UM POEMA DE CÉSARE PAVESE E ALGO EM VOLTA DA SUA VIDA E OBRA.

            Nasceu em Santo Stefano Belbo, uma pequena vila tão querida polo mesmo escritor, da região de Langhe, no Piamonte, em 1908 de uma família originária desses lugares. Seu pai, Eugenio Pavese, foi chanceler no Palácio de Justiça de Turim, sua mae, Fiorentina Consolina Mesturini, descendente de uma rica família de comerciantes originários de Ticineto, na província de Alessandria. A sua infância, embora vir de uma família abastada, não foi feliz. Uma irmã e dous irmãos, nascidos antes que o escritor, morreram prematuramente. Sua mãe, de saúde muito fraca, confiou seu filho a uma mulher de uma aldeia perto de Montecucco e, quando morreu o seu marido em 2 de janeiro de 1914 por cáncer cerebral e mudou para Turim, a outra mulher de nome Victoria Scaglione. Sua mãe de caráter autoritário contribuiu, sem qualquer dúvida, para a forma de ser introvertida e inestável do futuro poeta.

            Grande apaixonado polos romancistas e poetas norte-americanos (Sherwood Anderson, Sinclair Lewis e, nomeadamente, Walt Whitman) estudou em Turim, onde se formou com uma tese sobre Walt Whitman, tornando-se especialista em literatura anglo-americana a par que estendia os seus círculos intelectuais com vultos da densidade de Leone Guinzburg, Norberto Bobbio, Massimo Mila e Giulio Einaudi. Na cidade piemontesa, começou a freqüentar os círculos da editora Einaudi, em torno da qual muitos antifascistas se tinham reunido. Nessa altura também começou a trabalhar como tradutor de escritores ingleses e clássicos americanos e contemporâneos, Lee Masters, Edward Estlin Cummings, Robert Lowell, Gertrude Stein, Daniel Defoe, Charles Dickens, Herman Melville, Sherwood Anderson, John Steinbeck e Ernest Hemingway.

            Em 1930 apresentou a sua tese “Sobre a interpretação da poesia de Walt Whitman”, mas Federico Oliviero, o professor com quem ele tinha-a que discutir, rejeitou-a no último momento porque era muito marcada pola estética crociana e, portanto, escandalosamente liberal para a época fascista No entanto, Leone Ginzburg interveio: a tese foi aceita polo professor de literatura francesa Ferdinando Neri e Pavese pôde se formar com 108 pontos sobre 110.

            No mesmo ano em que sua mãe morre Pavese ficou morando na casa de sua mãe com sua irmã Maria, onde viveu até o penúltimo dia de sua vida e começou a atividade de tradutor de forma sistemática, alternando-o com o ensino de inglês.

            Em 1933, para poder ensinar nas escolas públicas, se rendeu, embora com repugnância, à insistência de sua irmã e do seu marido e se filiou no partido fascista, que mais tarde reprovou em carta a sua irmã María de 29 de julho. de 1935, escrito da prisão Regina Coeli: “Para seguir o teu conselho, o futuro, a carreira e a paz, etc., fiz uma primeira cousa contra a minha consciência”.

            Por 1.000 libras traduciu “Moby Dick” de Herman Melville e “O riso escuro” de Anderson, um artigo sobre a Antología do rio Spoon, um sobre Melville e outro sobre O. Henry. O primer poema se remonta a este ano.

            Em 1935 foi condenado ao confinamento em Brancaleone Calabro; aqui começou a escrever uma espécie de diário (A zibaldona), que será publicado postumamente, em 1952, com o título “O ofício de viver”. Voltou a Turim no ano seguinte e durante a guerra escondeu-se na casa da sua irmã Maria, nas colinas de Monferrato. Também a partir desta experiência nasceu um de seus melhores livros, “La casa in collina” (1948).

            No final de 1936, quando o ano do confinamento terminou, Pavese retornou a Turim e teve que enfrentar a decepção de saber que Tina estava prestes a se casar com outra pessoa e que seus poemas haviam sido ignorados. Para ganhar a vida, retomou o seu trabalho como tradutor e, em 1937, traduziu “Uma grande quantidade de dinheiro (o dinheiro extra)” de John Dos Passos para Mondadori e “De ratos e homens” de Steinbeck para a editorial Bompiani. A partir de 1º de maio, concordou em colaborar, com um emprego estável e polo salário de mil liras por mês, com Einaudi, polas séries “Foreign Narrators translated” e “Library of historical culture”, traduzindo “Moll Flanders” de Defoe, “O ano depois da história” e “Experiências pessoais de David Copperfield” de Dickens, além da “Autobiografia” de Alice B. Toklas, a companheira de Stein.

