DOM JOÃO NOS INFERNOS

DOM JOÃO NOS INFERNOS

Das minhas traduções

 

 

DOM JOÃO NOS INFERNOS

 

 

Quando às águas de sub terra Dom João baixar

e desde que pagou a Caronte o óbulo extremo,

um mendigo, qual Antístenes, de fero olhar

e fortes e rijos braços pegou em cada remo.

 

Sob o firmamento negro e com roupas rasgadas,

igual a um rebanho de vítimas inocentes

trás dele se arrastravam com queixas prolongadas.

mulheres perturbadas com seus seios pendentes

 

Com risos, Sganarelo, pedia-lhe com premura

seu soldo, ao passo que Dom Luis, de trémula mão,

mostrava aos mortos errantes daquela clausura

o filho que escarnecera das cãs dum ancião.

 

Tremendo a delgada e casta Elvira no seu luto,

junto ao pérfido esposo, que foi o seu amante outrora,

parecia pedir um sorriso, o final tributo,

onde brilhasse a ternura duma primeira hora.

 

Teso, um gigante de pedra, a  barca gobernada

ao timão, de arnês, ia sulcando a água escura,

mas  o tranquilo herói, se apoiando na sua espada

sem dignar-se olhar mais nada, só via a singradura.

 

 

XV

DON JUAN AUX ENFERS

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 38-39).

 

Quand Don Juan descendit vers l’onde souterraine
Et lorsqu’il eut donné son obole à Charon,
Un sombre mendiant, l’œil fier comme Antisthène,
D’un bras vengeur et fort saisit chaque aviron.

Montrant leurs seins pendants et leurs robes ouvertes,
Des femmes se tordaient sous le noir firmament,
Et, comme un grand troupeau de victimes offertes,
Derrière lui traînaient un long mugissement.

Sganarelle en riant lui réclamait ses gages,
Tandis que Don Luis avec un doigt tremblant
Montrait à tous les morts errant sur les rivages
Le fils audacieux qui railla son front blanc.

Frissonnant sous son deuil, la chaste et maigre Elvire,
Près de l’époux perfide et qui fut son amant,
Semblait lui réclamer un suprême sourire
Où brillât la douceur de son premier serment.

Tout droit dans son armure, un grand homme de pierre
Se tenait à la barre et coupait le flot noir ;
Mais le calme héros, courbé sur sa rapière,
Regardait le sillage et ne daignait rien voir.

 

 

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A VIDA ANTERIOR de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A VIDA ANTERIOR de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

A VIDA ANTERIOR

 

Muito tempo morei sob um pórtico alto

onde os sóis do mar tingia de mil cores,

e onde os pilares firmes, dominadores,

mudavam à noite em grutas de basalto

 

Chegavam até mim formas de harmonia

nas ondas flamejantes e misturados

acordes deslumbrantes agigantados

no crepúsculo que ao meu olhar fugia.
Foi lá onde vivi deleitosas calmas

em meio do azul, das ondas e dos lumes

E escravos despidos cheirando perfumes
refrescando minha testa com as palmas,

e cuja missão era apenas descobrir

segredos da dor a me fazer carpir.

 

 

XI

LA VIE ANTÉRIEURE

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 32-33).

 

J’ai longtemps habité sous de vastes portiques
Que les soleils marins teignaient de mille feux,
Et que leurs grands piliers, droits et majestueux,
Rendaient pareils, le soir, aux grottes basaltiques.

Les houles, en roulant les images des cieux,
Mêlaient d’une façon solennelle et mystique
Les tout-puissants accords de leur riche musique
Aux couleurs du couchant reflété par mes yeux.

C’est là que j’ai vécu dans les voluptés calmes,
Au milieu de l’azur, des vagues, des splendeurs
Et des esclaves nus, tout imprégnés d’odeurs,

Qui me rafraîchissaient le front avec des palmes,
Et dont l’unique soin était d’approfondir
Le secret douloureux qui me faisait languir.

 

 

 

Charles Baudelaire pintura em óleo sobre tela de Émile Deroy – 1844

 

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A MUSA VENAL de Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

A MUSA VENAL de Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

A MUSA VENAL

 

Musa da minha alma, oh! principesca amante,

terás no Janeiro dos ventos irados

durante as tardes de neve tiritante,

pra te quentar um guiço os teus pés gelados?
Terás onde aquecer o colo brilhante

com mornos raios polos cristais filtrados?

