SONETO DO VINHO

Em que reino, que século, sob qual silenciosa
Conjunção dos astros, em que secreto dia
Que o mármore não salvou, foi a valorosa
E singular ideia de inventar a alegria?

Com outonos de ouro a inventaram. O vinho
Flui vermelho por sobre as gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Nos doa sua música, seu fogo e seus leões.

Na noite de júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E o ditirambo novo que este dia lhe canto


Outrora o cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a minha história
Como se esta já fosse cinza na memória.

Jorge Luís Borges, in “El otro, el mismo”, 1964. Das Obras Completas, Vol. III, Círculo de Lectores, Barcelona, 1995, página 77.

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