PERFUME EXÓTICO de Charles Baudelaire (tradución ao galego por André Da Ponte)

PERFUME EXÓTICO de Charles Baudelaire (tradución ao galego por André Da Ponte)

Das minhas traduções

  

PERFUME EXÓTICO

 

Quando, cerrando as pálpebras, numa tarde ardente,

aspiro a fundo o aroma dos teus seios fogosos,

vejo ao longe esbarar litorais radiosos,

por faiscas deslumbrados dum vivo sol dolente

 

Uma calma e serena ilha que nos traz à mente

árvores singulares e frutos saborosos;

Homens cujos corpos são esguios e vigorosos,

e mulheres cujo olhar brilha à nossa frente.

 

Guiado por teu aroma às paragens mais belas,

enxergo um porto cheio de mastros e de velas,

exaustos por percorrer os mares estrangeiros.

 

Enquanto o subtil cheiro do verde tamarindo,

que polo litoral se espalha e que eu bem vou ulindo,

se junta na minha alma à  voz dos marinheiros

 

 

PARFUM EXOTIQUE

 

(Segundo a edição póstuma: Michel Lévy frères, 1868, Œuvres complètes, vol. I, p. 118).)

 

Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d’automne,
Je respire l’odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu’éblouissent les feux d’un soleil monotone ;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux ;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l’œil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l’air et m’enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.

 

 

Retrato de Baudelaire, por Gustave Courbet

 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/07/Gustave_Courbet_033.jpg

 

 

A UMA PASSANTE de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A UMA PASSANTE de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

A UMA PASSANTE

 

A rua em torno era um trémulo alarido.
De luto, alta e delgada, com dor majestosa,
Passou uma mulher, com sua mão fastuosa.
Erguia e baloiçava a lista do vestido.

Agil, nobre, tinha a perna de estátua fina.
Como excêntrico parvo, afouto eu lhe bebia
No olhar, lívido céu, emergindo a ventania,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Um lôstrego… e já a noite! – Efêmera beldade
A sua olhada fixo-me nascer por outra vez,
Mais nunca te verei senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! “nunca” talvez!
Nem sabes onde é que eu vou, pois desapareceste,
Oh,tu! que eu amaria. Oh tu, Que o soubeste!

 

 

À UNE PASSANTE

 

Segundo a edição. Michel Lévy frères, 1868 (Œuvres complètes, vol. I, p. 270)

 

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de stautue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair…puis la nuit! – Fugitive beauté
Dont le regard m’a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l’eternité?

Ailleurs, bien loin d’ici! trop tard! “jamais” peut-être!
Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!

 

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