TRADUÇÃO DO POEMA “OS DOZE” DE ALEKSANDR BLOK E ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A SUA BIOGRAFIA

Aleksandr Aleksandrovitch Blok (em russo Алекса́ндр Алекса́ндрович Блок; São Pertersburgo, 28 de novembro (jul.) de 1880 – Petrogrado, 7 de agosto de 1921) foi um dos mais grandes poetas do século XX.

O pai do poeta, Alexandr Lvovich Blok (1852-1909) foi advogado e professor na Universidade de Varsóvia e procedia duma família nobre (o irmão do pai, Ivan Lvovich, foi um proeminente estatista russo).

A mãe, Alexandra Andreevna (nascida Bekelova), (1860-1923), era filha do reitor da Universidade de São Petersburgo, um ilustre botânico, Andrei Nikolaevich Beketov (26 de noviembre (8 de dezembro) de 1825 – 1 (14) de julho de 1902).

O matrimónio entre os pais do poeta pouco tempo durou após o nascimento de Alexandr pois ela cessou o relacionamento com o esposo e nunca mais o renovou. Em 1889 obteve a licença de dissolução do casal do Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa e ela casou com o oficial da guarda Franz Feliksovich Kublitsky-Piotukh (1860-1920).

Alexandr passou a viver com sua mãe e o padastro no quartel do Regimento de Granadeiros de Vida ( guardas da unidade militar de infantaria do exército imperial russo) que se encontra na periferia de São Petersburgo, nas ourelas do rio Grande Nevka (o primeiro ramal do delta do rio Neva).

Em 1889 foi enviado para estudar no gimnásio Vvedensky e em 1897 viajou com sua mãe para a cidade balneário alemã de Bad Nauheim. Foi ali onde encontrou o seu primeiro amor, Xenia Sadouskaya que marcou profundamente a sua obra poetica. Nesse mesmo ano acudiu ao funeral do poeta, filósofo e pensador religioso Vladimir Soloviov.

Em 1898 graduou-se no gimnásio e esse mesmo ano conhece a quem vai ser o grande amor da sua vida, Lyuba Blok , quando solteria Mendeleev (São Petersburgo, 29 de dezembro de 1881 – Leninegrado (URSS), 27 de setembro de 1919). Ela era filha do genial químico – o pai da Tabela periódica dos elementos químicos, prevendo as propriedades de elementos que ainda não tinham sido descobertos – Dmitri Ivanovich Mendeleev, em russo: Дми́трий Ива́нович Менделе́ев, (Tobolsk, 8 de fevereiro de 1834 – São Petersburgo, 2 de fevereiro de 1907). Em agosto desse mesmo ano, 1898 foi para a Universidade de São Petersburgo para estudar na Faculdade de Direito, porém, três anos depois mudou-se para o departamento eslavo-russo da Faculdade de História e Filologia, onde se graduou em 1906. Foi na Universidade que conhece e entrelaça amizades com o poeta e tradutor russo (depois soviético) Sergei Mitrofanovich Gorodetsky (São Petersburgo, Império russo, 5 (17) de janeiro de 1884 – Obninsk, URSS, 7 de junho de 1967) e o escritor Alexei Mikhailovich Remizov ( Moscovo, 24 de junio (6 de julho) de 1877 – Paris, 26 de novembro de 1957) . Foi também por estas datas que um primo segundo do poeta, Sergei Mikhailovich Solovyov (Moscovo, 13 (25) de outubro de 1842 – Kazán, URSS, 2 de março de 1942), neto do historiador Soloviev, de A.G. Kovalensky e sobinho do filósofo Vladimir Soloviev, vai se converter no amigo mais íntimo que nunca tivo o grande poeta. 

Desde a sua infância, Alexandr Block passava os verãos na finca de Shakhmatovo, perto de Moscovo, onde a 8 km estava a propriedade Boblovo, propriedade do grande químico Dmitri Mendeleyev. Com 16 anos debutou como actor num teatro de São Petersburgo e, ainda que o poeta tinha apego polos cenários, após a primeira estrea, nunca mais lhe deram papeis no teatro.

