A UMA PASSANTE de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A UMA PASSANTE de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

A UMA PASSANTE

 

A rua em torno era um trémulo alarido.
De luto, alta e delgada, com dor majestosa,
Passou uma mulher, com sua mão fastuosa.
Erguia e baloiçava a lista do vestido.

Agil, nobre, tinha a perna de estátua fina.
Como excêntrico parvo, afouto eu lhe bebia
No olhar, lívido céu, emergindo a ventania,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Um lôstrego… e já a noite! – Efêmera beldade
A sua olhada fixo-me nascer por outra vez,
Mais nunca te verei senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! “nunca” talvez!
Nem sabes onde é que eu vou, pois desapareceste,
Oh,tu! que eu amaria. Oh tu, Que o soubeste!

 

 

À UNE PASSANTE

 

Segundo a edição. Michel Lévy frères, 1868 (Œuvres complètes, vol. I, p. 270)

 

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de stautue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair…puis la nuit! – Fugitive beauté
Dont le regard m’a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l’eternité?

Ailleurs, bien loin d’ici! trop tard! “jamais” peut-être!
Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!

 

http://elpulso.hn/wp-content/uploads/2016/08/Flix_Nadar_1820-1910_portraits_Charles_Baudelaire_21.jpg

A MUSA ENFERMA de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A MUSA ENFERMA de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

A MUSA ENFERMA

 

Oh! Minha pobre musa,, que é o que tens, meu amor?

Os teus olhos estão cheios polas visões nocturnas,

E vejo no teu rosto fulgurações de terror,

De loucuras e tremuras frias e taciturnas

 

Algum gnomo esverdeado ou duende sedutor

Verteram no teu corpo, pode ser, um amavio?

Talvez por um pesadelo foi, ou a visão dum pavor

Que te sufocou no fundo dum incrível macio?

 

Quanto bem quisera que tu, saudável e contente

Frequentasses as ideias excelentes na mente,

Que cristão latejante o sangue em ondas te pulsara.

 

Como copiosos toques de sílabas antigas

Onde reinam por seu lado os senhores das cantigas

Febo e o supremo Pã, o dono e senhor da seara

 

 

VII

LA MUSE MALADE

 

(Edição Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 22-23).

Ma pauvre muse, hélas ! qu’as-tu donc ce matin ?
Tes yeux creux sont peuplés de visions nocturnes,
Et je vois tour à tour réfléchis sur ton teint
La folie et l’horreur, froides et taciturnes.

Le succube verdâtre et le rose lutin
T’ont-ils versé la peur et l’amour de leurs urnes ?
Le cauchemar, d’un poing despotique et mutin,
T’a-t-il noyée au fond d’un fabuleux Minturnes ?

Je voudrais qu’exhalant l’odeur de la santé
Ton sein de pensers forts fût toujours fréquenté,
Et que ton sang chrétien coulât à flots rhythmiques,

Comme les sons nombreux des syllabes antiques,
Où règnent tour à tour le père des chansons,
Phœbus, et le grand Pan, le seigneur des moissons.

 

https://cuadernosdelhontanar.files.wordpress.com/2015/10/loffit-charles-baudelaire-06.jpg?w=477&h=477&crop=1

 

 

 IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA (Soneto CXXXII verquido ao galego por André Da Ponte)

 IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA (Soneto CXXXII verquido ao galego por André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

MAIS OUTRO SONETO DE FRANCESCO PETRARCA VERTIDO EM GALEGO-PORTUGUÊS

 

SONETO CXXXII 

Se amor não é, o que é isto que eu sento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é qual?
Se boa, porque é fruto agre e mortal?
Se má, porque tão doce é o seu tormento?

Se com gosto ardo, porque o meu lamento?
Se ao meu pesar, o porque um pranto tal?
Oh, viva morte! Oh, delituoso mal!
porque podes em mim, se eu não consento?

E se te alento, erro grave é queijar-me.
Com ventos avessos vai minha nave
e no alto mar me encontro sem governo,

tão leve de saber, de erro tão grave,
que não sei bem que quero aconselhar-me
e se no vrão tremo, ardo no inverno.

 

Francesco Petrarca (Arezzo, 20 de julho de 1304 – Arquà, 19 de julho de 1374)

 

Il Canzoniere   Rerum vulgarium fragmenta

 

SONETTO CXXXII 

 

S’amor non è, che dunque è quel ch’io sento?

