QUANDO FORES VELHINHA, À NOITE À LUZ DA VELA.., de Pierre Ronsard, tradución galego-portuguesa de André Da Ponte

SONETO DE PIERRE RONSARD E ALGO SOBRE O POETA

            Pierre de Ronsard (nascido em setembro de 1524, no Castelo de La Possonnière, perto da aldeia de Couture-sur-Loir na Vendôme, ao norte de Loir-et-Cher, a ambos lados do rio Loir, e falecido em 27 de dezembro de 1585 no convento de Saint-Cosme em Touraine), é um dos mais  importantes, senão é o mais excelso, dos poetas franceses. do século XVI.

            Denominado como “Príncipe dos poetas e poeta dos príncipes”, Pierre de Ronsard é uma das figuras mais importantes na literatura poética europeia. Autor dum vastíssimo trabalho que, em mais de trinta anos, focou tanto em poesia comprometida e oficial no contexto de guerras religiosas com Hinos e Discursos (1555-1564), como no canto épico com La Franciade (1572) ou a poesia lírica com as coleções Les Odes (1550-1552) e Les Amours (Les Amours de Cassandre, 1552, Continuation des amours, 1555 e Sonnets pour Hélène, 1578).

            Tentando imitar os autores clássicos greco-latinos, Ronsard primeiro usou as formas da ode como no belíssimo poema Mignonne, allons voir si la rose… (Fermosa, vamos ver se a rosa…) e o hino, mas ele usará cada vez mais o soneto que fora levado para a França por Clément Marot em 1536, usando primeiramente o decassílabo: Mon dieu, mon dieu, que ma maistresse est belle!,  (Meu deus, meu deus, que minha amante é linda!), embora mais tarde inventado para a poesia francesa o moderno metro do alexandrino: Quand vous serez bien vieille, soneto que vimos a traduzir.

            A coleção de poemas Sonnets por Hélène foi encomendada pola rainha Catarina de Medici para a sua protegida e dama de honra, Hélène de Fonsèque (filha de René de Fonsèque, barão de Surgères e Anne de Cossé), para consolá-la pola perda de seu amante na guerra. Ronsard comprometeu-se a escrever-lhe uma coleção de sonetos, na forma do madrigal, em que elogia a sua beleza comparando-a com a bela Helena, heroína da Guerra de Tróia.

            Uma grande diferença de idade separava Hélène de Ronsard, que tem na altura quase 45 anos, quando se encontram. Foi a rainha que encorajou Ronsard a cortejar Hélène por interposição. A obra é um trabalho de maturidade que celebra um amor platônico por uma mulher que permanece indiferente, ficando como uma obra mestra, não só da poesia francesa, mas de toda a arte ocidental. Ronsard baseando-se na influência que exercia a longa e poderosa sombra de Petrarca e a figura mitológica de Helena de Tróia constrói uma obra cheia de lirismo, languidez e saudade.

            Os Sonetos para Hélène foram publicados em 1578 numa nova edição de Des Amours.

            Ronsard é um grande poeta que não deixa de admirar-nos, que nos surpreende, que nos causa emoção polo seu sublime amor e por uma música nos seus versos duma brilhantez e duma música que só pode ser ronsardiana e que nos transporta até a sua alma sabendo, como ele sabe, que as mulheres amadas hão ser imortais quando delas apenas fique poeira e esquecimento.

            A sua suma elegância, a brilhantez do seu verso cincelado a golpe de fulgor na escolha da palavra justa, o acento ajustado e um rasgamento sem igual em toda a literatura poética da Europa, fazem dele um poeta imprescindível em cada biblioteca e em cada memória. Um poeta que, através das suas inúmeras doenças: surdez, reumatismo, doença de gota, insónia, deu, para as gerações seguintes, uma obra que transpassará os séculos, palavras acesas que chegam até nós ressoando desde factos concretíssimos como um eco que nos atravessa pois para ele somente a escritura poética permite guardar a lembrança e imortalizar à bem-amada.

