ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (VI)
Abu Salma
(Abd al-Karim al-Karmi)
عبد الكريم الكرمي
O herói
Você defendeu a terra de Palestina
e agora a terra não abraça o seu cadáver.
Chora-te Naplusa além das fronteiras
e Jafa e Jerusalém e os outeiros.
Se não abraça a minha terra seus filhos
como hão sanar os nossos feridos peitos?
Como hei chorar por ti, se és o povo e a história?
És a lâmpada na densa escuridade.
Choro polos* vivos que humilhados vivem,
para os que a vida é igual que morte.
Pois sim
Pois sim. Voltarão milhares de vítimas:
As vítimas da opressão
abrem todas as portas.
Cada vez que por ti luitei
Cada vez que por ti luitei*, amei-te mais.
Que outro chão há, de almíscar e ámbar?
E que outro horizonte perfumado?
Cada vez que a tua terra defendi,
reverdecia o ramo da existência
e no alto dos cimos, Palestina,
as minhas asas se estendiam.
Palestina, de nome inspirador e mágico!
Mostra-se o moreno na tua face:
É morena a beleza.
E o poema de Abqar8 ainda leio nos teus olhos
entanto as ondas quebram nas ourelas de Acre.
Floresceu porventura o limoeiro com as nossas bágoas*?
Nấo cingem já a aurora os pássaros do pinheiro,
nem nocturnas estrelas velam por cima do Carmelo.
Hão-se botar a chorar, sem nós, os hortos,
pobres hão se tornar os jardins
e as vermelhas videiras quebrarão em mil véus.
Ah! olha Palestina a admirável imagem do teu corpo
vingando-se no fogo da revolução e o éxodo!
Unicamente uma pátria é libertada se o povo se libertar.
Todos os homens possuem uma casa,
um alaúde e uns sonhos,
mas eu, com a história do meu país às costas,
tropeço. Cheio de pó prossigo, desgrenhado,
por todos os caminhos.
Onde quer que o teu nome sobre mim esvoaçasse
o poema foi mais poema.
As minhas palavras semeiam de desejos todos os acampamentos,
fachos são por todos os exílios e desertos.
Ó Palestina!
Nada há mais amado, mais doce nem mais puro!
Quanto mais luitei* por ti, amei-te mais.
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(O poeta Abu Salma, no meio, em conversa com outros dous grandes poetas palestinos: Tawfiq Zayyadd, à direita da foto e Makhmud Darwish na esquerda)
8Tópico literário de tradição anterior ao islã, sinônimo de lugar mágico povoado de génios.