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III
Quanto te quis eu dizer
gostaria estar dizendo
mas, a minha alma calada
só repete como um eco
o que já não direi nunca
taciturno no silêncio.
Quanto te quis eu dizer
é silencioso berro
que carpe desconsolado
no meu coração opresso.
Quanto te quis eu dizer
gostaria estar dizendo
mas, a minha alma calada
só repete como um eco
o que já não direi nunca
taciturno no silêncio.
Quanto te quis eu dizer
é silencioso berro
que carpe desconsolado
no meu coração opresso.
Eu bem sei o que é querer-te
e não ter-te
mesmo assim como eu te quero.
Como quer a vida a morte,
como o tempo quer o tempo.
Como este amar que vai no alto
se afundindo nos infernos.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
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Debuxo de Paul Gustave Doré para a Divina Comédia
Caído sobre a sombra do passado
como uma imensa lousa de vazio
se comprime no coração e lesa a alma
o pretérito tempo preterido.
Aguardo a sombra, e tanto aguardo tanto
de mim tão assíduo desasido,
que, assim, de tal modo, fico assomado
na escura vereda onde jaz o olvido.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
https://dcvitti.files.wordpress.com/2012/08/numa-rua-deserta.jpg
Atrapalhado na alma e no sentido
sonhei que te sonhava e tão ditoso,
tão quimérico foi, tão ardiloso,
que me achei toda a noite entretecido.
Olhei-te, pura luz, tão acendido
no doce e limpo olhar, tão fervoroso,
que procurei não despertar, medroso
de te perder se não ficar dormido.
Mas foi, por um momento, bem miúdo
o engano de sonhar que te sonhava
e fora ainda mais triste despertar,
que logo olhei meu coração desnudo
vendo que, sem ventura, não te achava
e fora uma ânsia do meu penar.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
Traio prendido firme no pescoço
pesado, grave e rigoroso jugo.
Pra mim sou cruel juiz e verdugo,
um desprezível carrasco ao meu algozo.
Apenas sou espantalho pra remoço:
enquanto minhas lágrimas enxugo
é só do meu sofrer que aflição sugo
maldizendo o coração que destroço.
Nada alegarei do mal ante os mortais;
meu coração ruim e desumano
fique preso no erro cometido.
E mais não me tenham dó, porque jamais
hei tirar a escravatura em que afano
ser tão somente um tormento afligido.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]
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