CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS de Gérard De Nerval (1)

CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS de Gérard De Nerval (1)

TRADUÇÃO DO PRIMEIRO SONETO DE “CRISTO NO MONTE DAS OLIVEIRAS” DE GÉRARD DE NERVAL

 

CRISTO NAS OLIVEIRAS

Deus morreu! O céu está vazio…
Chorai! Crianças, vós já não tendes pai!

JEAN-PAUL

I

Quando o Senhor, erguendo aos céus seus magros braços,
Sob as árvores santas, qual fazem os poetas,
Perdido muito tempo nas suas dores secretas,
E se julgou traiçoado polos amigos lassos;

 

Tornou-se aos que o esperavam, abaixo de seus passos,
Sonhando em serem reis, ou sábios, ou profetas…
Mas torpes, iam dormindo tal qual as bestas quietas,
E bradou: «Não há Deus! Não!», com força nos espaços.

 

Dormiam. «Meus amigos,sabeis acaso a nova?
Toquei  com minha fronte a abóboda da cova;
Estou sangrando e roto, com um sofrer infindo!

» Irmãos, eu enganei-vos. Abismo! Abismo! Abismo!

Falta-nos o deus na ara onde,  eu vítima, cismo…
Não há Deus! Deus morreu!» E eles seguem dormindo!

Gérard de Nerval (Paris, 22 de maio de 1808 – Paris, 25 de janeiro de 1855)

[Tradução segundo a edição de Les Chimères de Michel Lévy frères, 1856]

Le Christ aux Oliviers

 

Dieu est mort! le ciel est vide…
Pleurez! enfants, vous n’avez plus de père!

JEAN-PAUL

I

Quand le Seigneur, levant au ciel ses maigres bras
Sous les arbres sacrés, comme font les poètes,
Se fut longtemps perdu dans ses douleurs muettes,
Et se jugea trahi par des amis ingrats ;

Il se tourna vers ceux qui l’attendaient en bas
Rêvant d’être des rois, des sages, des prophètes…
Mais engourdis, perdus dans le sommeil des bêtes,
Et se prit à crier : “Non, Dieu n’existe pas !”

Ils dormaient. “Mes amis, savez-vous la nouvelle ?
J’ai touché de mon front à la voûte éternelle ;
Je suis sanglant, brisé, souffrant pour bien des jours !

“Frères, je vous trompais. Abîme ! abîme ! abîme !
Le dieu manque à l’au…tel où je suis la victime…
Dieu n’est pas ! Dieu n’est plus !” Mais ils dormaient toujours!

 

 

Gérard de NERVAL   (1808-1855)

FOTO DO POETA TIRADA POR FÉLIX NADAR:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/F%C3%A9lix_Nadar_1820-1910_portraits_G%C3%A9rard_de_Nerval.jpg

 

 

EL DESDICHADO de Gérard de Nerval

EL DESDICHADO de Gérard de Nerval

UM SONETO TRADUZIDO DE GÉRARD DE NERVAL E ALGUMAS NOTAS SOBRE O POEMA E O POETA FRANCÊS.
Das minhas traduções.

O soneto que hoje coloco perante vós é um dos mais celebrados das letras francesas e, também, um dos mais enigmáticos a começar polo próprio título.

Deste poema tão louvado existem dous manuscritos. Um deles é o chamado Lombard e foi o que enviou o poeta a Alexandre Dumas, junto com uma carta quando estava atacado por um abcesso de loucura em 1853. Este texto é o que usou o romancista para reproduzi-lo no seu artigo sobre Nerval que foi publicado em Le Mousquetaire em 10 de dezembro de 1853 constituindo, assim, a primeira edição do soneto. É a este artigo ao que contesta Nerval na dedicatória de Les Filles du feu (As Filhas do fogo).

Vale a pena dizer algo em volta desse artigo de Dumas. Em 1841 o jornalista e amigo de Nerval Jules Janin escrevera uma nota necrológica sobre o poeta. Durante a crise de loucura de Nerval, em 1853, Alexandre Dumas publicou o artigo que temos mencionado onde, talvez com as melhores das intenções, embora um tanto alegremente, revelava ao público a precariedade da saúde mental do poeta. Nerval sempre teve um grande empenho em ocultar e justificar as suas crises de loucura, que na sua opinião, desacreditavam-no perante o público leitor, e esse artigo dum dos seus mais velhos amigos feriu-o profundamente.

