A MUSA VENAL de Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

A MUSA VENAL de Baudelaire (traducido ao galego por André Da Ponte)

A MUSA VENAL

 

Musa da minha alma, oh! principesca amante,

terás no Janeiro dos ventos irados

durante as tardes de neve tiritante,

pra te quentar um guiço os teus pés gelados?
Terás onde aquecer o colo brilhante

com mornos raios polos cristais filtrados?

Com bolso vazio e a casa agonizante

roubarás o ouro dos céus iluminados?

 

Precisas para obter o teu pão diário,

como acólito remexer o incensário,

cantar o Te Deum sem crer no seu favor.
Ou, como boneco faminto, mostrar

o rir aquoso do teu choromingar

quando gargalhas o teu vulgar pudor!

 

 

VIII

 

LA MUSE VÉNALE

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 24-25).

 

Ô muse de mon cœur, amante des palais,
Auras-tu, quand Janvier lâchera ses Borées,
Durant les noirs ennuis des neigeuses soirées,
Un tison pour chauffer tes deux pieds violets ?

Ranimeras-tu donc tes épaules marbrées
Aux nocturnes rayons qui percent les volets ?
Sentant ta bourse à sec autant que ton palais,
Récolteras-tu l’or des voûtes azurées ?

Il te faut, pour gagner ton pain de chaque soir,
Comme un enfant de chœur, jouer de l’encensoir,
Chanter des Te Deum auxquels tu ne crois guère,

Ou, saltimbanque à jeun, étaler tes appas
Et ton rire trempé de pleurs qu’on ne voit pas,
Pour faire épanouir la rate du vulgaire.

 

 

Autorretrato

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CORRESPONDÊNCIAS de Charles Baudelaires (versión galega de André Da Ponte)

CORRESPONDÊNCIAS de Charles Baudelaires (versión galega de André Da Ponte)

 Das minhas traduções

 

CORRESPONDÊNCIAS

 

A natureza é um templo onde vivos pilares

podem deixar brotar às vezes palavras confusas;

onde o homem passa por sinais de florestas difusas

que o vão observando com miradas familiares

Como os ecos de longe vão se fundindo os rumores

na mais envolta em trevas e na mais funda unidade.

tão dilatada como a noite e como a claridade

se correpondem os toques, os aromas e as cores

 

Há perfumes com frescor como corpos virginais,

brandos como oboés, verdes como campas sem fim;

e há outros corrompidos, viçosos e triunfais,

 

Que têm um algo da expansão das cousas infinitas,

como o ámbar, qual almiscar, como o incenso e o benjoim

que vão cantando os arrebates das almas contritas

 

 

IV

 

CORRESPONDANCES

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 15-16).

 

La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles ;
L’homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l’observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

Il est des parfums frais comme des chairs d’enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d’autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l’expansion des choses infinies,
Comme l’ambre, le musc, le benjoin et l’encens,
Qui chantent les transports de l’esprit et des sens.

 

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UMA ESTAMPA FANTÁSTICA

UMA ESTAMPA FANTÁSTICA

O espectro singular, fantasma faceto,

grotesco porta na testa de esqueleto

uma diadema horrenda, enfeite a orná-lo.

Sem espora e látego, monta um cavalo

fantasma como ele, píleca esquelético

que baba polas ventas como epiléptico

Furando o espaço para o abismo levados,

sulcam o infindo com seus cascos alados.

 

O ginete brande a espada flamejante

Sobre as multidões que esmaga o rocinante,

e corre o seu paço o senhor do remonte,

um cemitério imesno sem horizonte,

Onde jazem, sob opaca luz eterna

os povos da História antiga e da moderna.

 

 

LXXI

UNE GRAVURE FANTASTIQUE

 

Segundo a edição: Poulet-Malassis et de Broise, 1861 (pp. 162-163).

 

Ce spectre singulier n’a pour toute toilette,
Grotesquement campé sur son front de squelette,
Qu’un diadème affreux sentant le carnaval.
Sans éperons, sans fouet, il essouffle un cheval,
Fantôme comme lui, rosse apocalyptique,
Qui bave des naseaux comme un épileptique.
Au travers de l’espace ils s’enfoncent tous deux,
Et foulent l’infini d’un sabot hasardeux.

Le cavalier promène un sabre qui flamboie
Sur les foules sans nom que sa monture broie,
Et parcourt, comme un prince inspectant sa maison,
Le cimetière immense et froid, sans horizon,
Où gisent, aux lueurs d’un soleil blanc et terne,
Les peuples de l’histoire ancienne et moderne.

 

 

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