Em 1903 Aleksandr Blok casou com Lyubov Mendeleeva, filha como já temos expecificado, do genial Mendeleyev, e heroína do seu primeiro livro de poesia, Versos sobre a Fermosa Senhora. Sabe-se que o grande poeta sentia profundos e fortes sentimentos pola sua esposa, mas também, uma miga voluptuoso, também é conhecido que manteve periodicamente contatos com outras mulheres como a actriz Natalia Volokhova e com a cantante de ópera Lyubov Andreeva-Delmas. Foi com este baseamento que o poeta, romancista e dramaturgo Andrey Bely, uma das principais figuras da literatura do simbolismo russo e do modernismo em geral, escreveu a obra “O espectáculo das marionetas”. E ainda que Bely sempre considerou o enamoramento do poeta com a sua esposa como muuito forte, não obstante também não negou as veleidades do nosso poeta.

Em 1909 dous acontecimentos lutuosos ensombreceram a vida da família Blok, o filho do casal morreu e faleceu, também, o pai de Blok. Com este motivo o matrimónio viaja para Itália e Alemanha e une-se aos membros de uma sociedade literária chamada Academia onde faziam parte Valery Briusov, Mikhail Kuzmin, Vyacheslav Ivanov e Innokenty Annensky.

No verão de 1911, viaja mais outra vez polo estrangeiro, desta vez pola França, a Bélgica e a Holanda (Alexandr Alesandrovich Blok sempre evalou como muito negativos os costumes dos franceses. Vamos, que nunca gustou dos franceses. “Um homem que se prezar nunca se estabeleceria na França”, chegou a escrever). Ainda assim tem de voltar para a França em 1913, desta volta por prescripção médica (e torna a escrever mal sobre os franceses, as francesas, os seus costumes e culinária).

No intermédio escreve um drama “A rosa e a cruz” baseado na procura do conhecimento secreto do trovador provenzal Bertrand de Born. Ainda que a obra, acabada em janeiro de 1913, era do gosto de Stanislavsky e de Nemrovich-Danchenko, nunca se levou à cena.

Em 7 de julho de 1916, o poeta é chamado para a guerra e inscrito no regimento de engenharia de União Zemsky de Toda Rússia. O poeta fez o serviço na Bielorrúsia e, conforme a uma carta que lhe remeteu a sua mãe durante a guerra só teve dous interesses: o catering e os cavalos.

A Grande Revolução de Outubro de 1917 foi recibida com entusiasmo polo genial poeta e, de facto, foi eleito para numerosos cargos das organizações e comités do novo poder dos obreiros e campesninos.

Em janeiro de 1921, Blok, por causa do 84º aniversário da morte de Pushkin, pronunciu um memorável discurso na Casa dos Escritores com o título “Sobre o nomeamento do poeta”.

O intenso trabalho minou a frágil saude do poeta e o 7 de agosto de 1921 faleceu no último apartamento que teve em Petrogrado devido à inflamação das válvulas cardíacas. Apenas chegara aos 41 anos de vida.

Alexandr Blok foi enterrado no campo-santo ortodoxo de Smolensk, em Petrogrado, junto das famílias dos Beketovs e Kachalovs e a sua avô Ariadna Alexandrova. O funeral foi oficiado polo Arquipestre Alexei Zapadalov em 10 de agosto (28 de julho segundo o calendário antigo russo), o dia da celebração do ícone de Smolensk da Mãe de Deus, na igreja da Resurreição de Cristo.

Em 1944 as cinzas do grande poeta foram transladadas para As Pontes Literárias no Cemitério de Volkovsky em São Petersburgo (na altura Leninegrado) – onde estão enterradas tantas grandes personalidades do mundo cultural, científico e mesmo militar russas [O campo-santo de Volkovsky fora inaugurado com o enterramento do escritor do século XIX Alexandr Radishchev, autor dum célebre livro: “Viagens de São Petersburgo até Moscovo”.]