Com bolso vazio e a casa agonizante

roubarás o ouro dos céus iluminados?

 

Precisas para obter o teu pão diário,

como acólito remexer o incensário,

cantar o Te Deum sem crer no seu favor.
Ou, como boneco faminto, mostrar

o rir aquoso do teu choromingar

quando gargalhas o teu vulgar pudor!

 

 

VIII

 

LA MUSE VÉNALE

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 24-25).

 

Ô muse de mon cœur, amante des palais,
Auras-tu, quand Janvier lâchera ses Borées,
Durant les noirs ennuis des neigeuses soirées,
Un tison pour chauffer tes deux pieds violets ?

Ranimeras-tu donc tes épaules marbrées
Aux nocturnes rayons qui percent les volets ?
Sentant ta bourse à sec autant que ton palais,
Récolteras-tu l’or des voûtes azurées ?

Il te faut, pour gagner ton pain de chaque soir,
Comme un enfant de chœur, jouer de l’encensoir,
Chanter des Te Deum auxquels tu ne crois guère,

Ou, saltimbanque à jeun, étaler tes appas
Et ton rire trempé de pleurs qu’on ne voit pas,
Pour faire épanouir la rate du vulgaire.

 

 

Autorretrato

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CORRESPONDÊNCIAS de Charles Baudelaires (versión galega de André Da Ponte)

CORRESPONDÊNCIAS de Charles Baudelaires (versión galega de André Da Ponte)

 Das minhas traduções

 

CORRESPONDÊNCIAS

 

A natureza é um templo onde vivos pilares

podem deixar brotar às vezes palavras confusas;

onde o homem passa por sinais de florestas difusas

que o vão observando com miradas familiares

Como os ecos de longe vão se fundindo os rumores

na mais envolta em trevas e na mais funda unidade.

tão dilatada como a noite e como a claridade

se correpondem os toques, os aromas e as cores

 

Há perfumes com frescor como corpos virginais,

brandos como oboés, verdes como campas sem fim;

e há outros corrompidos, viçosos e triunfais,

 

Que têm um algo da expansão das cousas infinitas,

como o ámbar, qual almiscar, como o incenso e o benjoim

que vão cantando os arrebates das almas contritas

 

 

IV

 

CORRESPONDANCES

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 15-16).

 

La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles ;
L’homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l’observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

Il est des parfums frais comme des chairs d’enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d’autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l’expansion des choses infinies,
Comme l’ambre, le musc, le benjoin et l’encens,
Qui chantent les transports de l’esprit et des sens.

 

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UMA ESTAMPA FANTÁSTICA

UMA ESTAMPA FANTÁSTICA

O espectro singular, fantasma faceto,

grotesco porta na testa de esqueleto

uma diadema horrenda, enfeite a orná-lo.

Sem espora e látego, monta um cavalo

fantasma como ele, píleca esquelético

que baba polas ventas como epiléptico

Furando o espaço para o abismo levados,

sulcam o infindo com seus cascos alados.

 

O ginete brande a espada flamejante

Sobre as multidões que esmaga o rocinante,

e corre o seu paço o senhor do remonte,

um cemitério imesno sem horizonte,

Onde jazem, sob opaca luz eterna

os povos da História antiga e da moderna.

 

 

LXXI

UNE GRAVURE FANTASTIQUE

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 162-163).

 

Ce spectre singulier n’a pour toute toilette,
Grotesquement campé sur son front de squelette,
Qu’un diadème affreux sentant le carnaval.
Sans éperons, sans fouet, il essouffle un cheval,
Fantôme comme lui, rosse apocalyptique,
Qui bave des naseaux comme un épileptique.
Au travers de l’espace ils s’enfoncent tous deux,
Et foulent l’infini d’un sabot hasardeux.

Le cavalier promène un sabre qui flamboie
Sur les foules sans nom que sa monture broie,
Et parcourt, comme un prince inspectant sa maison,
Le cimetière immense et froid, sans horizon,
Où gisent, aux lueurs d’un soleil blanc et terne,
Les peuples de l’histoire ancienne et moderne.

 

 

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