            Rosard é único, excepcional, singular, incomum e lê-lo é reviver uma das vozes mais belas e autênticas, mais fundas e verdadeiras de toda a poesia.

            Nota.- O texto em francês, na ortografia modernizada, foi colhido de “Une forêt de symboles. La Poésie, une petite anthologie littéraire”, Les Éditions du Carrousel, Paris, 1999, página 117.

QUANDO FORES VELHINHA, À NOITE À LUZ DA VELA…

Quando fores velhinha, à noite à luz da vela,

Sentada ao pé do lume, enovelando e fiando,

Dirás, cantando meus versos, e te maravilhando:

“Ronsard me solenizava no tempo em que era bela.”

E livre do trabalho, então, não há existir aquela,

Que ao cabo dos lavores, e meio dormitando,

Quando o meu nome escuitar não vaia despertando

Ao louvar já o esplendor que o teu nome revela.

Sob o terra dura estarei e, fantasma desossado,

Entre as sombras dos mirtos ficarei, já repousado;

E tu hás estar em casa, velha, débil e abatida,

Chorando o meu amor e polo teu impassível desdém.

Vive tu, sem mim aguardar, polo dia que vem:

e colhe desde hoje as rosas que vai dando-te a vida.

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QUAND VOUS SEREZ BIEN VIEILLE, AU SOIR À LA CHANDELLE…


Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, dévidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous émerveillant:
«Ronsard me célébrait du temps que j’étais belle.»

Lors vous n’aurez servante oyant telle nouvelle,
Déjà sous le labeur à demi sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s’aille réveillant,
Bénissant votre nom, de louange immortelle.

Je serai sous la terre et, fantôme sans os,
Par les ombres myrteux je prendrai mon repos;
Vous serez au foyer une vieille accroupie,

Regrettant mon amour et votre fier dédain.
Vivez, si m’en croyez, n’attendez à demain:
Cueillez dès aujourd’hui les roses de la vie.

http://www.lesvraisvoyageurs.com/wp-content/uploads/2018/12/Pierre-de-Ronsard-Anonyme-du-XVII-si%C3%A8cle-Mus%C3%A9e-de-Blois.jpg

Um grande poeta italiano, TORQUATO TASSO, para além da Jerusalém liberada, por André Da Ponte

UM GRANDE POETA ITALIANO, TORQUATO TASSO, PARA ALÉM DA JERUSALÉM LIBERADA.

