por martinho | Jun 21, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (VI)
Abu Salma
(Abd al-Karim al-Karmi)
عبد الكريم الكرمي
O herói
Você defendeu a terra de Palestina
e agora a terra não abraça o seu cadáver.
Chora-te Naplusa além das fronteiras
e Jafa e Jerusalém e os outeiros.
Se não abraça a minha terra seus filhos
como hão sanar os nossos feridos peitos?
Como hei chorar por ti, se és o povo e a história?
És a lâmpada na densa escuridade.
Choro polos* vivos que humilhados vivem,
para os que a vida é igual que morte.
Pois sim
Pois sim. Voltarão milhares de vítimas:
As vítimas da opressão
Cada vez que por ti luitei
Cada vez que por ti luitei*, amei-te mais.
Que outro chão há, de almíscar e ámbar?
E que outro horizonte perfumado?
Cada vez que a tua terra defendi,
reverdecia o ramo da existência
e no alto dos cimos, Palestina,
as minhas asas se estendiam.
Palestina, de nome inspirador e mágico!
Mostra-se o moreno na tua face:
É morena a beleza.
E o poema de Abqar ainda leio nos teus olhos
entanto as ondas quebram nas ourelas de Acre.
Floresceu porventura o limoeiro com as nossas bágoas*?
http://www.elfger.net/userfiles/image/far30ny/12.jpg
(O poeta Abu Salma, no meio, em conversa com outros dous grandes poetas palestinos: Tawfiq Zayyadd, à direita da foto e Makhmud Darwish na esquerda)
por martinho | Jun 19, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (V)
Abu Salma
(Abd al-Karim al-Karmi)
عبد الكريم الكرمي
No teu nome
em pé combatemos nesta guerra.
Que de vezes quiseram riscar o nome de Palestina
e extinguir o latejo das linhagens!
Sóis rutilam em cada letra do teu nome
e alumia mil manhãs cada sol.
O meu povo sobre fogo caminha,
apaga com lume a vergonha,
que faz germinar a vida dos homens livres.
O sangue dos meus é como facha
que em fileira levam os revolucionários.
Por vezes ateam-se em Nablusa,
outras em al – Aguar,
e a sua claridade exibe Palestina
junto à história do seu povo poderoso.
guirnaldas fundas som as suas feridas.
A par deles nas tendas no horizonte largo,
na geada e a troada.
Em Palestina, ao longo do tempo, imorredoiros
como montes e rios eternos,
somos as cantigas do Iarmuk e de Hattim .
A poeira somos da sua recendente terra
e os seus arbustos cingidos às rosas
defronte ao vento e à chuva.
Somos a oliveira de fundas raízes
e origem de qualquer esperança.
Quem dirige um exército para a morte pola* pátria
não é como quem o guia para a fugida.
que é o que tramais trás as cortinas?
Cimeiras? Que cimeiras? Palestina
segue atrás das lágrimas e as muralhas.
Cimeiras de governos? Que cimeiras de governos
construídas sobre humilhação e ignomínias?
peças de museu.
O Barada, o Eufrates e o Nilo,
se o Jordão não se recupera, lágrimas fluentes hão ser.
Pregunto polos* escondidos
na negridão do petróleo e dos poços,
polos* que depois da derrota não vejo,
polos* que se converteram numa triste notícia.
Cimeiras negras para os grandes
que pola* manhã chegam ao fundo da vilania.
Se uma mulher os esbofeteasse
existiria ainda um consolo.
Determinaram avançar na luita*
e foram para frente detrás do decreto,
tiraram-nos a liberdade de morrer
para se gabar diante do imperialismo.
Mal não se gastará o nosso sangue. Palestina
triunfará sobre os poderosos criminais.
Ante ela há se derrubar o poder e o sólio real
e cairá o poder do dinheiro.
http://www.karamapress.com/arabic/thumbgen.php?im=../images_lib/images/24_1507753610_4611.jpg&w=585
por martinho | Jun 18, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
Abu Salma
(Abd al-Karim al-Karmi)
عبد الكريم الكرمي
Abd al-Karim al-Karmi, mais conhecido na história da literatura polo* seu pseudônimo de Abu Salma, nasceu em Tulkarém em 1909. Seguindo o pai, fez estudos em Damasco (Síria), As-Salt (Jordânia) e mais outra vez em Damasco, onde obtém o título de bacharel. Volta à pátria para ministrar aulas como professor de língua árabe ao tempo em que trabalha na emissora de rádio dirigida por Ibrahim Tuqan.
Desde muito jovem participa nas manifestações contra o colonialismo e em 1930 um poema seu, “Palestina”, converte-se num canto à solidariedade de todos os povos oprimidos do mundo:
“… revelando-se contra a opressão, a ignorância e a pobreza
para criar uma pátria universal
onde a igualdade seja de todos os homens”.
