CHEGADO JÁ O CURSO DA MINHA VIA de Miguel Ângelo Buonarroti (tradución de André da Ponte)

CHEGADO JÁ O CURSO DA MINHA VIA de Miguel Ângelo Buonarroti (tradución de André da Ponte)

Das minhas traduções

 

Além de ser um genial debuxante, pintor, escultor, engenheiro e arquitecto (tantas cousas foi e sempre tão infinito!), Miguel Ângelo Buonarroti foi um extraordinário vate que plasmou em imelhoráveis poemas as incomuns qualidades que aquela prodigionsa mente possuia.

As suas Rime são um requintado uso da palavra onde punha, também, pincéis,  cinzéis e cálculos.

Deixo esta tradução para ficarmos sabendo da sua enorme arte.

 

CHEGADO JÁ O CURSO DA MINHA VIA

 

RIMA 285

 

Já chegado o curso da minha via

Por proceloso mar, em frágil barca,

Lá ao porto, onde se rende à parca

Conta de toda acção, injusta ou pia.

 

Onde foi da amorosa fantasia

Que ídolo me fez arte e monarca,

Eu que bem conheço quanto erro abarca,

E quanto mau grado no homem desfia.

 

Devaneios de amor, vãos fúteis da arte,

Que sois, se chega aos mortos o sino?

Uma é só certeza e a outra uma ameaça.

 

Não há pintar e gravar que hoje farte

A alma volta àquele amor divino

Que, abrindo os braços, nos prende e abraça.

 

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 – Roma, 18 de fevereiro de 1564)

 

RIME 285

 

Giunto è già ’l corso della vita mia,
con tempestoso mar, per fragil barca,
al comun porto, ov’a render si varca
conto e ragion d’ogni opra trista e pia.

Onde l’affettüosa fantasia
che l’arte mi fece idol e monarca
conosco or ben com’era d’error carca
e quel c’a mal suo grado ogn’uom desia.

Gli amorosi pensier, già vani e lieti,
che fien or, s’a duo morte m’avvicino?
D’una so ’l certo, e l’altra mi minaccia.

Né pinger né scolpir fie più che quieti
l’anima, volta a quell’amor divino
c’aperse, a prender noi, ’n croce le braccia.

 

 

Retrato de Miguel Ângelo assinalando os seus debuxos.

Pintura atribuída a Sebastiano del Piombo, em volta de 1520.

Galeria Hans de Hamburgo

 

http://1.bp.blogspot.com/-qrUJZVIEmH0/TxqPA4Z3j2I/AAAAAAAABSw/W8gzko93MEk/s1600/15.jpg

VALADO

Quero ser valado forte

                           contra o que baten os desexos,

   contra o que se esnaquizan

            as envexas e as xenreiras,

                               ser muro de pedra rexa,

     para non deixar entrar

                                  odios nin penas…

    Aínda que as fendas, son fondas

e mancan…

                         Quero non sentir… que sinto,

e que non me manquen as verbas

                                      no corazón adormecido.

Sinto que na pel espida, xa non dorme o medo,

o vento do inverno levou a tristura

                                   moi lonxe,

veñen tempos novos, na outra banda do valado

           nascen as rosas..  nos campos arrasados

polo medo

onde a herba murcha ficaba,

agora medra verde, e louzá,

                         verde coma a esperanza

que aniña moi preto do corazón,

aquí… ó outro lado do valado.