IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA de Francesco Petrarca (Soneto CCXCII traducido ao galego por André Da Ponte)

IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA de Francesco Petrarca (Soneto CCXCII traducido ao galego por André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

UM SONETO DE FRANCESCO PETRARCA TRADUZIDO PARA GALEGO-PORTUGUÊS

 

 

CCXCII

 

Os olhos que eu cantei tão vivamente,

e os braços, mãos e pés e o doce viso

que me tinham tão fora do meu siso

fazendo-me distinto da outra gente;

 

Os caracóis, puro ouro reluzente,

e o tão claro e angélico sorriso,

que tornavam o mundo um paraíso,

apenas já são pó que nada sente;

 

E, vivo ainda eu, sofro e desdenho,

pois fico sem o lume que amei tanto,

em grã fortuna e desarmado lenho.
Finda hoje aqui o meu amante canto:

seca está a fonte de que fui engenho

e a minha cítara mudada em pranto.

 

Francesco Petrarca (Arezzo, 20 de julho de 1304 – Arquià, 19 de julho de 1374)

 

Il Canzoniere   Rerum vulgarium fragmenta

 

CCXCII

 

Gli occhi di ch’io parlai sí caldamente,
et le braccia et le mani et i piedi e ’l viso,
che m’avean sí da me stesso diviso,
et fatto singular da l’altra gente;

le crespe chiome d’òr puro lucente
e ’l lampeggiar de l’angelico riso,
che solean fare in terra un paradiso,
poca polvere son, che nulla sente.

Et io pur vivo, onde mi doglio et sdegno,
rimaso senza ’l lume ch’amai tanto,
in gran fortuna e ’n disarmato legno.

Or sia qui fine al mio amoroso canto:
secca è la vena de l’usato ingegno,
et la cetera mia rivolta in pianto.

 

 

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Francesco_Petrarca..jpg

O ALBATROZ de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

O ALBATROZ de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

Do genial poeta francês Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 – Paris, 31 de agosto de 1867),

 

Baudelaire é um dos fundadores da tradição da moderna poesia, junto com o norte-americano Walt Whitman.

Aqui traduzo um poema da sua obra-prima: As flores do mal (Les Fleurs du mal) segundo a edição de Michel Lévy frères, 1868 (Œuvres complètes, vol. I, p. 89), da minha biblioteca..

 

O albatroz

 

Por divertir-se, às vezes, os homens da marinhagem

Caçam os albatroz, o grande pássaro voraz,

Que segue, indolente, aos companheiros de viagem,

O navio que boia pegos de sal audaz.

 

Quase que colocado nas tábuas, estendido

este imperador do céu, tímido e envergonhado

Bate as asas brancas com queixume constrangido,

como remos rojados desabando pra o lado!

 

Que acanhado e débil se acha o viageiro alado!

Há pouco tão elegante e agora a afear.

Excita-lhe um o bico com cachimbo afumado

outro, coxeando, anula quanto lhe faz voar

 

O Poeta é semelhante à princesa ave marinha

Que desdenha do arqueiro, e se encara aos vendavais;

Espatriado está no solo, entre a gente escarninha,

Não lhe deixam caminhar as asas colossais!

 

 

L’ALBATROS

Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule !
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid !
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait !

Le Poëte est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer ;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.

 

 

http://4.bp.blogspot.com/-X4yzPTS138I/ThI4VylkpgI/AAAAAAAAAdA/sEo5HdYAMqs/s1600/2921065091_1_3.jpg