O poema, que traduzo abaixo, e coloco no seu original em russo foi escrito em janeiro de 1918, quase um ano após a Revolução de Fevereiro e apenas dous meses depois da Grande Revolução de Outubro.

BIBLIOGRAFIA EMPREGADA:

 

– «Стихи о прекрасной даме».— М.: «Гриф», 1905 г. Обложка П. А. Метцгер.

Poemas sobre uma bela dama”. – M .: “Pena”, 1905 Portada P.A. Metzger.

– «Двенадцать». — София: Российско-болгарское книгоиздательство, 1920

“Os Doce”.- Sofía: publicación de libros ruso-búlgaros, 1920

– Собрание сочинений в шести томах. Т. 1—6. — М.: ТЕРРА, 2009

Obras recopiladas em seis volumes. T. 1-6.- Moscovo: TERRA, 2009

– Белинков А. В, Михайлов О. Н. Блок А.. // Краткая литературная энциклопедия — М.: Советская энциклопедия, 1962. — Т. 1. — С. 642–645.

Belinkov A. V. , Mikhailov O.N. // Uma breve enciclopédia literária – Moscovo: Encilopédia Soviética, 1962. – T. 1. – P. 642-645.

– Orlov V. N. Gamayun, A vida de Aleksandr Blok, Editorial Escriitor Soviético, Leninegrado, 1978 – 710 páginas.

– BLOK (entrada de R. Crippa), Diccionário Bompiani de Autores Literários, Vol 1, Editorial Planeta-Agostini, Barcelona, 1987, páginas 322-323.

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OS DOZE

I

Entardecer negro.

Branca neve.

Vento, vento!

O homem não pode, de pé, sustentar-se,

Vento, vento!

Que vai polo mundo de Deus todo inteiro!

Redemoinha o vento

a branca neve.

Há geo sob a neve leve.

Esbarrão. Um brado.

Quem a andar se atreve

escorre na rua… Ai, que pobrezinho!

Entre duas casas frente a frente,

deitada há uma corda;

na corda, um cartaz;

Todo o poder para as Constituintes”

Lagrimeja uma velha e não replica.

Não entende o que isso significa.

Para que tão grande cartaz?

Que enorme tela!

Quantas saias poderiam se fazer com ela!

E os pés aos pequenos se lhes congelam…

assustadíssima, a velha

salta um monte de neve como galinha que espreita.

– Ai, Virgem Santíssima!

– Ai, estes bolcheviques ao ataude nos atiram!

Vento que talha como gadanhas.

Frio ao compasso de tudo isso.

Um burguês em cruze de duas ruas,

mete o nariz no pescoço.

Quem é este? Grenhas longas.

Se aletarga a sua voz:

-Traidores! Que horror!

– Morreu a Rússia sem decoro!

Seguramente um escritor,

um bico de ouro.

E eis, um homem que de saias viste,

oculta-se na neve que lhe faz de topo.

Porque hoje andas triste,

pope camarada?

Lembras-te como antes

ias de pança adiantada,

e a cruz encima, tornava brilhante

a barriga inchada?

Uma dama de astracã caracolada

achega-se outra, apenada,

-Quanto temos carpido, chorado…

Cai resvalando,

e – pum! – fica tumbada.

Ai! Ai!

Dá-me a mão, carai!

O alegre vento

alegra-se cruel,

move as longas saias,

sega quem transita.

Racha, abala, agita

esse grande cartaz:

Todo o poder para as Constituintes”

e estas frases clama:

também se reuniram as nossas gentes…

no local de enfrente…

Discutimos,

resolvemos:

Por um tempo, dez rublos; por dormida, vinte pedir.

E de ninguém receber menos…

Vamos dormir…

A tarde caindo.

A gente acovilha-se.

Apenas um vagabundo

os ombros encolhe.

Assobios do vento…

Ei, pobretão, trota mundos!

Vem para a minha casa,

nos abraçaremos…

Pão!

Que espera quem se atrasa?

Passa!

Negros, negros os céus estão.

Ânimo irado, triste cólera, raiva.

O peito se abrassa.

Raiva negra, fúria, santa raiva.