A rebelião em toda Palestina contra a ocupação colonialista, a morte do guerrilheiro al-Qassam e a provocação do Alto Comissariado britânico quando instalou a sua residência no alto do monte al-Mukabbir, beira de Jerusalém, inspira-lhe um poema que se converte em manifesto dos combatentes palestinos (poema VI da nossa antologia). Este poema causa a sua expulsão das atividades docentes e tem de sair para Haifa onde exerceu como advogado até 1948 (ele obtivera a titulação em Direito no Instituto de Jerusalém). Durante muito tempo tão só as publicações do Partido Comunista deram-lhe oportunidade de publicar, desde que a burguesia árabe interditara-lhe editar em quaisquer dos jornais e revistas por ela controladas. É nas páginas dos comunistas onde o poeta pode exprimir as vontades que latejam nos corações do povo palestino. Assim, quando Abu Salma publica num jornal comunista o poema Versos em Chamas, os militantes do Partido Comunista Palestino clandestinamente distribuem-no, os versos circulam entre o povo em cópias manuscritas e são recitados nas moradas ou em reuniões clandestinas. Os portadores que são apanhados com um manuscrito do poema são imediatamente presos polos* ocupantes britânicos.
Em 22 de Abril de 1948, a cidade de Haifa cai nas mãos dos sionistas, apoiados polos* tanques da ocupação britânica. Abu Salma, como milhares de muçulmanos e cristãos árabes, tem de sair para o exílio de Akka. Leva consigo como única possessão numa pequena maleta um romance sobre a revolução de al-Qassam com uma introdução escrita por Ibrahim ‘Abd al-Qadir al-Mazini.
Combatente internacionalista convencido, Abd al-Karim al-Karmi fez parte do Conselho Universal da Paz e das Comissões Afro-Asiáticas de Solidariedade. Em 1978 a União de Escritores de Ásia e África concedera-lhe o galardão Lótus (de natureza parelha ao Nobel) e em 1980 é eleito por unanimidade presidente da União Geral de Escritores e Jornalistas Palestinos.
Errante polo* mundo e predicando por toda parte e palestra a justa luita* do povo palestino a morarem, amarem, trabalharem e mesmo falecerem na sua terra muitas vezes milenária morreu, sem poder voltar à pátria, em 11 de Outubro de 1980 em Damasco. O povo aguarda que, a não muito tardar, os seus veneráveis ossos repousem afinal na nunca esquecida terra de Tulkarém.
Palestina amada
quando os espectros torturam meus olhos?
No teu nome saúdo o largo mundo,
mas as caravanas dos dias se passam
assoladas por conspirações de amigos e inimigos.
Amada Palestina, como irei viver
afastado dos teus chãos e outeiros?
queixam-se ecoando nos ouvidos dos tempos;
as fontes, com desavença, também choram ao pingar.
As tuas cidades e lugares reverberam os prantos.
Haverá um retorno, perguntam os meus camaradas,
uma volta depois de tanta longa ausência?
Sim, voltaremos e bicaremos* a terra molhada,
enquanto florir o amor nos lábios nossos.
os ecos das nossas pisadas.
Como tormentas furiosas retornaremos,
esperança elevada e cantigas,
altas águias
quando o alvor sorri nos desertos.
Haveremos voltar alguma manhã cavalgando no cimo da onda,
com os nossos estandartes ensanguentados drapejando
sobre o fulgor das lanças.
http://alresalah.ps/ar/img.php?src=uploads/General/CF13C4004.jpg&w=676&h=450&zc=1
por martinho | Jun 15, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – III
إبراهيم طوقان
O fedai
Não rogueis a salvaguarda para ele
que o seu espírito ainda mais que a paz vale.
As mágoas dispuseram já a sua mortalha
e a chegada da hora atroz tão só aguarda.
Detido, no umbral,
arrepia o perverso quando o vê
e o furacão sossega, envergonhado,
em presença da sua valentia.
Não fala, e se o faz,
é sangue e fogo a sua voz.
Diga-lhe então a quem estraga o seu silêncio
que é muda a firmeza,
que um homem com a mão trabalha,
não com a boca.
Deixai de criticá-lo!
Ele enxergou a verdade e o direito opressos:
um país que ama,
os seus firmes baluartes derrubados,
e malvados contrários
confundindo céu e terra.
Houve, num quase nada, morrer
em desespero, porém…
Não, que no umbral,
assegurado,
o malvado arrepia quando o olha.
E o furacão sossega envergonhado,
quando fita a sua bravura.
Mil
Há um número negro que o treze não é,
mas põe-lhe o pé por diante em falcatruas:
O número mil. Jamais fora batida
Palestina com tanta e tanta fúria.
Há um milhar que emigra… Outros mil escapam
e mil turistas que entram, sem retorno.
