COMO NASCE A LEMBRANÇA?

COMO NASCE A LEMBRANÇA?

Aqui a molhada erva, e acolá a serra

e no meio a tua presença ausente.

Sussurra o vento um ermo som silente

de passos passados presos na terra.

A brisa leve no centeio enterra

uma briga de adeuses e se sente

polos alqueires da alma, tão presente!,

um queixume fundo e o calar encerra.

Meu amor!, como é que nasce a lembrança?

Como surge essa ardência poderosa?

Como arranca a dor que comigo avança?

A sombra responde e pára a história

nos chovidos degraus. Roda a rosa

na solidão murcha da memória.

https://thumbs.dreamstime.com/x/rosa-nas-escadas-56827301.jpg

DECLARAÇÃO DO AMOR CALADO

DECLARAÇÃO DO AMOR CALADO

Ditosos foram olhos ao mirar-te

e minha alma feliz ao conhecer-te,

devo dizer que não vivo sem ver-te

e à morte irei sonhando com só amar-te.

 

Minha vida existe para estimar-te,

os meus braços existem para ter-te

e fujo do pecado de ofender-te

e nem mais procuro que contemplar-te.

 

Teus olhos mancaram o entendimento

e vivo, desde então, o meu penar

sem descanso para o meu sentimento.

 

Mágoa penosa fura o pensar

que, existindo ressentindo o que sento,

mais nunca poderei já o deixar!

 

 

http://2.bp.blogspot.com/-B0OSwNrRoRo/UvC_0trLUBI/AAAAAAAADvE/mLVUWPqB6fw/s1600/caminando+bosque.jpg

CONTORNA DA MEMÓRIA

CONTORNA DA MEMÓRIA

Quando se esvaiu o amor enternecido,

caída borda da tua ausência?

quando o entrelaçado da carência

ao aberto coração se deu vencido?

 

Senti às vezes tua fala ao meu ouvido,

qual desviado eco da existência,

tornar tua imagem à vivência

polas beiras onde jaz calmo o olvido.

 

Chegavas tu sobre o além em ar de onda

num tímido vento acariciado,

com um ardor de luz franca e redonda.

 

E meus olhos deram aconchegado

a fera dor onde para sempre esconda

deste meu ser o mal, triste aleijado.

 

 

http://historiasdeamor.webcindario.com/escondido.jpg

CARTA SEM ESPERAR RESPOSTA À AMADA INOMINADA

CARTA SEM ESPERAR RESPOSTA À AMADA INOMINADA

Por estes versos tristes que lhe escrevo,

filhos do meu amor ortografado,

saberá a minha pena e meu cuidado

e que nada deve e eu todo lhe devo.

 

Se meu engenho dá, já não me atrevo

escrever o que o coração estragado

sente em si, golpe a golpe, tão penado

que, calando, a minha pena descrevo.

 

Fora grande ventura perto ver-vos

e, depois de vista, disposto a amar-vos

resignado a ser dó sem merecer-vos.

 

Pois resulta impossível olvidar-vos,

saiba que são estes versos protervos

as tulhas da paixão para guardar-vos.

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/c6/50/bc/c650bced0b6418b9bb47f8728e226ddc.jpg