Camarada, de quatro olhos

vigila sem taxa!

II

Passeia o vento, a neve voa.

Os doze homens andam em vela.

Negras correagens dos fuziles,

e em volta deles há luzes a milhares.

Entre os dentes, um charuto;

marca merecem levar os patifes.

Liberdade, liberdade.

Ai, ai, sem cruz ao peito vão!

Tra-ta-ta!

Frio faz, camarada, frio já!

– Com Katka está Vanhka numa má taberna.

– Dinheiro no carpim leva na carteira.

– Vaniuska já é rico, tinha-o sonhado.

– Era dos nossos, tornou-se agora soldado.

– Ai, Vanhka, burguês, ai, filho de cadela,

se a minha Katka beijas, o baque não erra!

Liberdade, liberdade.

Ai, ai, sem cruz ao peito vão!

Katka com Vanhka ocupada está,

Em quê minha querida ocupada estará!

Tra-ta-ta!

E em volta há luzes a milhares…

Nos ombros, fuzis com correagens…

Mais forte o teu passo revolucionário,

que está o inimigo perto e temerário!

Aguenta, camarada, o teu fuzil sem medo.

À Santa Rússia uma bala lancemos,

a do passado,

à das isbas, a esse que chamamos

de cu pesado.

Ai, ai, sem cruz ao peito vão!

III

Assim foram os nossos rapazes

para servir na guarda vermelha,

para servir na guarda vermelha,

e perder as suas loucas cabeças.

Ai, tu, pena em cadeia,

doce vida que tiro;

desgarrada guerreira,

fuzil austríaco!

Para os burgueses podam todos penarem,

o fogo do mundo vamos soprar,

Incêndio do mundo que em sangue nasceu,

Dá-nos, Senhor, a tua benção!

IV

Redemoinhos de neve, grita o cocheiro,

Vanhka com Katka voa no trenó.

E levam os varais

farolzinho elétrico.

Eh, arre, arre!

Leva um capacetinho roto de soldado,

a sua cara é de tolo de todo, de parvo.

Alisa-se, alisa-se o seu negro bigode;

alisa e recreia,

brinca.

Eis a Vanhka, o dos ombros de carrega.

Eis a Vanhka, o dos contos longos.

Abraça sua Katka, a muito paspalha,

a engana…

Ela a cabeça para atrás vai colocar,

e os seus dentinhos como perlas brilham…

Ai, Kátia, Kátia minha,

cara grossinha!

V

Ainda ao teu pescoço, Kátia,

tens de uma navalha o carimbo.

Abaixo de teu peito, Kátia,

ainda recente tens uma rabunhada.

Ei, ei, dança bem!

Que lindos são os teus pés!

Roupinha de encaixe levavas:

Põe-nas agora que eu as veja!

Com oficiais pavoneavas;

pavoneia, agora, pavoneia!

Ei, ei, pavoneia!

De súbito, o coração volteia.

Lembras-te do oficial aquele?

Nada houve que o salvasse…

não lembras, má chispa, dele?

Ou não fica a tua memória clara?

Ei, ei, fazei-a mais clara!

Deita-te com ele, juntai a cara!

Levavas polainas e anéis nas orelhas,

engolias chocolate afamado.

Ias passear com os cadetes,

agora passeias com os soldados?

Ei, ei, peca sem calma,

será um alívio para a tua alma!

VI

…Voando, achega-se o cocheiro à dianteira.

Voa, vocifera, grita…

Alto! Alto! Marela, ajuda, não te escondas.

Por trás, Loira, corre!

Tra-ta-ta-ta-ta!

Poeirinha de neve para o céu vai.

Vanhka quer fugir com o cocheiro…

Ergue mais outra vez teu gatilho ligeiro!

Tra-ta-ta-ta! Havemos nós de te ensinar

para onde te leva com a rapaza de outros farrear…

Fugiu o canalha! Já hás ver, eu te digo,

como amanhã acabarei contigo.

Aonde está Kátia? Morta, morta a deixou.

A sua cabeça uma bala atravessou!