 

S’amor non è, che dunque è quel ch’io sento?
Ma s’egli è amor, perdio, che cosa et quale?
Se bona, onde l’effecto aspro mortale?
Se ria, onde sí dolce ogni tormento?

S’a mia voglia ardo, onde ’l pianto e lamento?
S’a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilectoso male,
come puoi tanto in me, s’io no ’l consento?

Et s’io ’l consento, a gran torto mi doglio.
Fra sí contrari vènti in frale barca
mi trovo in alto mar senza governo,

sí lieve di saver, d’error sí carca
ch’i’ medesmo non so quel ch’io mi voglio,
et tremo a mezza state, ardendo il verno.

 

 

 

https://4.bp.blogspot.com/-K-zOB3V-03E/VPHwHMC5gCI/AAAAAAAAiFA/RpLaaQwwF58/s1600/Petrarca01.jpg

IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA de Francesco Petrarca (Soneto CCXCII traducido ao galego por André Da Ponte)

IL CANZONIERE – RERUM VULGARIUM FRAGMENTA de Francesco Petrarca (Soneto CCXCII traducido ao galego por André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

UM SONETO DE FRANCESCO PETRARCA TRADUZIDO PARA GALEGO-PORTUGUÊS

 

 

CCXCII

 

Os olhos que eu cantei tão vivamente,

e os braços, mãos e pés e o doce viso

que me tinham tão fora do meu siso

fazendo-me distinto da outra gente;

 

Os caracóis, puro ouro reluzente,

e o tão claro e angélico sorriso,

que tornavam o mundo um paraíso,

apenas já são pó que nada sente;

 

E, vivo ainda eu, sofro e desdenho,

pois fico sem o lume que amei tanto,

em grã fortuna e desarmado lenho.
Finda hoje aqui o meu amante canto:

seca está a fonte de que fui engenho

e a minha cítara mudada em pranto.

 

Francesco Petrarca (Arezzo, 20 de julho de 1304 – Arquià, 19 de julho de 1374)

 

Il Canzoniere   Rerum vulgarium fragmenta

 

CCXCII

 

Gli occhi di ch’io parlai sí caldamente,
et le braccia et le mani et i piedi e ’l viso,
che m’avean sí da me stesso diviso,
et fatto singular da l’altra gente;

le crespe chiome d’òr puro lucente
e ’l lampeggiar de l’angelico riso,
che solean fare in terra un paradiso,
poca polvere son, che nulla sente.

Et io pur vivo, onde mi doglio et sdegno,
rimaso senza ’l lume ch’amai tanto,
in gran fortuna e ’n disarmato legno.

Or sia qui fine al mio amoroso canto:
secca è la vena de l’usato ingegno,
et la cetera mia rivolta in pianto.

 

 

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Francesco_Petrarca..jpg

O ALBATROZ de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

O ALBATROZ de Charles Baudelaire (versión galega de André Da Ponte)

Das minhas traduções

 

Do genial poeta francês Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 – Paris, 31 de agosto de 1867),

 

Baudelaire é um dos fundadores da tradição da moderna poesia, junto com o norte-americano Walt Whitman.

Aqui traduzo um poema da sua obra-prima: As flores do mal (Les Fleurs du mal) segundo a edição de Michel Lévy frères, 1868 (Œuvres complètes, vol. I, p. 89), da minha biblioteca..

 

O albatroz

 

Por divertir-se, às vezes, os homens da marinhagem

Caçam os albatroz, o grande pássaro voraz,

Que segue, indolente, aos companheiros de viagem,

O navio que boia pegos de sal audaz.

 

Quase que colocado nas tábuas, estendido

este imperador do céu, tímido e envergonhado

Bate as asas brancas com queixume constrangido,

como remos rojados desabando pra o lado!

 

Que acanhado e débil se acha o viageiro alado!

Há pouco tão elegante e agora a afear.

Excita-lhe um o bico com cachimbo afumado

outro, coxeando, anula quanto lhe faz voar

 

O Poeta é semelhante à princesa ave marinha

Que desdenha do arqueiro, e se encara aos vendavais;

Espatriado está no solo, entre a gente escarninha,

Não lhe deixam caminhar as asas colossais!

 

 

L’ALBATROS

Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule !
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid !
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait !

Le Poëte est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer ;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.

 

 

http://4.bp.blogspot.com/-X4yzPTS138I/ThI4VylkpgI/AAAAAAAAAdA/sEo5HdYAMqs/s1600/2921065091_1_3.jpg