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 36-37).

Homme libre, toujours tu chériras la mer !
La mer est ton miroir ; tu contemples ton âme
Dans le déroulement infini de sa lame,
Et ton esprit n’est pas un gouffre moins amer.

Tu te plais à plonger au sein de ton image ;
Tu l’embrasses des yeux et des bras, et ton cœur
Se distrait quelquefois de sa propre rumeur
Au bruit de cette plainte indomptable et sauvage.

Vous êtes tous les deux ténébreux et discrets :
Homme, nul n’a sondé le fond de tes abîmes ;
Ô mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets !

Et cependant voilà des siècles innombrables
Que vous vous combattez sans pitié ni remord,
Tellement vous aimez le carnage et la mort,
Ô lutteurs éternels, ô frères implacables !

 

 

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DOM JOÃO NOS INFERNOS

DOM JOÃO NOS INFERNOS

Das minhas traduções

 

 

DOM JOÃO NOS INFERNOS

 

 

Quando às águas de sub terra Dom João baixar

e desde que pagou a Caronte o óbulo extremo,

um mendigo, qual Antístenes, de fero olhar

e fortes e rijos braços pegou em cada remo.

 

Sob o firmamento negro e com roupas rasgadas,

igual a um rebanho de vítimas inocentes

trás dele se arrastravam com queixas prolongadas.

mulheres perturbadas com seus seios pendentes

 

Com risos, Sganarelo, pedia-lhe com premura

seu soldo, ao passo que Dom Luis, de trémula mão,

mostrava aos mortos errantes daquela clausura

o filho que escarnecera das cãs dum ancião.

 

Tremendo a delgada e casta Elvira no seu luto,

junto ao pérfido esposo, que foi o seu amante outrora,

parecia pedir um sorriso, o final tributo,

onde brilhasse a ternura duma primeira hora.

 

Teso, um gigante de pedra, a  barca gobernada

ao timão, de arnês, ia sulcando a água escura,

mas  o tranquilo herói, se apoiando na sua espada

sem dignar-se olhar mais nada, só via a singradura.

 

 

XV

DON JUAN AUX ENFERS

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 38-39).

 

Quand Don Juan descendit vers l’onde souterraine
Et lorsqu’il eut donné son obole à Charon,
Un sombre mendiant, l’œil fier comme Antisthène,
D’un bras vengeur et fort saisit chaque aviron.

Montrant leurs seins pendants et leurs robes ouvertes,
Des femmes se tordaient sous le noir firmament,
Et, comme un grand troupeau de victimes offertes,
Derrière lui traînaient un long mugissement.

Sganarelle en riant lui réclamait ses gages,
Tandis que Don Luis avec un doigt tremblant
Montrait à tous les morts errant sur les rivages
Le fils audacieux qui railla son front blanc.

Frissonnant sous son deuil, la chaste et maigre Elvire,
Près de l’époux perfide et qui fut son amant,
Semblait lui réclamer un suprême sourire
Où brillât la douceur de son premier serment.

Tout droit dans son armure, un grand homme de pierre
Se tenait à la barre et coupait le flot noir ;
Mais le calme héros, courbé sur sa rapière,
Regardait le sillage et ne daignait rien voir.

 

 

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