Das minhas traduções
Além de ser um genial debuxante, pintor, escultor, engenheiro e arquitecto (tantas cousas foi e sempre tão infinito!), Miguel Ângelo Buonarroti foi um extraordinário vate que plasmou em imelhoráveis poemas as incomuns qualidades que aquela prodigionsa mente possuia.
As suas Rime são um requintado uso da palavra onde punha, também, pincéis, cinzéis e cálculos.
Deixo esta tradução para ficarmos sabendo da sua enorme arte.
CHEGADO JÁ O CURSO DA MINHA VIA
RIMA 285
Já chegado o curso da minha via
Por proceloso mar, em frágil barca,
Lá ao porto, onde se rende à parca
Conta de toda acção, injusta ou pia.
Onde foi da amorosa fantasia
Que ídolo me fez arte e monarca,
Eu que bem conheço quanto erro abarca,
E quanto mau grado no homem desfia.
Devaneios de amor, vãos fúteis da arte,
Que sois, se chega aos mortos o sino?
Uma é só certeza e a outra uma ameaça.
Não há pintar e gravar que hoje farte
A alma volta àquele amor divino
Que, abrindo os braços, nos prende e abraça.
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 – Roma, 18 de fevereiro de 1564)
RIME 285
Giunto è già ’l corso della vita mia,
con tempestoso mar, per fragil barca,
al comun porto, ov’a render si varca
conto e ragion d’ogni opra trista e pia.
Onde l’affettüosa fantasia
che l’arte mi fece idol e monarca
conosco or ben com’era d’error carca
e quel c’a mal suo grado ogn’uom desia.
Gli amorosi pensier, già vani e lieti,
che fien or, s’a duo morte m’avvicino?
D’una so ’l certo, e l’altra mi minaccia.
Né pinger né scolpir fie più che quieti
l’anima, volta a quell’amor divino
c’aperse, a prender noi, ’n croce le braccia.
Retrato de Miguel Ângelo assinalando os seus debuxos.
Pintura atribuída a Sebastiano del Piombo, em volta de 1520.
Galeria Hans de Hamburgo
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