por Andre da Ponte | Jun 18, 2017 | Autores/as, Creación, Xeral
DAS MINHAS TRADUÇÕES
TRADUÇÃO DO QUINTO E ÚLTIMO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL
V
Era ele o louco, o sublime enagenado…
O esquecido Ícaro que aos céus se aproxima,
O Fáeton perdido polos deuses tocado,
Este belo Atis que Cibeles reanima!
O augure escrutava o costado da vitima,
Com seu sangue embriagava a terra em paroxismo…
O universo todo sobre os eixos pendia
E o Olimpo um instante vacilou para o abismo.
«Respondei! Gritou César a Júpiter Amom,
Quem é este novo deus que se impõe sobre a terra?
E se não é um deus, acaso uma maldição…»
Mas o oráculo invocado o auspicio encerra;
Só ele explicar pode a misteriosa chama:
Aquele que deu sua alma polos filhos da lama.
[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]
V
C’était bien lui, ce fou, cet insensé sublime…
Cet Icare oublié qui remontait les cieux,
Ce Phaéton perdu sous la foudre des dieux,
Ce bel Atys meurtri que Cybèle ranime!
L’augure interrogeait le flanc de la victime,
La terre s’enivrait de ce sang précieux…
L’univers étourdi penchait sur ses essieux,
Et l’Olympe un instant chancela vers l’abîme.
“Réponds! criait César à Jupiter Ammon,
Quel est ce nouveau dieu qu’on impose à la terre?
Et si ce n’est un dieu, c’est au moins un démon…”
Mais l’oracle invoqué pour jamais dut se taire;
Un seul pouvait au monde expliquer ce mystère:
-Celui qui donna l’âme aux enfants du llllimon.
CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS. ÓLEO SOBRE TELA DE ANTON RAPHAEL MENGS (1769) 185 x 185 cm.
http://www.epdlp.com/fotos/mengs8.jpg
por Andre da Ponte | Jun 17, 2017 | Autores/as, Creación, Xeral
DAS MINHAS TRADUÇÕES
TRADUÇÃO DO QUARTO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL
IV
Ninguém gemer ouvia à eterna vitima,
Que ao mundo em vão of´rece seu coração volcado;
Mas já desfalecente e sem força dobrado,
Chamou por fim ao último – que velava em Solima:
«Judas!, diXO, sabes em quanto se me dirime,
Vai logo me vender e teu negócio ultima:
Estou doente, amigo! A terra me lastima…
Vai! Ó tu que, pelo menos, tens a força do crime!»
Mas Judas se afastava, molesto e pensativo,
Achando-se mal pago, e com remorsos vivo
Que em toda a parte a culpa escrita encontrava.
Por fim Pilatos só, que por César velava,
Sentindo alguma lástima, tornou-se despetivo:
«Buscai, pois esse louco!», com força ordenava.
[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]
IV
Nul n’entendait gémir l’éternelle victime,
Livrant au monde en vain tout son cœur épanché ;
Mais prêt à défaillir et sans force penché,
Il appela le seul— éveillé dans Solyme :
« Judas ! lui cria-t-il, tu sais ce qu’on m’estime,
Hâte-toi de me vendre, et finis ce marché :
Je suis souffrant, ami ! sur la terre couché…
Viens ! ô toi qui, du moins, as la force du crime ! »
Mais Judas s’en allait, mécontent et pensif,
Se trouvant mal payé, plein d’un remords si vif
Qu’il lisait ses noirceurs sur tous les murs écrites…
Enfin Pilate seul, qui veillait pour César,
Sentant quelque pitié, se tourna par hasard :
« Allez chercher ce fou ! » dit-il aux satellites
Cristo no Monte das Oliveiras. Pintura de Giovanni Bellini (Veneza, em volta de 1430 – Veneza, 1516)
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8b/Giovanni_Bellini_-_Orazione_nell%27orto.jpg/1280px-Giovanni_Bellini_-_Orazione_nell%27orto.jpg
por Andre da Ponte | Jun 16, 2017 | Autores/as, Creación
DAS MINHAS TRADUÇÕES
TRADUÇÃO DO TERCEIRO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL
III
«Ó! Imóvel Destino, sentinela silente,
Fria Necessidade!… Fadário que te integras
Sob a neve eterna das esferas negras,
E o desmaiado cosmos enfrias lentamente,
»Sabes bem o que fazes, potência original,
De teus fantasmais sois, que entre si se desfazem…
Estás certo em transmitires o teu alento imortal,
Entre um mundo que morre e os outros que renascem?…
»Ó pai meu! És tu que sento dentro da minha carne?
Tens poder de vida acaso e de ressuscitar-me?
Ou talvez sucumbiste sob a força postrema
»Daquele anjo escuro que marcou o anátema?…
Pois me sento sozinho a chorar e a sofrer,
E se eu morro, ai de mim! É tudo vai morrer!
[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]
III
“Immobile Destin, muette sentinelle,
Froide Nécessité !… Hasard qui, t’avançant
Parmi les mondes morts sous la neige éternelle,
Refroidis, par degrés, l’univers pâlissant,
“Sais-tu ce que tu fais, puissance originelle,
De tes soleils éteints, l’un l’autre se froissant…
Es-tu sûr de transmettre une haleine immortelle,
Entre un monde qui meurt et l’autre renaissant ?…
“O mon père ! est-ce toi que je sens en moi-même ?