Contente, Kátia? Cala, cala, nada se move!…

Fica, como carronha, acá, sobre a neve!

Mais forte, teu passo, revolucionário,

que está o inimigo perto e temerário!

VII

Mais outra vez vão os doze,

sobre os ombros portam fuzilitos.

E só ao desgraçado assassino

não se lhe enxerga a cara de contrito.

Mais rápido o arquejo,

os passos acelera ao afastar-se.

Um pano envolve ao pescoço.

Não pode sossegar-se.

– Porquê, estás , camarada, assim aflito?

– Porquê, amiguinho, o medo te condena?

– Porquê, Pedrinho, andas cabisbaixo?

– É que Katka te dá lástima ou pena?

– Meus bons camaradas destas horas!

Eu essa rapariga queria…

Noites embriagantes

passei junto dela noutros dias…

Pola força arrogante dos seus olhos

como de lume feitos;

por aquele lunar vermelho

junto ao seu ombro direito,

eu matei, homem fraco;

perdia-a num instante de despeito;

-Como nos maça este maldito!

Talvez, Pétia, és uma mulher?

– É que desejas tirar tua alma num grito

para nos deixá-la ver?

– Tua altivez mantém de soldadinho!

– E dominar-te, isso é o que tens de fazer!

– Não, não, é esta a hora

de mimos de babá,

porque uma carrega agora

mais grande, camarada, nos aguarda!

E já Pedrinho dá

mais lentos os seus passos…

A cabecinha eleva,

e mais outra vez alegra…

Ei, ei,

não é pecado mortal se é que se brinca!

Fechai as casas,

que hoje há haver saques sem taxa!

Abri as adegas,

hoje brinca a gente inquieta!

VIII

Ai, tu, pena em cadeia,

nojo tenebroso

de morte!

Oh, que bem o tempinho

passarei, passarei eu!…

Oh, que bem a coroa

ranharei, cuspirei eu!…

Oh, que bem do girassol a casca

cuspirei, cuspirei eu!…

voa tu, burguês, como um pardalzinho!

Beberei sangue,

por essa amiguinha

de celhas negrinhas…

Requiescat in pace, a alma, Senhor, da tua serva…

Que náusea!

IX

Não se ouve ruido algum na cidade.

Um silêncio grave chegou sobre o Nevá.

Nenhum guarda há já.

Fazei brincadeiras, rapazes, e sem vinho!

Num entroncamento está o burguês;

o seu nariz no pescoço escondeu.

Um cão enreda-se lhe entre os pés,

sarnento, sujo, com o rabo caído.

O burguês silencioso e indecisso,

igual ao cão lá está,

e o velho mundo, como cão sarnento,

com o rabo caído está detrás.

X

A chúvia com neve põe-se furiosa.

Ai, tu, nevinha, nevinha!

A quatro passos não se enxergam as cousas,

tornam-se ariscas.

A neve brada em forma de garganta.

A neve em colunas se levanta.

-Ah, meu Deus, que forte é a nevada!

– Pedrinho, em que parvadas atolas!

De que te salvaram

o altar dourado?

Que pouco sentido também;

pensa, mira-o bem,

é que sangue não tens nas mãos frias

por amor que a Katka tinhas?

Mais firme o teu passo, revolucionário,

que está o inimigo perto e temerário!

Avante, avante, avante o fragor,

povo trabalhador!

XI


… E sem nenhum nome sagrado,
os doze a continuar avançam.
Estão dispostos a tudo,
sem lamentar nada…

Os seus fuzis de aceiro apontam
contra o inimigo que não se enxerga…
por escuras ruelas,
onde a neve impetuosa vai cair…
E da mole neve
não podem as botas sair…

A bandeira vermelha
os olhos lhes bate.

Ouvem-se
os seus passos ritmados.


A qualquer momento pode despertar
o inimigo insensível.

E a neve nos olhos caía
noite e dia
sem parar…

Avante, a avançar,
povo trabalhador!

 

XII

E vão à frente com seguro passo…

– Há alguém aí? Que se apresente!

