Atrapalhado na alma e no sentido
sonhei que te sonhava e tão ditoso,
tão quimérico foi, tão ardiloso,
que me achei toda a noite entretecido.
Olhei-te, pura luz, tão acendido
no doce e limpo olhar, tão fervoroso,
que procurei não despertar, medroso
de te perder se não ficar dormido.
Mas foi, por um momento, bem miúdo
o engano de sonhar que te sonhava
e fora ainda mais triste despertar,
que logo olhei meu coração desnudo
vendo que, sem ventura, não te achava
e fora uma ânsia do meu penar.
[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]