As-tu pouvoir de vivre et de vaincre la mort ?
Aurais-tu succombé sous un dernier effort
“De cet ange des nuits que frappa l’anathème ?…
Car je me sens tout seul à pleurer et souffrir,
Hélas ! et, si je meurs, c’est que tout va mourir
Rua da Velha Lanterna (Rue de la Vieille -Lanterne) onde se enforcou o poeta, segundo Edmond de Goncourt, 14 de dezembro de 1894, no Jornal de Edmond & Jules de Goncourt
http://belcikowski.org/ladormeuseblogue3/wp-content/uploads2012_2/goncourt_vieillelanterne.jpg
por Andre da Ponte | Jun 14, 2017 | Autores/as, Creación
DAS MINHAS TRADUÇÕES
TRADUÇÃO DO SEGUNDO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL
II
Prosseguiu: «Tudo morreu! Eu percorri os mundos
Por lácteas veredas perdi-me em peregrinagem
Tão longe onde a vida, no seus copos fecundos,
Esparge areias de ouro num argênteo ondagem.
Por todo o lado deserto em ondas profundas,
Turbilhões confusos de oceano agitado…
Um sopro vago agita esferas vagabundas,
Mas nas imensidades, nenhum espírito achado.
Procurei o olho de Deus, só vi conca vazia
Vasta, negra e sem fundo, da noite morada
que irradia sobre o mundo e sem cessar o enfria;
Um raro arco iris rodeia a sima geada,
Umbral do velho caos cuja sombra é o nada,
Espiral que aos Mundos e aos Dias engolia!
[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]
II
Il reprit : « Tout est mort ! J’ai parcouru les mondes ;
Et j’ai perdu mon vol dans leurs chemins lactés,
Aussi loin que la vie, en ses veines fécondes,
Répand des sables d’or et des flots argentés :
Partout le sol désert côtoyé par des ondes,
Des tourbillons confus d’océans agités…
Un souffle vague émeut les sphères vagabondes,
Mais nul esprit n’existe en ces immensités.
En cherchant l’œil de Dieu, je n’ai vu qu’un orbite
Vaste, noir et sans fond ; d’où la nuit qui l’habite
Rayonne sur le monde et s’épaissit toujours ;
Un arc-en-ciel étrange entoure ce puits sombre,
Seuil de l’ancien chaos dont le néant est l’ombre,
Spirale, engloutissant les Mondes et les Jours ! »
Frontispicio do livro de Eûgene de Mirecourt, Gérard de Nerval (París 1854), ornado com um grabado segundo um daguerreótipo de Adolphe Legros e manuscrito de Nerval (je suis l´autre: “eu sou o outro”).
http://2.bp.blogspot.com/-OxGrqQOOC8Y/UqoHCoG0n1I/AAAAAAAADKQ/7NRGzr6q_3Y/s640/el+ortigal+020.JPG
por Andre da Ponte | Jun 13, 2017 | Autores/as, Creación, Xeral
TRADUÇÃO DO PRIMEIRO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL
CRISTO NAS OLIVEIRAS
Deus morreu! O céu está vazio…
Chorai! Crianças, vós já não tendes pai!
JEAN-PAUL
I
Quando o Senhor, erguendo aos céus seus magros braços,
Sob as árvores santas, qual fazem os poetas,
Perdido muito tempo nas suas dores secretas,
E se julgou traiçoado polos amigos lassos;
Tornou-se aos que o esperavam, abaixo de seus passos,
Sonhando em serem reis, ou sábios, ou profetas…
Mas torpes, iam dormindo tal qual as bestas quietas,
E bradou: «Não há Deus! Não!», com força nos espaços.
Dormiam. «Meus amigos,sabeis acaso a nova?
Toquei com minha fronte a abóboda da cova;
Estou sangrando e roto, com um sofrer infindo!
» Irmãos, eu enganei-vos. Abismo! Abismo! Abismo!
Falta-nos o deus na ara onde, eu vítima, cismo…
Não há Deus! Deus morreu!» E eles seguem dormindo!
Gérard de Nerval (Paris, 22 de maio de 1808 – Paris, 25 de janeiro de 1855)
[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]
Le Christ aux Oliviers
Dieu est mort! le ciel est vide…
Pleurez! enfants, vous n’avez plus de père!
JEAN-PAUL
I
Quand le Seigneur, levant au ciel ses maigres bras
Sous les arbres sacrés, comme font les poètes,
Se fut longtemps perdu dans ses douleurs muettes,
Et se jugea trahi par des amis ingrats ;
Il se tourna vers ceux qui l’attendaient en bas
Rêvant d’être des rois, des sages, des prophètes…
Mais engourdis, perdus dans le sommeil des bêtes,
Et se prit à crier : “Non, Dieu n’existe pas !”
Ils dormaient. “Mes amis, savez-vous la nouvelle ?
J’ai touché de mon front à la voûte éternelle ;
Je suis sanglant, brisé, souffrant pour bien des jours !
“Frères, je vous trompais. Abîme ! abîme ! abîme !
Le dieu manque à l’au…tel où je suis la victime…
Dieu n’est pas ! Dieu n’est plus !” Mais ils dormaient toujours!
Gérard de NERVAL (1808-1855)
FOTO DO POETA TIRADA POR FÉLIX NADAR:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/F%C3%A9lix_Nadar_1820-1910_portraits_G%C3%A9rard_de_Nerval.jpg