Não, apenas o vento que joga no raso

da vermelha bandeira que lhes dá na frente…

À frente se ergue um monte de neve,

-Há alguém nele? Que se apresente!

Só um cão mendigo e faminto se atreve

a ir, rengueando, detrás da gente…

-Detrás não nos sigas, cadelo sarnento,

com a baioneta rir hei te fazer.

E tu, velho mundo, cão piolhoso,

afunde, ou eu mesmo vou te desfazer!

…Ensina os dentes como lobo faminto;

não queres deixar-nos, o rabo caído,

cão vagabundo, perro friolento.

-Ei, contesta pronto! Quem vai? Ouviste?

-Quem move à frente a bandeira vermelha?

-Olha entre as sombras, seguro alguém passa.

-Quem anda que os passos, ao cruzar, afrouxa

e quer se ocultar por detrás das casas?

-Dá o mesmo o que haja, eu vou agarrá-lo.

-Melhor que te rendas, depois já veremos.

-Ei, ei, camarada, bem mal vás passá-lo;

sai ou começamos contra ti abrir fogo!

Tra-ta-ta-ta-ta! Só, só o eco

ressoa nas casas e de leve vai…

Só a trovoada com queixumes secos

por entre a neve, gargalhadas dá.

Tra-ta-ta-ta,

tra-ta-ta-ta!

Com passo seguro assim vão sem pesar.

Seguindo as suas pegadas, um cão grande e bem listo.

E a frente deles com bandeira vermelha,

invisível na neve de alvores de asas,

imune às balas,

andando no ar com um passo leve,

levando um tesouro de perlas de neve,

coroa de rosas, como jamais se tem visto,

à frente deles, vai Jesus Cristo…

Janeiro, 1918

Двенадцать

I


Черный вечер.
Белый снег.
Ветер, ветер!
На ногах не стоит человек.
Ветер, ветер —
На всем божьем свете!

Завивает ветер
Белый снежок.
Под снежком — ледок.
Скользко, тяжко,
Всякий ходок
Скользит — ах, бедняжка!

От здания к зданию
Протянут канат.
На канате — плакат:
«Вся власть Учредительному Собранию!»
Старушка убивается — плачет,
Никак не поймет, что значит,
На что такой плакат,
Такой огромный лоскут?
Сколько бы вышло портянок для ребят,
А всякий — раздет, разут…

Старушка, как курица,
Кой-как перемотнулась через сугроб.
— Ох, Матушка-Заступница!
— Ох, большевики загонят в гроб!

Ветер хлесткий!
Не отстает и мороз!
И буржуй на перекрестке
В воротник упрятал нос.

А это кто? — Длинные волосы
И говорит вполголоса:
— Предатели!
— Погибла Россия!
Должно быть, писатель —
Вития…

А вон и долгополый —
Сторонкой — за сугроб…
Что́ нынче невеселый,
Товарищ поп?

Помнишь, как бывало
Брюхом шел вперед,
И крестом сияло
Брюхо на народ?..

Вон барыня в каракуле
К другой подвернулась:
— Ужь мы плакали, плакали…
Поскользнулась
И — бац — растянулась!

Ай, ай!
Тяни, подымай!

Ветер веселый
И зол, и рад.
Крутит подолы,
Прохожих ко́сит,
Рвет, мнет и носит
Большой плакат:
«Вся власть Учредительному Собранию»…
И слова доносит:

…И у нас было собрание…
…Вот в этом здании…
…Обсудили —
Постановили:
На время — десять, на́ ночь — двадцать пять…
…И меньше — ни с кого не брать…
…Пойдем спать…

Поздний вечер.
Пустеет улица.
Один бродяга
Сутулится,
Да свищет ветер…

Эй, бедняга!
Подходи —
Поцелуемся…

Хлеба!
Что́ впереди?
Проходи!

Черное, черное небо.

Злоба, грустная злоба
Кипит в груди…
Черная злоба, святая злоба…

Товарищ! Гляди
В оба!

II

Гуляет ветер, порхает снег.
Идут двенадцать человек.

