Que distante fica já a melancolia

do apagado tempo na sua fogueira,

onde levantou arvoredas e nuvens

Afrodite da lágrima e da mirra.

Que longe dura tudo quando torno

reler, mesmo com piedade, o canto

sem pisca de devastação nenhuma,

como o dourado sol-pôr na primavera

deixa no ar a alma cheirando em cinza.

Que perto abunda a tristeza transparente

de ser sereno amante, já agora

numa terra prendida às codesseiras.

Que delicado ser ininterrupta e desmedida

cadeia de laços em eternos instantes

onde a aurora olha-se no entardecer.

Que doce ser para sempre demora

como a derradeira obrigação do homem.

(Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”)