            Tasso nasceu em 11 de março de1544 em Sorrento dentro duma família aristocrática. Sua mãe Portia dei Rossi era napolitana de origem. Tasso nasceu quando seu pai, Bernardo Tasso, estava ausente agindo como secretário e poeta cortesano de Ferrante Sanseverino, príncipe de Salerno. O pai voltou a Sorrento em janeiro de 1545; no verão do mesmo ano, o futuro grande poeta foi levado para Salerno, onde passou a sua primeira infância. A partir de 1550 morou com a sua família em Nápoles. Tasso estudou no Colégio do mosteiro beneditino de Cava de Tirreni (onde está a tumba de Urbano II, o Papa que proclamara a Primeira Cruzada) desempenhando brilhantemente os estudos de latim, grego e retórica. Em 1554, Bernardo Tasso recebeu a permissão para poder morar em Roma  e Torquato Tasso viajou só com seu pai. Na cidade pontifícia foi Bernardo quem educou seu filho em particular, e ambos sofreram um grave trauma quando em fevereiro de 1556 souberam da morte de Porzia, provavelmente envenenada polos irmãos por razões de interesse (muito versomilmente para não pagar a dote). Logo após a infeliz perda da esposa e mãe, Bernardo Tasso enviou seu filho para seus pais em Bergamo, enquanto ele mesmo ficava em Urbino, com Guidobaldo de Urbino. Alguns meses depois, o filho juntou-se a ele; aquí, na cidade de Urbino estudou com Francesco Maria II Della Rovere, filho de Guidobaldo, e Guidobaldo Del Monte, então ilustre matemático. Neste período teve como professores o poligrafo Girolamo Muzio, o poeta local Antonio Galli e o matemático Federico Commandino. Torquato passou apenas o verão em Urbino, como a corte passou o inverno em Pesaro Tasso entrou em contato com o poeta Bernardo Cappello e Dionigi Atanagi, e escreveu a primeira composição que conhecemos: um soneto em louvor da corte. Tasso envolveu-se, na altura, na leitura dos grandes poetas clássicos, especialmente Virgílio e Homero. Na primavera de 1559, Bernardo foi a Veneza para o lançamento do seu poema “Amadigi” e o grande poeta seguiu o pai. Neste momento, Torquato compõe os poemas que foram incluídos na coleção coletiva de 1561 e concebe o poema “Rinaldo”, onde o cavaleiro perfeito desenha a ambição e o amor pola dama, notando-se, sobremaneira, as influências diretas de Virgílio. Temente o pai dos conflictos desatados entre o imperador Felipe II e o papa Pablo IV e que os espanhóis pareciam estar prestes a atacar a cidade, enviou Torquato para Bergamo no Palazzo Tasso e para a Villa dei Tasso com alguns parentes e ele se refugiou na corte de Urbino Guidobaldo II Della Rovere, juntando-se o pai alguns meses depois. Nos seus tempos livres, Torquato estudou muito a Platão e Aristóteles, dedicou-se a Dante e escreveu comentários sobre a “Divina Comédia”. Em 1560, seu pai enviou o filho para Pádua com a finalidade que estudasse jurisprudência, actividade que poderia fornecer-lhe no futuro uma segura estabilidade económica; porém, na universidade, Tasso esteve muito mais envolvido na poesia e na filosofia do que com os estudos legislativos. Em 1562, o seu poema “Rinaldo”, longo poema em doze cantos que se pode considerar como o antecedente da sua monumental “Jerusalén liberada” (Gerusalemme liberata) foi publicado em Veneza. O grande poeta tinha na altura apenas 18 anos. Em 1563 e no início de 1564, Torquato continuou os seus estudos em Bolonha, mas foi expulso da cidade por causa de certos poemas satíricos.

            Por convite do Príncipe Schipione Gonzaga, Torquato vai para Pádua, continua estudando e é admitido como membro da Academia degli Eterei (Academia dos Etéreos) onde adota o sobrenome de Pentito (Arrepentido); nessa academia lê os seus poemas frente a um erudito e versado público que fica admirado do seu enorme talento. No verão de 1564 em Mântua, conhece e se apaixona primeiro por Lucrezia Bendiddio e depois por Laura Peperara, a quem dedicou vários poemas. Formado já na Universidade, no verão de 1565 e a convite do Cardeal Luigi D’Este (irmão do Duque de Ferrara) chegou a Ferrara. Foi recebido favoravelmente na corte do Duque Afonso II de Ferrara: a sua erudição e talento poético deram um novo brilho à corte. No início, Tasso ficou cego pola corte de Ferrara e foi especialmente apreciado polas suas damas da corte, lideradas por Marfisa d’Este e as irmãs do Duque, Lucrécia e Leonor. Foi ali que Tasso se reuniu com escritores famosos, incluindo Battista Guarini e Giovan Battista Pigna e foi neste período quando o grande poeta escreveu a primeira cruzada do seu grandioso poema “A Jerusalém liberada” dando-lhe o nome de Gottifredo. Em 1566 os cantos já eram seis e irão aumentar nos anos seguintes. Em 1568 publicou as “Considerações sobre três canções do Giovan Battista Pigna”, onde surgiu a concepção platônica e estilística que Tasso tinha do amor, com algumas notas, no entanto, bastante peculiares, que o levaram a reconhecer o divino em tudo que é belo. e definir o amor puramente físico como uma matriz sobrenatural. Os conceitos foram reafirmados nas “Cinquenta conclusões de amor” publicadas dous anos depois. Os primeiros dez anos em Ferrara foram o período mais feliz da vida de Tasso, em que o poeta viveu apreciado por senhoras e senhores polo seu talento poético e a elegância mundana. Em outubro de 1570, Tasso, juntamente com o cardeal Luigi D’Este, foi para a França, onde conheceu o gigante da poesia Pierre Ronsard (a tradução feita por mim do seu soneto mais célebre: “Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle” pode-se lido aqui: http://culturaliagz.com/?s=Pierre+Ronsard); no entanto, em março do ano seguinte, devido a dificuldades financeiras, o seu empregador deixou Paris. Após o seu retorno não demorou muito em Ferrara; a partir de janeiro de 1572 recebeu um salário na corte do duque, sem desempenhar nenhuma função específica; Acompanhou o duque em viagens a Roma, Pesaro, Veneza. Em 1573, Tasso escreveu o drama pastoral “Aminta”, que é uma das suas obras mais famosas. A obra colossal a “Jerusalém libertada” foi concluída em abril de 1575. Uma vez concluída visitou Roma para o Ano Jubilar. Ao longo de 1576 trabalhou diligentemente, às vezes dolorosamente, para aprimorar o poema. Em abril do mesmo ano, na Páscoa, visitou Módena. En setembro, houve um confronto público entre Tasso e um tal Ercole Fucci, durante o qual o poeta recebeu um golpe na cabeça com um pau. Retornou a Módena, onde compôs poemas em homenagem à poetisa e compositora musical  Tarquinia Molza (Módena, 1 de novembro de 1542–Módena, 8 de agosto de 1617)  e, por fim, voltou para Ferrara em janeiro de 1577.

