por Andre da Ponte | Abr 26, 2017 | Autores/as, Creación
Os teus olhos guardaram mansamente
o doce aroma onde dormiu a rosa
tingindo minha lágrima amorosa
de ausente bico no meu lábio ardente.
No teu silêncio amei docemente
o latejo em tua alma temerosa
e fechei, já para sempre, a ardorosa
ânsia dum suspiro docilmente.
E busco a sombra que ficou transida
perdida numa tarde adolescente
quando, por um momento, amei a vida.
É no rigor do vazio onde, ausente,
me devora a lembrança fenecida,
passada, mas ainda tão presente.
(Do livro inédito: “Sonata dum quebrado violino”)
por Andre da Ponte | Abr 25, 2017 | Autores/as, Creación
Se algum dia, infeliz, triste renego
da luz que tu me deste do teu seio
que fique tolhida a alma que carreio
e me ache sem siso, sombrio e cego.
E se algum dia abjuro do aconchego
dos bicos que deste em afagueio,
vede-se a minha vida no gradeio
do esqueço e no mais baixo desapego.
Se algum dia renuncio àquela aurora
e a todo o que derramaste em minha alma
e que aqui se afiança em sentimento,
que o meu coração se trilhe nessa hora
e mais não tenha já gota de calma,
nem sequer seja eco levado ao vento.
(Do livro inédito SONATA DUM QUEBRADO VIOLINO)
por Andre da Ponte | Abr 7, 2017 | Autores/as, Creación
Que distante fica já a melancolia
do apagado tempo na sua fogueira,
onde levantou arvoredas e nuvens
Afrodite da lágrima e da mirra.
Que longe dura tudo quando torno
reler, mesmo com piedade, o canto
sem pisca de devastação nenhuma,
como o dourado sol-pôr na primavera
deixa no ar a alma cheirando em cinza.
Que perto abunda a tristeza transparente
de ser sereno amante, já agora
numa terra prendida às codesseiras.
Que delicado ser ininterrupta e desmedida
cadeia de laços em eternos instantes
onde a aurora olha-se no entardecer.
Que doce ser para sempre demora
como a derradeira obrigação do homem.
(Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”)