Les Filles du feu, molho de contos e poemas vão aparecer em janeiro de 1854, quando Nerval estava internado na clínica do doutor Émile Blanche em Passy. Trata-se de oito contos longos (AngéliqueSylvie,Chansons et légendes du ValoisJemmyOctavieIsisCorillaEmilie) e do conjunto de doce sonetos, Les Chimères (As Quimeras). No prólogo aproveita para acrescentar um prólogo de resposta a Dumas onde justapunha um texto já publicado, apresentando o projeto dum romance, Le Roman tragique (O Romance trágico) que queria ser uma contrapartida do Roman comique (Romance cômico) de Scarron, mas nunca chegou a escrever.

Porém, deixando isto e indo para o soneto, digamos que há um segundo manuscrito que é chamado Éluard (porque pertenceu ao poeta Paul Éluard), que foi o que usou para a impressão de As Filhas do Fogo. Este manuscrito tem várias notas da mão de Nerval que depois havemos de mencionar.

O texto de Lombard vai acompanhado – igual que o Éluard – do poema Artémis em duas folhas numeradas 2 e 3 e conserva-se junto com uma carta de três páginas que leva por título: La carte du Diable (A carta do demo). Trata-se do Arcano XV do Tarot, que se pode relacionar com o signo zodiacal dos Gêmeos, que é o de Nerval. Até mesmo alguns críticos têm assinalado alusões ao Tarot no texto deste soneto.

O título está em espanhol no original. Todos os comentaristas coincidem que Nerval apanhou-o de Ivanhoe de Walter Scott (capítulo VIII). Também, unanimemente, todos eles repetem que essa palavra significa “desditado” (Desinherited em Scott) e, por outro lado, Paul Bénichou tem demostrado que essa palavra em espanhol nunca significou o que escreveu o romancista inglês. Cabe a dúvida se Scott deu com certeza essa tradução. No capítulo VIII de Ivanhoe pode se entender que é o conjunto do debuxo do escudo – um carvalho desarraigado e o lema El Desdichado – o que vem significar o deserdado, e não diretamente essa palavra com a acepção que tem em espanhol. E no capítulo XII, quando a multidão brada “Desditado! Desditado!”, Scott acrescenta precavidamente: “cuja palavra de ordem apanhavam do lema que levava o escudo do seu coudel.

No manuscrito Éluard o título é “A sina”.

VERSO 2: “Príncipe de Aquitânia” alude a uma das fantasias genealógicas de Nerval, que fazia derivar seu sobrenome (Labrunie) da Torre de Labrunie na Aquitânia e pretendia descer dum nobre dessa região.

VERSO 4: Há uma muito provável alusão ao célebre grabado A melancolia de Albrecht Dürer (Nuremberga21 de maio de 1471 — Nuremberga, 6 de abrilde 1528) que Nerval admirava.

VERSO 6: O Prausílipo é um lugar perto a Nápoles do que Nerval fez um dos seus símbolos obsessivos. Pola sua etimologia significa “cesse da dor”, que é uma alusão à morte. Por estar perto ao Vesúvio, o poeta associa-o com o fogo subterrâneo, um outro símbolo da sua mitologia pessoal. Além disto, perto dele acha-se o suposto túmulo de Virgílio, que encarna para Nerval todo o paganismo e o seu mistério, numa síntese de cultos ocidentais e orientais que anuncia o sincretismo mítico religioso do próprio Nerval. Finalmente, a região napolitana evoca sempre para o poeta o culto a Ísis (Ísis está em As Filhas do fogo), em que via não apenas o culto da Mulher (mãe e amante), embora o exemplo excelso dessa contaminação dos cultos e da unidade, sob diversas formas, das mesmas divindades, proba da unidade de toda a experiência religiosa da humanidade.

VERSO 8: Há no manuscrito Éluard uma nota de Nerval: Jardim do Vaticano, que ajuda a compreendê-lo como a imagem da união de paganismo e cristianismo.