            Segundo o célebre historiador da literatura italiana Mikhail Leonidovich Andreiev (veja-se a sua monumental История литературы Италии. Том II. Возрождение. Книга 2. Чинквеченто. М., ИМЛИ РАН. —2010. (História da Literatuta Italina. Volume II. Cinquecento. Reavivamento. Livro. M. Ili Ran, 2010): “Em meados dos anos 70 começou a mostrar mais e mais óbvios sinais de mania persecutória, tornando-se medos obsessivos e alcançado o clímax em 1 de junho de 1577 com um ataque de loucura: atacou um servo com uma faca antes de Lucretia D’ Este. Foi submetido no palácio ducal, mas conseguiu fugir na noite do 27 de Julho disfarçado e cruzou a Itália para ir para Sorrento junto da sua irmã… e no seguinte ano e meio passou a viajar entre Roma, Mântua, Veneza, Pesaro e Turim até fevereiro 1579. Voltou novamente para Ferrara, na véspera do casamento do Duque e Margarita Gonzaga. No clímax das celebrações de casamento, em 11 de março, o dia do se aniversário de trinta e cinco anos, a loucura voltou mais uma vez e atacou os cortesãos com ameaças e, ainda que não foi enviado para a prisão, embora para o hospital, foi colocado numa cadeia como um polícia de vigiada”.

            Tasso, segundo indicam estudos recentes, não era simplesmente preso por uma melancolia, mas era ocasionalmente surpreendido polos excessos da mania, por ser perigoso para si mesmo e para os outros, mas mesmo que esses desequilíbrios devessem ter realmente se manifestado, não justificam a tese da loucura ou a necessidade de remover Tasso da corte por um período tão longo. Portanto, com boa probabilidade, a principal razão deve estar ligada mais uma vez com as tentativas estúpidas de recorrer à Inquisição Romana, e a prisão era a única maneira de não comprometer o relacionamento da corte ducal com os Estados Pontifícios.

            No hospital de Santa Ana, o poeta finalmente passou sete anos, mas suas condições de detenção nem sempre foram duras (recomendo com vivo interesse se olhe a pintura de Eugène Delacroix, “Tasso no hospital de Sant’Anna”, estarrecedora recriação da detenção do genial poeta). Às vezes era levado para a cidade e, aparentemente, às vezes podia andar pola rua, o que torna muito provável que Tasso conhecesse Michel Montaigne, que estava em Ferrara em novembro de 1580. E, de fato, nos “Ensaios” é mencionada a lamentável condição do grande poeta italiano; no entanto, no seu diário de viagem, Montaigne negligencia esse encontro (hipotético!). Em julho de 1586, um amigo de Tasso, Vincenzo Gonzaga levou o poeta a Mântua, onde poderia trabalhar em relativa paz, mas logo houve um novo episódio de doença. Em outubro de 1587, Tasso escapou do hospital, foi para Roma através de Bolonha e, em março de 1588, chegou a Nápoles e estabeleceu-se no mosteiro de Olivetan.