Винтовок черные ремни,
Кругом — огни, огни, огни…

В зубах — цыгарка, примят картуз,
На спину б надо бубновый туз!

Свобода, свобода,
Эх, эх, без креста!

Тра-та-та!

Холодно, товарищ, холодно!

— А Ванька с Катькой — в кабаке…
— У ей керенки есть в чулке!

— Ванюшка сам теперь богат…
— Был Ванька наш, а стал солдат!

— Ну, Ванька, сукин сын, буржуй,
Мою, попробуй, поцелуй!

Свобода, свобода,
Эх, эх, без креста!
Катька с Ванькой занята —
Чем, чем занята?..

Тра-та-та!

Кругом — огни, огни, огни…
Оплечь — ружейные ремни…

Революционный держите шаг!
Неугомонный не дремлет враг!

Товарищ, винтовку держи, не трусь!
Пальнем-ка пулей в Святую Русь —

В кондову́ю,
В избяну́ю,
В толстозадую!

Эх, эх, без креста!

III

Как пошли наши ребята
В красной гвардии служить —
В красной гвардии служить —
Буйну голову сложить!

Эх ты, горе-горькое,
Сладкое житье!
Рваное пальтишко,
Австрийское ружье!

Мы на го́ре всем буржуям
Мировой пожар раздуем,
Мировой пожар в крови —
Господи, благослови!

IV


Снег крутит, лихач кричит,
Ванька с Катькою летит —
Елекстрический фонарик
На оглобельках…
Ах, ах, пади!..

Он в шинелишке солдатской
С физиономией дурацкой
Крутит, крутит черный ус,
Да покручивает,
Да пошучивает…

Вот так Ванька — он плечист!
Вот так Ванька — он речист!
Катьку-дуру обнимает,
Заговаривает…

Запрокинулась лицом,
Зубки блещут жемчуго́м…
Ах ты, Катя, моя Катя,
Толстоморденькая…

V


У тебя на шее, Катя,
Шрам не зажил от ножа.
У тебя под грудью, Катя,
Та царапина свежа!

Эх, эх, попляши!
Больно ножки хороши!

В кружевном белье ходила —
Походи-ка, походи!
С офицерами блудила —
Поблуди-ка, поблуди!

Эх, эх, поблуди!
Сердце ёкнуло в груди!

Помнишь, Катя, офицера —
Не ушел он от ножа…
Аль не вспомнила, холера?
Али память не свежа?

Эх, эх, освежи,
Спать с собою положи!

Гетры серые носила,
Шоколад Миньон жрала,
С юнкерьем гулять ходила —
С солдатьем теперь пошла?

Эх, эх, согреши!
Будет легче для души!

VI

…Опять навстречу несется вскачь,
Летит, вопит, орет лихач…

Стой, стой! Андрюха, помогай!
Петруха, сзаду забегай!..

Трах-тарарах-тах-тах-тах-тах!
Вскрутился к небу снежный прах!..

Лихач — и с Ванькой — наутек…
Еще разок! Взводи курок!..

Трах-тарарах! Ты будешь знать,
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Как с девочкой чужой гулять!..

Утек, подлец! Ужо, постой,
Расправлюсь завтра я с тобой!

А Катька где? — Мертва, мертва!
Простреленная голова!

Что́, Катька, рада? — Ни гу-гу…
Лежи ты, падаль, на снегу!..

Революцьонный держите шаг!
Неугомонный не дремлет враг!

VII

И опять идут двенадцать,
За плечами — ружьеца.
Лишь у бедного убийцы
Не видать совсем лица…

Всё быстрее и быстрее
Уторапливает шаг.
Замотал платок на шее —
Не оправиться никак…

— Что, товарищ, ты не весел?
— Что, дружок, оторопел?
— Что, Петруха, нос повесил,
Или Катьку пожалел?

— Ох, товарищи, родные,
Эту девку я любил…
Ночки черные, хмельные
С этой девкой проводил…

— Из-за удали бедовой
В огневых ее очах,
Из-за родинки пунцовой
Возле правого плеча,
Загубил я, бестолковый,
Загубил я сгоряча… ах!