VERSO 9: Amor é aqui o nome próprio: o deus romano; Febo está escrito à latina no manuscrito (Phoebus), o que é talvez alusão a Gaston Phoebus, uma das identidades imaginárias de Nerval; Lusignan é uma personagem histórica sobre o que se formou na Idade Média a lenda de Melusina, mulher serpe namorada deste personagem e que desaparece com um grito quando o amado, quebrando a promessa de não espreitá-la, surprende-a na sua forma de cobra (a etimologia de Melusina semelha ser Mère des Lusignans (Mãe dos Lusignans), passando por Merlusignans e Merlusine. Quanto o que diz de Biron, há um personagem de Shakespeare e vários nomes históricos com esse nome. Segundo Jean-Luc Steinmetz (Edições da Pléiade, 1993), trata-se do duque de Biron, almirante de Henrique IV decepado ao ser acusado de traição; em qualquer caso parece fazer parelha com Lusignan (ambos humanos), como Amor com Febo (deuses ambos), e simbolizar o amante da rainha como Lusignan o amante da sereia.

VERSO 10: Nota de Nerval no manuscrito Éluard: “Rainha Candacia”, nome genérico das rainhas de Etiópia. Alude então a Balkis, rainha de Sabá, outra personagem central na mitologia nervaliana.

VERSO 12: Refere, quase com total certeza, as crises de loucura (reduzidas no verso a duas), que Nerval comparou várias vezes com descensos para os infernos, e das que até então saíra triunfante (como Orfeu, mencionado no verso seguinte).

VERSO 14: Nota de Nerval à palavra Fada, no manuscrito Éluard: “Melusina ou Manto”; “fada” está usado, então, mais no sentido de feiticeira do que no sentido mais janota e hoje mais frequente.

O autor de Les Chimères (As Quimeras), apenas doze sonetos que lhe valeram a imortalidade, atravessado por uma doença fatal deixou o 24 de janeiro de 1855 uma nota para a sua tia: “Quando eu tenha triunfado de todo, terás o teu lugar no meu Olimpo, como eu tenho o meu lugar na tua casa”. Ao dia seguinte deambula por um Paris glacial, tenta conseguir dinheiro, ceia no mercado, perde-se na noite. Ao amanhecer topam-no pendurado numa sórdida ruela (hoje desaparecida) do velho Paris.

 

EL DESDICHADO

Eu sou o Tenebroso, – o Viúvo, – o Inconsolado

Príncipe de Aquitânia da Torre abolida:

Minha só Estrela morreu, – e meu laúde constelado

Porta em si o Sol negro da Melancolia.

 

Na Cova noturna, Tu que me tens consolado,

Devolve-me o Pausílipo e o mar da Italia,

A flor que gostava a meu peito desolado,

E a parra onde o Bacelo à Rosa se alia.

 

Sou eu Amor ou o Febo?… Lusignan ou Biron?

Minha frente enrubesce do beijo da Rainha;

Sonhei na Gruta onde a Sereia nada…

Duas vezes transpus o Aqueronte vencedor:

Modulando por vezes de Orfeu na lira

Os suspiros da Santa e os gritos da Fada.

 

Gérard de Nerval (Paris, 22 de Maio de 1808 – 25 de Janeiro de 1855)

[A tradução está feita desde o texto publicado em “Une forêt de symboles. Une petite anthologie littéraire”, Les Éditions du Carrousel, Paris, 1999, página 316]

 

EL DESDICHADO

Je suis le Ténébreux, – le Veuf, – l’Inconsolé,
Le Prince d’Aquitaine à la Tour abolie :
Ma seule 
Etoile est morte, – et mon luth constellé
Porte le 
Soleil noir de la Mélancolie.

Dans la nuit du Tombeau, Toi qui m’as consolé,
Rends-moi le Pausilippe et la mer d’Italie,
La 
fleur qui plaisait tant à mon coeur désolé,
Et la treille où le Pampre à la Rose s’allie.

