Com Schubert ouço no mar, reclinada
a leve luz de franzidos ardores,
a vasta nudez de algas e rumores
como brilhar de nácares cercada.
Vai na redonda criação colmada
uma ampla arquitectura de tremores:
a morte assim engendra seus verdores
e a vida cumpre o ciclo desvelada.
Abanando, pois, a alma num suspiro
cheio de ti, salgado mar que guia,
no barulho de uma rouca largura
escuito, aqui, nos teus umbrais e miro
no teu tecer em infinita fia
a sombra cintilando a armadura.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
Nota.- O autor recomenda escuitar Ständchen, da coleção póstuma de lieders Schwanengesang (O canto do cisne), D 954, do grande compositor Franz Schubert, entrementres se lè o soneto