Das minhas traduções

 

O POEMA “O LAGO” DE ALPHONSE DE LAMARTINE TRADUZIDO PARA O GALEGO  E UMA NOTA SOBRE O POEMA.

  

É perto do lago de Bourget, na Saboia, que Lamartine escreveu este célebre poema, uma das obras mestras da literatura em francês e ainda de toda a literatura universal.

 Julie Charles, esposa do célebre físico Jacques Charles (Beaugency, Orléanais, hoje Loiret, 12 de novembro de 1746 – Paris, 7 de abril de 1823), devia se juntar com o poeta em agosto de 1817 no Lago de Bourget, lugar de múltiplos encontros entre os dous amantes, mas a enfermidade dela reteve-a em Paris, onde viu a morrer em dezembro do mesmo ano vitimada pola tísica pulmonar.

 No seu Comentário ao poema, Lamartine fez alusão à música que Niedermeyer (Abraham-Louis de Niedermeyer d’Altenburg, nascido em Nyon, Suíça, 27 de abril de 1802 e morto em 14 de março de 1861 em Paris) compôs sobre Le Lac: “Sempre pensei que a música e a poesia nutriam-se se associando. Ambas são artes completas: A música leva consigo o seu sentimento; os belos versos portam com eles a sua melodia.”

 Os críticos franceses concordam que é, junto com Tristesse d’Olympio de Victor Hugo e Souvenir de Alfred de Musset, o mais belo poema que se tem escrito por autores galos no século XIX.

 

O LAGO

Assim, empurrados sempre para novas ourelas,

Na eterna noite, sem retorno, levados,

Nunca poderemos no oceano dos tempos

deixar um só dia os esteios ancorados?

 

Ó lago!, o ano se tem cumprido apenas,

E estou cá solitário. Suas pegadas

não voltarão deixar nas tuas areias

A que desta rocha, ainda ontem, sereias

Deitou em ti as suas olhadas!

 

E assim como agora, então ressoavas;

Mugindo vais como naqueles dias,

Contra estas penas o teu furor desbravas,

E com a branca espuma o mesmo musgo lavas

Onde os seus pés lambias.

 

Uma tarde, te lembras? Em enlevo supremo

Íamos ela e eu, em silêncio bogando,

E sob o céu azul, de um a outro extremo,

Mas tão só se escuitava o bater do remo

nas ondas cadenciando.

 

E foi que de repente aquele mudo vento

Cativou encantado uma voz divina;

Nunca ninguém sonhara um tão tal doce acento

na água cristalina:

 

“Ó tempo! Suspende tua carreira,

Não quebres nosso enlevo,

Tu, tempo voador.

Deixa-nos gozar por sempre

os mágicos instantes

que cá brinda o amor.

 

“Quantos infelizes cá baixo não te imploram

No teu correr fugaz;;

Toma com os seus dias os seus que os devoram;

Deixa o ditoso em paz.

 

“Mas eu demando em vão que nesta mansa noite

lento mova seu pé;

As estrelas já rodam e no oriente pálido

A aurora já se vê.

 

“Amemos, pois, amemos na hora fugitiva,

Apressados gozemos!

Nem tem o homem porto nem o tempo ribeira;

Que flua e nos passemos!”

 

Por enquanto o mal acerbo dura,

O tempo que à sua vista se adormece,

A roubar-nos a dita se apressura

E o momento que encerra mais doçura,

Fuje e desaparece.

 

E nunca há de voltar o que é passado?

Tudo quanto se foi ficou perdido,

E para sempre o sepulta o fado

Em mudo seio, trás alto valado,

Em sempiterno olvido?

 

Nem ainda guardaremos suas pegadas?

Para onde vão as delícias que devoras,

Que fazeis Eternidade, sombras abismadas,

das deglutidas horas?

 

Ó lago! rochas mudas! covas! selva escura!

Perdoa-vos o tempo ou talvez

Beleza vos torna, a fermosura

Dessa noite guardai. Salva, ó Natura,

Sua lembrança sequer!

 

Perene é o recordo, ó lago,

Em teu recinto, nas suaves frondas

Que te envolvem com ridente afago,

Nestas rochas que com turvo âmago

Colgam sobre tuas ondas!

