Clair de Lune, poema de Paul Verlaine, versión galego-portuguesa de André Da Ponte

UM POEMA DO GRANDE POETA FRANCÊS PAUL VERLAINE.

Clair de Lune, poema de Paul Verlaine (Metz, no nordeste da França, 30 de março de 1844 – Paris, 8 de janeiro de 1896), da sua coleção Fêtes galantes (1869), foi musicado por Gabriel Fauré em 1887 (Clair de Lune, Op.46 nº 2) e por Claude Debussy duas vezes, em 1882 e novamente em 1892.

O texto original em francês foi tirado da edição Œuvres complètes – Tome I, Vanier, 1902, página 83.

LUAR

A sua alma é uma paisagem escolhida

Que as máscaras bergamascas estão encantando

Tocando o alaúde e dançando quase

Tristes sob os seus disfarces fantásticos.

Enquanto canta tudo no modo menor

O amor que vence e uma vida oportuna,

Não parecem crer na sua felicidade

E a sua música com o luar mistura.

No calmo luar triste e deleitoso,

Que faz sonhar os pássaros nas árvores

E soluçar em êxtase as bicas das fontes,

Os garbos chafarizes de água entre os mármores.

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CLAIR DE LUNE


Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.

Tout en chantant sur le mode mineur
L’amour vainqueur et la vie opportune
Ils n’ont pas l’air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d’extase les jets d’eau,
Les grands jets d’eau sveltes parmi les marbres.

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O AMOR POR TERRA de Paul Verlaine, traducido ao galego por André Da Ponte

O AMOR POR TERRA de Paul Verlaine, traducido ao galego por André Da Ponte

O AMOR POR TERRA

O vento de ontem à noite derrubou o Amor

que, no canto do parque mais misterioso,

sorria, brandindo seu arco, malicioso

cuja aparência nos fez um dia supor!

Esse vento da outra noite o derrubou! O mármore

à brisa matinal gira esparso. E contrista

olhar o pedestal, onde o nome do artista

com esforço lê-se à sombra duma árvore.

Oh! Que é triste olhar tão só o pedestal

e pensamentos bem penosos vêm e vão

e no meu sonhar a profunda comoção

evoca um futuro solitário e fatal.

Como é triste! – E tu, n’é? Estás afetado

com imagem tão triste, fitando à toa

a borboleta de ouro e púrpura que voa

riba do destroço no caminho espalhado

 

 

L’amour par terre

Le vent de l’autre nuit a jeté bas l’Amour
Qui, dans le coin le plus mystérieux du parc,
Souriait en bandant malignement son arc,
Et dont l’aspect nous fit tant songer tout un jour!

Le vent de l’autre nuit l’a jeté bas ! Le marbre
Au souffle du matin tournoie, épars. C’est triste
De voir le piédestal, où le nom de l’artiste
Se lit péniblement parmi l’ombre d’un arbre,

Oh! c’est triste de voir debout le piédestal
Tout seul! Et des pensers mélancoliques vont
Et viennent dans mon rêve où le chagrin profond
Évoque un avenir solitaire et fatal.

Oh! c’est triste! – Et toi-même, est-ce pas! es touchée
D’un si dolent tableau, bien que ton oeil frivole
S’amuse au papillon de pourpre et d’or qui vole
Au-dessus des débris dont l’allée est jonchée.

 

 

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MEU SONHO FAMILIAR de Paul Verlaine, versión galega de André Da Ponte

MEU SONHO FAMILIAR de Paul Verlaine, versión galega de André Da Ponte

MEU SONHO FAMILIAR

Por vezes tenho um sonho muito estranho e pungente

De uma ignota mulher, que eu quero e que ela me quer,

E que não é, é certo, uma única mulher

Nem bem outra, de fato, que me ama e que me sente.

Pois é que ela entende o meu coração, transparente

Para ela só, ai!, não é um problema qualquer

Só pra ela, e a minha testa pálida, se quiser,

Chorando, ela mudaria em frescor envolvente.

É castanha ela, quiçá loira ou ruiva? Isso ignoro

O seu nome? Eu lembro que ele é doce e sonoro,

Como os amantes que a vida exilou para além.

Sua olhada é igual à duma estátua antiga

Com uma voz distante, calma e séria ela tem

As seguras inflexões de muda voz amiga.

MON RÊVE FAMILIER


Je fais souvent ce rêve étrange et pénétrant
D’une femme inconnue, et que j’aime, et qui m’aime,
Et qui n’est, chaque fois, ni tout à fait la même
Ni tout à fait une autre, et m’aime et me comprend.

Car elle me comprend, et mon cœur, transparent
Pour elle seule, hélas ! cesse d’être un problème
Pour elle seule, et les moiteurs de mon front blême,
Elle seule les sait rafraîchir, en pleurant.

Est-elle brune, blonde ou rousse ? — Je l’ignore.
Son nom ? Je me souviens qu’il est doux et sonore,
Comme ceux des aimés que la Vie exila.

Son regard est pareil au regard des statues,
Et, pour sa voix, lointaine, et calme, et grave, elle a
L’inflexion des voix chères qui se sont tues.

(De Poèmes saturniens, Vanier, 1902, Œuvres complètes, volume I (p. 15).).

http://www.larousse.fr/encyclopedie/data/images/1003862-Paul_Verlaine.jpg

CANÇÃO DE OUTONO de Paul Verlaine, traducida ao galego por André Da Ponte

CANÇÃO DE OUTONO de Paul Verlaine, traducida ao galego por André Da Ponte

CANÇÃO DE OUTONO

Os soluços longos

Dos violinos

……Do outono

Ferem meu coração

Com um langor

……Monótono.

