DAS MINHAS TRADUÇÕES
TRADUÇÃO DO QUARTO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL

 

IV

Ninguém gemer ouvia à eterna vitima,

Que ao mundo em vão of´rece seu coração volcado;

Mas já desfalecente e sem força dobrado,

Chamou por fim ao último – que velava em Solima:

 

«Judas!, diXO, sabes em quanto se me dirime,

Vai logo me vender e teu negócio ultima:

Estou doente, amigo! A terra me lastima…

Vai! Ó tu que, pelo menos, tens a força do crime!»

 

Mas Judas se afastava, molesto e pensativo,

Achando-se mal pago, e com remorsos vivo

Que em toda a parte a culpa escrita encontrava.

 

Por fim Pilatos só, que por César velava,

Sentindo alguma lástima, tornou-se despetivo:

«Buscai, pois esse louco!», com força ordenava.

 

[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]

IV

Nul n’entendait gémir l’éternelle victime,
Livrant au monde en vain tout son cœur épanché ;

Mais prêt à défaillir et sans force penché,
Il appela le seul— éveillé dans Solyme :

« Judas ! lui cria-t-il, tu sais ce qu’on m’estime,
Hâte-toi de me vendre, et finis ce marché :
Je suis souffrant, ami ! sur la terre couché…
Viens ! ô toi qui, du moins, as la force du crime ! »

Mais Judas s’en allait, mécontent et pensif,
Se trouvant mal payé, plein d’un remords si vif
Qu’il lisait ses noirceurs sur tous les murs écrites…

Enfin Pilate seul, qui veillait pour César,
Sentant quelque pitié, se tourna par hasard :
« Allez chercher ce fou ! » dit-il aux satellites

 

Cristo no Monte das Oliveiras. Pintura de Giovanni Bellini (Veneza, em volta de 1430 – Veneza, 1516)

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