A VITÓRIA COLONNA

Não tem um grande artista um só preceto

que a um tão só mármore se circunscreva

o seu repor, porque é que a isso leva

a mão que tem respeito ao intelecto.

 

O mal do que fujo e o bem que prometo,

ó linda mulher, altaneira e diva,

está em ti e esta arte, porque não viva,

tem na contrária o desejado afeto.

 

Não é nos amores, nem na beldade,

nem fado, nem rigor, desdém ingente,

causas do mal, nem sina, nem a sorte,

 

se no teu seio a morte e a piedade

levas à vez, a arte é impotente,

e acho a tanto ardor só a minha morte.

 

 

Miguel Ângelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 – Roma, 18 de fevereiro de 1594), mais conhecido simplesmente como  Miguel Ângelo.

À Vittoria Colonna

Non ha l’ottimo artista alcun concetto,
Ch’ un marmo solo in se non circoscriva
Col suo soverchio, e solo a quello arriva
La man che obbedisce ail’ intelletto.

Il mal ch’ io fuggo, e ‘l ben ch’ io mi prometto,
In te, donna leggiadra, altera, e diva,
Tal si nasconde, e, perch’ io più non viva,
Contraria ho l’arte al desiato effetto.

Amor dunque non ha, nè tua beltate,
O fortuna, o durezza, o gran disdegno,
Del mio mal colpa, o mio destino, o sorte,

Se dentro del tuo cor morte e pietate
Porti in un tempo, e che ‘l mio basso ingegno
Non sappia ardendo trame altro che morte.

 

 

*Imaxe: https://sobreitalia.com/files/Miguel-Angel.jpg