— Ишь, стервец, завел шарманку,
Что ты, Петька, баба, что ль?
— Верно, душу наизнанку
Вздумал вывернуть? Изволь!
— Поддержи свою осанку!
— Над собой держи контроль!

— Не такое нынче время,
Чтобы нянчиться с тобой!
Потяжеле будет бремя
Нам, товарищ дорогой!

— И Петруха замедляет
Торопливые шаги…

Он головку вскидава́ет,
Он опять повеселел…

Эх, эх!
Позабавиться не грех!

Запирайте етажи,
Нынче будут грабежи!

Отмыкайте погреба —
Гуляет нынче голытьба!

VIII

Ох ты, горе-горькое!
Скука скучная,
Смертная!

Ужь я времячко
Проведу, проведу…

Ужь я темячко
Почешу, почешу…

Ужь я семячки
Полущу, полущу…

Ужь я ножичком
Полосну, полосну!..

Ты лети, буржуй, воробышком!
Выпью кровушку
За зазнобушку,
Чернобровушку…
Упокой, господи, душу рабы твоея…

Скучно!

IX

Не слышно шуму городского,
Над невской башней тишина,
И больше нет городового —
Гуляй, ребята, без вина!

Стоит буржуй на перекрестке
И в воротник упрятал нос.
А рядом жмется шерстью жесткой
Поджавший хвост паршивый пес.

Стоит буржуй, как пес голодный,
Стоит безмолвный, как вопрос.
И старый мир, как пес безродный,
Стоит за ним, поджавши хвост.

X

Разыгралась чтой-то вьюга,
Ой, вьюга́, ой, вьюга́!
Не видать совсем друг друга
За четыре за шага!

Снег воронкой завился,
Снег столбушкой поднялся…

— Ох, пурга какая, спасе!
— Петька! Эй, не завирайся!
От чего тебя упас
Золотой иконостас?
Бессознательный ты, право,
Рассуди, подумай здраво —
Али руки не в крови
Из-за Катькиной любви?
— Шаг держи революцьонный!
Близок враг неугомонный!

Вперед, вперед, вперед,
Рабочий народ!

XI

…И идут без имени святого
Все двенадцать — вдаль.
Ко всему готовы,
Ничего не жаль…

Их винтовочки стальные
На незримого врага…
В переулочки глухие,
Где одна пылит пурга…
Да в сугробы пуховые —
Не утянешь сапога…

В очи бьется
Красный флаг.

Раздается
Мерный шаг.

Вот — проснется
Лютый враг…

И вьюга́ пылит им в очи
Дни и ночи
Напролет…

Вперед, вперед,
Рабочий народ!

XII

…Вдаль идут державным шагом…
— Кто еще там? Выходи!
Это — ветер с красным флагом
Разыгрался впереди…

Впереди — сугроб холодный,
— Кто в сугробе — выходи!..
Только нищий пес голодный
Ковыляет позади…

— Отвяжись ты, шелудивый,
Я штыком пощекочу!
Старый мир, как пес паршивый,
Провались — поколочу!

…Скалит зубы — волк голодный —
Хвост поджал — не отстает —
Пес холодный — пес безродный…
— Эй, откликнись, кто идет?

— Кто там машет красным флагом?
— Приглядись-ка, эка тьма!
— Кто там ходит беглым шагом,
Хоронясь за все дома?

— Все равно, тебя добуду,
Лучше сдайся мне живьем!
— Эй, товарищ, будет худо,
Выходи, стрелять начнем!

Трах-тах-тах! — И только эхо
Откликается в домах…
Только вьюга долгим смехом
Заливается в снегах…

Трах-тах-тах!
Трах-тах-тах…

…Так идут державным шагом,
Позади — голодный пес,
Впереди — с кровавым флагом,
И за вьюгой, невидим,
И от пули невредим,
Нежной поступью надвьюжной,
Снежной россыпью жемчужной,
В белом венчике из роз —
Впереди — Исус Христос.

Январь 1918

 

 

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