            Em novembro de 1588, Tasso voltou a Roma, onde viveu sob o patrocínio de Sipione Gonzaga até agosto de 1589; Devido ao comportamento inadequado foi expulso e retornou ao mosteiro. Em 1590-1591 viveu por sua vez em Florença, Roma e Mântua. Em janeiro de 1592, a convite de Matteo di Cápua foi para Nápoles. Nos últimos anos da sua vida, o poeta criou uma nova versão da sua obra principal: o longo poema em vinte cantos “A Jerusalém conquistada”, que está de acordo com os princípios ideológicos da Contra-Reforma. 1594 recebeu um convite do Papa para acudir a Roma como grande poeta e ser coroado em Campidoglio, mas não há certeza sobre isso e o mais provável é que fosse um delírio do próprio poeta. Tasso em abril de 1595 entrou no mosteiro de São Onofre, no Gianicolo onde, ao que parecia, o ar era mais curativo para ele. Em 25 de abril de 1595, antes de chegar à coroação, Torquato Tasso morre. O grande poeta está enterrado no Trastevere, na igreja de Sant’Onofrio al Gianicolo, localizada no Janículo, parte do rio Trastevere, em Roma.

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A tradução é feita com um soneto de onze sílabas.

O texto em italiano foi recolhido de: “Poesia italiana. Il Cinquecento, a cura di Giulio Ferroni”, Aldo Garzanti Editore, 1978, página 55.

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Enquanto o pêlo de ouro balança entorno

da extensa frente com gracioso error;

enquanto que de vermelhão e linda cor

A primavera o seu rosto faz o adorno.

Enquanto o céu límpido abre em seu retorno,

pegai, ó raparigas, a vaga flor

dos seus mais doces anos; e com amor

conservai vosso semblante sem trastorno.

virá depois o inverno, de branca neve

vestir as colinas e cobrir a rosa

e as chuvas tornarão árduas e tristes.

Colhei, tolas, a flor, porque ela é breve,

e muito fugaz é a hora, e o clima adoça

e ao fim corre rápido quanto vistes.

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MENTRE CHE L´AUREO CRIN V´ONDEGGIA INTORNO

Mentre che l’aureo crin v’ondeggia intorno

a l’ampia fronte con leggiadro errore;

mentre che di vermiglio e bel colore

vi fa la primavera al volto adorno.

Mentre che v’apre il ciel puro il giorno,

cogliete, o giovinette, il vago fiore

de vostri più dolci anni; e con amore

state sovente in lieto e bel soggiorno.

Verrà poi’l verno, che di bianca neve

soul i poggi vestir, coprir la rosa

e le pioggie tornar aride e meste.

Cogliete, ah stolte, il fior, ah siate preste,

che fugaci son l’ore, è’l tempo lieve

e veloce a la fin corre ogni cosa.

Torquato Tasso

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Imagem: “Torquato Tasso e Leonora d’Este”. Pintura de Felice Schiavoni (Trieste, 19 de março de 1803 – Trieste, 30 de janeiro de 1868).  

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Soneto de Joachim du Bellay traducido ao galego-portugués por André Da Ponte

TRADUÇÃO DUM CÉLEBRE SONETO DO POETA FRANCÊS JOACHIM DU BELLAY.

        O primeiro grupo organizado, de que se tenha conhecimento, dentro da poesia francesa, é o denominado como Plêiade. Um grupo que à semelhança das sete estrelas do firmamento, foi composto polos poetas, Pierre de Ronsard, o próprio Joachim du Bellay, Jean-Antoine de Baïf, Rémy Belleau, Jean Dorat, Pontus de Tyard e Étienne Jodelle.