Suis-je Amour ou Phébus ?… Lusignan ou Biron ?
Mon front est rouge encor du baiser de la Reine ;
J’ai rêvé dans la Grotte où nage la sirène…

Et j’ai deux fois vainqueur traversé l’Achéron :
Modulant tour à tour sur la lyre d’Orphée
Les soupirs de la Sainte et les cris de la Fée.

Gérard de Nerval

 

Gustave Doré, A rua da Velha Lanterna. O Suicídio de Gérard de Neval. Litografia sobre papel em branco e negro de 1855.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d1/Gustave_Dor%C3%A9%2C_La_Rue_de_la_Vieille_Lanterne_The_Suicide_of_G%C3%A9rard_de_Nerval%2C_1855.jpg

 

 

A PONTE MIRABEAU (Le Pont Mirabeau)

A PONTE MIRABEAU (Le Pont Mirabeau)

DAS MINHAS TRADUÇÕES

Hoje, do poeta francês Guillaume Apollinaire (nascido Wilhelm Albert Włodzimierz Apolinary de Wąż-Kostrowicki, Roma, 26 de agosto de 1880 — Paris, 9 de novembro de 1818)  nascido em Roma de mãe polaca e pai italiano, viveu primeiro em Mônaco, e depois em Nice. Com 18 anos foi para Paris onde encontrou a oportunidade de acompanhar a família na Alemanha na qualidade tutor.

Apaixonou-se por “miss”, uma jovem estudante Inglesa chamada Annie Playden. A sua ruptura com o seu amor juvenil empurra-o a escrever a “Canção do mal-amado” (La Chanson du mal-aimé).

De volta a Paris trabalhou em várias revistas, fazendo amizades com Alfred Jarry, Max Jacob e Picasso.

Em 1907, o poeta consegue viver da sua pena graças à sua intensa atividade jornalística. Naquela época fez amizade com Marie Laurencin.

Em 1909 publicou “L’enchanteur pourissant”.(O encantadorr podre). 1912 é o ano da sua ruptura com Marie Laurencin, mas sobretudo o da publicação de “Zone” em “les soirées de Paris”.

A partir de 1913, mudou-se para um apartamento no número 202 do Boulevard St Germain. Aproximando-se mais e mais da vanguarda literária e artística defendendo ardentemente a pintura cubista.

Foi neste momento que ele publicou o seu livro “Álcools” donde tiro o poema que traduzo.

Apollinaire, que foi quem criou a palavra surealismo, morreu jovem com apenas 38 anos de idade em 9 de novembro de 1918, vítimado pola gripe espanhola (ainda que o Estado francês declarou-no como “mort pour la France” polo seu engajamento na 1ª Grande Guerra Mundial).

O poeta foi enterrado no camposanto de Père-Lachaise em Paris, tendo a sua tumba uma escultura em forma de menir elaborada por Picasso.


A PONTE MIRABEAU

Sob a ponte Mirabeau corre o Sena

E os nossos amores

É essencial a lembrança pequena

A alegria chegava sempre após a pena.

 

Chega a noite a hora soa

Os dias vão-se e vivo à toa

 

De mãos dadas ficamos face a face

Enquanto sob

A ponte dos braços passe

De eternas miradas a lassa onda que a enlace

 

Chega a noite a hora soa

Os dias vão-se e vivo à toa

Vai-se o amor como esta água corre atenta

Vai-se o amor

ai como a vida é tão lenta

e como a esperança é violenta

 

Chega a noite a hora soa

Os dias vão-se vivo à toa

Dias semanas passam à dezena

Nem tempo passado

Nem nosso amor nossa pena

Sob a ponte Mirabeau corre o Sena


LE PONT MIRABEAU

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu’il m’en souvienne
La joie venait toujours après la peine.

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l’onde si lasse

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

L’amour s’en va comme cette eau courante
L’amour s’en va
Comme la vie est lente
Et comme l’Espérance est violente

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

Guillaume Apollinaire, Alcools, 1913.