            Em 1943, depois de 8 de setembro, Turim foi ocupada polos alemães e a editora Einaudi também foi encautada por um comissário da República Social Italiana. Pavese, ao contrário de muitos dos seus amigos que estavam se preparando para a luta clandestina, refugiou-se em Serralunga di Crea, uma pequena cidade no Monferrato, onde sua irmã Maria transferira-se e onde  fez amizade com o conde Carlo Grillo, que se tornará no protagonista de “Il diavolo sulle colline” (O demo nas colinas).  Em dezembro, para escapar da incursão dos fascistas italianos e alemães, pediu hospitalidade no Colégio Convitto College de Casale Monferrato. Em 1 de março, ainda na Serralunga, recebeu a notícia da morte trágica de Leone Ginzburg sob tortura na prisão de Regina Coeli. Em 3 de março escreveu:… “Descobri-no em 1 de Março. Exitem outros para nós? Oxalá não fosse verdade para não me sentir mal. Vivo como numa névoa, sempre pensando vagamente. Acaba qualquer um se acostumando a este estado, em que a verdadeira dor sempre se refere ao amanhã, e é por isso que tenho esquecido e não sofro…”

            Em 1950 conheceu Constance Dowling, que tinha ido a Roma com sua irmã Doris, actriz norteamericana, que protagonizara o filme “Riso amaro” com Vittorio Gassman e Raf Vallone, na casa duns amigos e, surpreso com a sua beleza, se apaixonou por ela.

            Sofrendo duma profunda angústia existencial, atormentado pola recente decepção de amor com Constance Dowling, a quem dedicou os versos “Virá a morte e terá teus olhos” pôs fim a sua vida em 27 de agosto de 1950, num quarto do hotel Roma da Piazza Carlo Felice, em Turim, que havia ocupado o dia anterior. Encontraram-no deitado na cama depois de engolir mais de dez pacotes de pílulas para dormir.

            Na primeira página dos Diálogos com Leucò, que estava sobre a mesa, deixou escrito: “Perdoem todos e peço desculpas a todos. Tudo bem. Não façam muito barulho.”

            ALGO SOBRE A POÉTICA DE PAVESE

            A coleção poética “Virá a morte e terá teus olhos”, publicada postumamente, inclui dez poemas (oito em italiano e dous em inglês), todos escritos entre 11 de março e 10 de abril de 1950 em Turim e todos inéditos, encontrados fortuitamente entre os seus papeis após sua morte, em cópia dupla, na mesma ordem em que foram publicados.

            A coleção foi tirada ao lume pola editora Giulio Einaudi em 1951 e também inclui os versos pertencentes ao grupo “A terra e a morte”, compostos em 1945 em Roma e publicados anteriormente, em 1947, na revista “Le Tre Venezie”.

            São poemas de amor imbuídos duma comovente nostalgia escritos em estilo incomum para Pavese, dedicados à atriz norte-americana Constance Dowling, o seu último amor conhecido, no final de 1949, do qual fora abandonado e o deixara num desconforto completo.

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A MORTE VIRÁ E TERÁ OS TEUS OLHOS

A morte virá e terá os teus olhos

— esta morte que nos acompanha

de manhã à noite, insone,

surda, como um velho remorso

ou um vício absurdo. Teus olhos

serão uma palavra vã,

um grito afogado, um silêncio.

Assim é que os vês todas as manhãs

quando a sós te inclinas

no espelho. Ó querida esperança

esse dia, também saberemos

que és a vida e o nada.

Para todos tem a morte um olhar.

A morte virá e terá teus olhos.

Será como desistir dum vício

como mirar no espelho

ressurgir um rosto morto,

como ouvir um lábio fechado.

Desceremos para o remoinho silencioso.

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VERRÀ LA MORTE E AVRÀ I TUO OCCHI

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi-
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Così li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla

Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

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