        O manifesto público desta constelação de grandes poetas foi a célebre Defesa e ilustração da língua francesa (1549) ensaio que redigiu o mesmo Du Bellay, mas foi a obra retumbante de Ronsard que alcançou um maior impacto, ao substituir o verso decassílabo italiano polo alexandrino que até hoje impera na poesia francesa.

        Joachim du Bellay nasceu por volta de 1522 em Liré, no Castelo de Turmelière, na região de Anjou. Naquela época era o rei da França Francisco I e o Renascimento estava crescendo, principalmente em termos de cultura e arte. Pertencia a uma família da velha nobreza e ficou órfão com 10 anos. Em 1547, enquanto estudava na Universidade de Poitiers, tornou-se amigo de Pierre de Ronsard e juntos foram para o Collège Coqueret em Paris, onde o helenista Jean Dorat lhes descobriu os autores clássicos greco-romanos e a poesia italiana. Ao redor deles formou-se o grupo poético que será conhecido em princípio como A Brigada e depois como a Plêiade.

        Entre 1553 e 1557, du Bellay tornou-se secretário, em Roma, do cardeal Jean du Bellay, conhecido diplomata e primo de seu pai. O poeta descobre em sua estada de quatro anos a cidade mítica da antiguidade, da qual só restam ruínas, esplendor e depravação. Desgosto e saudade tomaram posse do poeta, sentimentos que inspiram belas páginas como o célebre soneto que verto do francês para a nossa língua e que é tomado da coleção Les Regrets (Os Arrependimentos), segundo a edição «Une forêt de symboles. La Poésie. Une petite anthologie littéraire», Les Éditions du Carrousel, Paris, 1999, página 95.

        Em 1557 retornou à França e publicou As Antiguidades de Roma, os Vários Jogos Rústicos e Saudades (1558). Estas obras obtiveram um grande reconhecimento na época e serviram a Joachim du Bellay para participar da vida intelectual parisiense.

        Morreu repentinamente por aplopexia enquanto trabalhava no seu escritório da casa da rua Massillon de Paris, na noite de 1 de janeiro de 1560, quando tinha somente 37 anos de idade. Sabe-se que está enterrado na catedral de Notre-Dame de Paris, mas não se sabe onde é que ficam os seus ossos.

FELIZ QUEM, COMO ULYSSES, FEZ UMA BELA VIAGEM…

Feliz quem, como Ulisses, fez uma bela viagem,

Ou até como aquele que foi conquisar o Tosão,

E depois foi regressar, cheio de uso e de razão,

Para viver entre os pais o restante da passagem!

Quando eu voltarei rever, ai!, da minha aldeia a imagem,

As lareiras fumegando e qual será a estação

Em que enxergarei de novo minha pobre mansão,

Que vale mais para mim, que uma torre de homenagem?

Mais gosto de meus avós este meu lugar tranquilo,

Que de Roma os palácios com seu audacioso estilo,

Mais que do duro mármore me praz a ardósia fina:

Mais estimo o meu Loire gaulês, que o Tibre latino,

Mais o meu pequeno Liré, que o monte Palatino,

E muito mais do que o ar marinho, a doçura angevina.

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HEUREUX QUI, COMME ULYSSE, A FAIT UM BEAU VOYAGE…

Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,
Ou comme cestuy-là qui conquit la toison,
Et puis est retourné, plein d’usage et raison,
Vivre entre ses parents le reste de son âge!

Quand reverrai-je, hélas, de mon petit village
Fumer la cheminée, et en quelle saison
Reverrai-je le clos de ma pauvre maison,
Qui m’est une province, et beaucoup davantage?

Plus me plaît le séjour qu’ont bâti mes aïeux,
Que des palais Romains le front audacieux,
Plus que le marbre dur me plaît l’ardoise fine:

Plus mon Loire gaulois, que le Tibre latin,
Plus mon petit Liré, que le mont Palatin,
Et plus que l’air marin la doulceur angevine.

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