 

 

Fonte da imagem .- Wikipédia. Plaque apposée sur la paroi du pont Mirabeau donnant sur le quai Louis-Blériot, Paris 16e. Premiers vers du poème de Guillaume Apollinaire Le Pont Mirabeau paru dans Alcools en 1913 :

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/34/Apollinaire_le_pont_mirabeau_incipit.jpg/640px-Apollinaire_le_pont_mirabeau_incipit.jpg

ASAS ME PÕE O AMOR, E TANTO NO ALTO (Amor m’impenna l’ale, tanto in alto)

ASAS ME PÕE O AMOR, E TANTO NO ALTO (Amor m’impenna l’ale, tanto in alto)

Das minhas traduções.

Um dos poetas que mais me tem maravilhado da ingente literatura italiana é Luigi Transillo, deixo para todos vós, meus queridos amigos e minhas doces amigas uma tradução dum soneto célebre deste autor quase desconhecido no mundo que fala e escreve galego-português.

Luigi Tansillo nasceu em Venosa em 1510. Das suas origens ele próprio escreveu:

« Mio Padre a Nola, io a Venosa nacqui,
L’una origin mi diè, l’altra la cuna»

De inspiração petrarquista e pré-marianista (é chamada escola marianista à corrente estética inaugurada polo poeta Giovan Battista Marino (Nápoles, 14 de outubro de 1569 – Nápoles, 26 de março de 1625) cuja influência se sentiu por toda a Europa sendo a fonte donde manou o preciosismo na França, o eufuismo na Inglaterra (do romance de John Lyly Euphues), o culteranismo e o gongorismo na literatura escrita em castelhano).

Torquato Tasso definiu-o como um dos melhores poetas italianos do Cinquecento, parangonando-o com Angelo di Constanzo e com Bernardino Rota e Tommaso Stigliani considerava-o como mesmo superior a Petrarca.

O poeta morreu em Tenao em 1 de dezembro de 1568.

[O texto em italiano está apanhado de: Ettore Bonora, Luigi Tansillo in Storia della letteratura italiana, vol. IV, Milano-Garzanti.1966].

UM SONETO DO POETA ITALIANO LUIGI TANSILLO VERTIDO AO GALEGO.

 

ASAS ME PÕE O AMOR, E TANTO NO ALTO

 

Asas me põe o amor, e tanto no alto

levanta meu honroso pensamento

que por horas espero e ainda intento

às portas do céu dar alto o assalto.

 

Olho a terra e tremo tão do alto;

mas, quem se esforça dize tão contento,

que se faltava o efeito em tal intento

da glória eterna ser mortal o salto.

 

Pois, se aquele que igual o desejo deu

um tal renome ao mar onde achou morte,

manifestando ao sol seu desvario,

 

cantará de ti o mundo o seu troféu:

Este é que quis levantar a sua sorte

e faltou-lhe a vida, mas não o brio.

 

AMOR M’IMPENNA L’ALE, E TANTO IN ALTO

 

Amor m’impenna l’ale, e tanto in alto

le spiega l’animoso mio pensiero,

che, ad ora ad ora sormontando, spero

a le porte del ciel far novo assalto.

 

Tem’io, qualor giú guardo, il vol tropp’alto,

ond’ei mi grida e mi promette altero

che, s’al superbo vol cadendo, io pero,

l’onor fia eterno, se mortal è il salto.

 

Ché s’altri, cui disio simil compunse,

diè nome eterno al mar col suo morire,

ove l’ardite penne il sol disgiunse,

 

ancor di me le genti potran dire:

«Quest’aspirò alle stelle, e s’ei non giunse,

la vita venne men, ma non l’ardire!».

 

 

Luigi Tansillo  http://lnx.bibliotecatansillo.it/Joomla/images/stories/fruit/tansillo%20sito.jpg

CODA

CODA

Cego ando por eu tanto ter chorado,

bágoas a centos tenho vertido,

não se admirem se em rios dividido

ou em mares não me tenha derramado.

 

Meu coração, aflito e aprisionado,

tem dor em si próprio guarnecido

e assim nos meus poemas tem sentido

o sofrimento onde fico barrado.

 

Eu, que conheci o amor e a fermosura,

permaneço já só com meu quebranto

e a prolongada infinita loucura.

 

Que finde o ousado livro com meu pranto

inundado por versos de tristura.

Feche-se aqui meu dolorido canto.

[Do livro inédito “Sonata dum quebrado violino”]

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