Sufocado de todo

E pálido, quando

……Soa a hora.

Meu coração lembra,

Os tempos passados

……E chora.…

E eu me vou

Com o vento mau

……Que me porta.

Para aquí, acolá

Igual à

……Folha morta..

CHANSON D’AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon cœur
D’une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure ;


Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

In Poèmes saturniens, 1902, Œuvres complètes, Volume I, páginas 33-34

 

http://img4.bdbphotos.com/images/700×350/x/2/x2gqy01wphmjymwj.jpg?skj2io4l

 

Paul Verlaine (à esquerda na foto) com Arthur Rimbaud (à direita)

O soneto “As vogais”, de Arthur Rimbaud, vertido ao galego português

ARTHUR RIMBAUD, UM GÉNIO MORTO PARA A POESIA PREMATURAMENTE

O SONETO “AS VOGAIS” VERTIDO PARA GALEGO-PORTUGUÊS

Arthur Rimbaud, que foi nascido em Charleville em 20 de outubro de 1854 e na pia baptismal punheram-lhe o nome de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, escreveu todas as suas obras-primas entre os quinze e os dezaoito anos, um caso espantoso de precocidade genial.

Considerado pola crítica como uma figura a cavalo entre o pós-romantismo e precursor do surrealismo, muda-se para Paris com dezasete anos com o apoio de outro poeta maldito, Paul Verlaine (alguns poemas traduzidos deste autor são acessíveis aqui: http://culturaliagz.com/?s=Paul+Verlaine). Foi por causa do envio do soneto que hoje traduzimos para o poeta de Poemas Saturninos que os dous poetas partem para Londres. A relação de mútuo amor e ódio chega ao seu fim quando Paul Verlaine desfecha uma bala no pulso do autor do soneto As vogais.

Com apenas vinte anos de idade, Rimbaud abandonou para sempre a literatura para retomar a vida sem rumo que levou quando adolescente.


Começou a trabalhar com comércio de café na Etiópia, chegou a fazer parte do Exército das colônias holandesas e do tráfico de armas em Ogaden e visitou o Chipre e Alexandria. A sua caminhada errante terminou quando lhe foi amputada uma perna por um cáncer de joelho.

Morreu no dia 10 de novembro de 1891 em Marselha, após anos de agonia com a só companhia da sua irmã Isabel. Tinha apenas trinta e sete anos de idade.

O soneto que postamos se tornou junto com Le Cœur supplicié (O Coração torturado), o poema mais comentado do poeta. Claude Lévi-Strauss em Regarder écouter lire, Plon,1993, páginas 127-137,  tem explicado o pensamento oculto do poema, não por uma relação direta entre as vogais e as cores declaradas no primeiro verso, mas por uma analogia entre duas oposições, a oposição entre vogais por um lado, e as cores por outro.

Contudo, ainda resultando bastante enigmático o poema, a sonoridade imensa que tem para o leitor obra como uma sorte de fascinação além do sentido que se lhe queira ou poda dar.  

Há, polo menos, duas versões manuscritas antigas do soneto: a primeira é da mão de Rimbaud (a versão autógrafa da mão de Rimbaud é mantida no Musée Rimbaud em Charleville-Mézières) e foi dada ao poeta e dramaturgo Emile Blemont; a segunda é uma cópia de Verlaine de 1871. A sua diferença é essencialmente em pontuação.

Foi Verlaine quem publicou o soneto, na edição de 5 a 12 de outubro de 1883 da revista Lutèce.

Reproduço o soneto em francês segundo a edição “Poemas completos”, prefaciados por Paul Verlaine, Leon Vanier, bibliotecário, ed., París, 1895, página 7.

Na tradução tentei deixar os versos alexandrinos franceses (versos compostos de dous hemistíquios (ou sub-versos) de seis sílabas cada, com um total de doze sílabas). Assim os versos em galego-português têm também doze sílabas, embora, por vezes foi impossível conseguir os hemistíquios.

VOGAIS

A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul: vogais,

desvendarei um dia vossas bases latentes:

A, negro espartilho das moscas reluzentes

Que zumbam à volta dos agres lamaçais,

E, candor de nevoeiros, tendas, de reais,

Lanças de gelos, reis brancos, flores trementes

I, vermelho, cuspindo sangue dentre os dentes

os risos dos lábios raivosos e sensuais;

U, divino abalo dos verdes oceanos,

Paz de fezes cheias de bestas, paz dos anos

Que as rugas grava a alquimia dos escolhos;

Ó Clarim sumo cheio de estrondos profundos,

Silêncios abalados por Anjos e Mundos;

— Ô Omega, raio vermelho dos Seus Olhos!

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VOYELLES


A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu, voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes.
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombillent autour des puanteurs cruelles,

Golfe d’ombre ; E, candeur des vapeurs et des tentes,
Lance des glaciers fiers, rois blancs, frissons d’ombelles
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d’animaux, paix des rides
Que l’alchimie imprime aux grands fronts studieux;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
— O l’Oméga, rayon violet de Ses Yeux!

* FOTO DE PAUL VERLAINE (à direita) e ARTHUR RIMBAUD (à esquerda) em Bruxelas, 1873.

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