 

Que seja no zéfiro que treme e que passa,

Nas copas sussurrantes que as folhas humilha,

E na argêntea lua que branqueja sua cara

E que no éter brilha.

 

Que o vento que geme, a roseira que suspira,

Que os perfumes leves que os ares ambientaram,

Quanto aqui se senta, se veja ou se respira,

Tudo diga: eles se amaram!

 

Alphonse de Lamartine (Mâcon, 21 de outubro de 1790 – Paris, 28 de fevereiro de 1869)

 

[Tradução do texto em francês recolhido em “Lamartin. Chefs-d´oeuvre poétiques”, Librairie A. Hatier, Paris, s/d, páginas 13-15]

 

Le Lac

Ainsi, toujours poussés vers de nouveaux rivages,

Dans la nuit éternelle emportés sans retour,

Ne pourrons-nous jamais sur l’océan des âges

Jeter l’ancre un seul jour ?

 

Ô lac ! l’année à peine a fini sa carrière,

Et près des flots chéris qu’elle devait revoir,

Regarde ! je viens seul m’asseoir sur cette pierre

Où tu la vis s’asseoir !

 

Tu mugissais ainsi sous ces roches profondes,

Ainsi tu te brisais sur leurs flancs déchirés,

Ainsi le vent jetait l’écume de tes ondes

Sur ses pieds adorés.

 

Un soir, t’en souvient-il ? nous voguions en silence ;

On n’entendait au loin, sur l’onde et sous les cieux,

Que le bruit des rameurs qui frappaient en cadence

Tes flots harmonieux.

 

Tout à coup des accents inconnus à la terre

Du rivage charmé frappèrent les échos ;

Le flot fut attentif, et la voix qui m’est chère

Laissa tomber ces mots :

 

” Ô temps ! suspends ton vol, et vous, heures propices !

Suspendez votre cours :

Laissez-nous savourer les rapides délices

Des plus beaux de nos jours !

 

” Assez de malheureux ici-bas vous implorent,

Coulez, coulez pour eux ;

Prenez avec leurs jours les soins qui les dévorent ;

Oubliez les heureux.

 

” Mais je demande en vain quelques moments encore,

Le temps m’échappe et fuit ;

Je dis à cette nuit : Sois plus lente ; et l’aurore

Va dissiper la nuit.

 

” Aimons donc, aimons donc ! de l’heure fugitive,

Hâtons-nous, jouissons !

L’homme n’a point de port, le temps n’a point de rive ;

Il coule, et nous passons ! “

 

Temps jaloux, se peut-il que ces moments d’ivresse,

Où l’amour à longs flots nous verse le bonheur,

S’envolent loin de nous de la même vitesse

Que les jours de malheur ?

 

Eh quoi ! n’en pourrons-nous fixer au moins la trace ?

Quoi ! passés pour jamais ! quoi ! tout entiers perdus !

Ce temps qui les donna, ce temps qui les efface,

Ne nous les rendra plus !

 

Éternité, néant, passé, sombres abîmes,

Que faites-vous des jours que vous engloutissez ?

Parlez : nous rendrez-vous ces extases sublimes

Que vous nous ravissez ?

 

Ô lac ! rochers muets ! grottes ! forêt obscure !

Vous, que le temps épargne ou qu’il peut rajeunir,

Gardez de cette nuit, gardez, belle nature,

Au moins le souvenir !

 

Qu’il soit dans ton repos, qu’il soit dans tes orages,

Beau lac, et dans l’aspect de tes riants coteaux,

Et dans ces noirs sapins, et dans ces rocs sauvages

Qui pendent sur tes eaux.

 

Qu’il soit dans le zéphyr qui frémit et qui passe,

Dans les bruits de tes bords par tes bords répétés,

Dans l’astre au front d’argent qui blanchit ta surface

De ses molles clartés.

 

Que le vent qui gémit, le roseau qui soupire,

Que les parfums légers de ton air embaumé,

Que tout ce qu’on entend, l’on voit ou l’on respire,

Tout dise : Ils ont aimé !

 

 

O LAGO DU BOURGET CANTADO POLO POETA.

 

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