Há mil salvo-condutos e também mil modos
de diminuir-lhes todos os obstáculos.
E no mar há milhares… Semelham que as suas ondas
vão carregadas todas de navios.
Ó filhos do meu povo!
Talvez se desperta após o sonho?
Nesta espessa sombra algum lôstrego* haverá?
Meu Deus, eu não o sei! E assim, desesperado,
clamarei por Amim ou invoco Rágueb?
http://www.amaken.co/wp-content/uploads/2016/12/%D8%A7%D8%A8%D8%B1%D8%A7%D9%87%D9%8A%D9%85-%D8%B7%D9%88%D9%82%D8%A7%D9%86-2.jpg
por martinho | Jun 15, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
DA ANTOLOGIA DA POESIA PALESTINA CONTEMPORÂNEA
Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – II
إبراهيم طوقان
Em Beirute
Dizem em Beirute: com abundância vivia.
Vendeis vós a terra e entregam-vos eles o ouro.
Vizinho, sossegue: Desde quando se estima felicidade
que milhares morram para se enriquecer um só?
Quem este ouro dá, demais sabe que
a gente que faz brindes com a mão direita, com a esquerda apanha.
Ora o país é nosso! Como é que podem os seus tesouros
e o seu ouro igualá-lo?
Fazeis-vos ricos em vendendo aos judeus a terra.
Corações mortos
Os que vendem a terra com lágrimas têm-no expiado,
mas as planícies e os outeiros maldiçoam-nos ainda.
Os agentes que com a minha pátria especularam
claramente a Deus não temem por tê-la vendido
ataviados com ostentosas roupas,
cheios da mais desprezível hipocrisia,
enganosas expressões que o rubor não conhece
e peitos como espantosos túmulos
para os seus corações mortos e sepultados.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b7/Ibrahim_Abdelfattah_Toukan.jpg
por martinho | Jun 13, 2018 | Autores/as, Creación, Literaria, Xeral
Começo hoje uma antologia da poesia palestina moderna que, penso, é muito pouco conhecida não apenas fora do mundo árabe em geral e palestino em particular, mas que é quase desconhecida no mundo que fala, lê e escreve em galego-português.
De aquí a pocuo enviarei para ser publicado em formato PDF, após escrever um prólogo que a torne notada detro da trágica história deste povo mártir dos nossos tempos.
Assim que, encetemos.
Ibrahim Abd al-Fattah Tuqan – I
إبراهيم طوقان
Ibrahim Tuqan nasceu em Nablus em 1905. Recebeu escolarização elementar na escola al-Gharbiyya da sua cidade natal, mais tarde na escola al-Motran de al-Quds (Jerusalém), culminados na Universidade Americana de Beirute (1923-1929). Ministrou aulas como professor da literatura árabe na escola nacional do al-Najah (agora Universidade) de Nablus.
Com dezaoito anos publica os seus primeiros versos e com vinte e dous já é reconhecido como grande poeta. Primeiro director da secção árabe do Rádio Jerusalém durante quatro anos, é expulso do seu emprego polas suas públicas intervenções patrióticas.
Nunca deixou de advertir que Palestina haveria cair sob a ocupação colonial sionista e que o povo árabe seria expulso da sua própria pátria. Lamentavelmente a profecia cumpriu-se sete anos após o falecimento do poeta no Hospital Francês de Jerusalém em dous de maio de 1941.
A sua irmã Fadwa Tuqan dedicou-lhe uma comovedora biografia: Aji Ibrahim (meu irmão Ibrahim), publicada em al-Quds em 1946.
O Diwan Ibrahim Tuqan recolheu toda a sua poesia publicada após a sua morte.
Vós-outros
Vós, os devotos patriotas,
vós, os que levais a carga da “questão”,
vós, quem sem falar, em acção vos pondes…,
abençoe Deus os vossos fortes braços!
Que de “declarações” vossas valem o que um exército
poderoso com todos os apetrechos de trás!
Que de “congressos” vossos nos restauram
a pretérita glória das conquistas dos Omíadas2!
Com as floridas festas que vêm
o final do país está a chegar.
Reconhecemos, sim, os vossos “favores”,
não obstante um desejo ainda nos bate na alma:
Visto que ainda possuímos um pedaço de país,
repousai um bocado, não vaia ser que o perdamos, como o resto!
http://aboufehr.com/wp-content/uploads/2015/10/%D8%A5%D8%A8%D8%B1%D8%A7%D9%87%D9%8A%D9%85-%D8%B7%D9%88%D9%82%D8%A7%D9%86-232×277.png
2 O Califado Omíada (em árabe:الأمويون / بنو أمية; transliterado: Umawiyy) foi o segundo dos quatro principais califados islâmicosestabelecidos após a morte de Maomé. Era centrado na dinastia Omíada, originários da Meca, Arábia Saudita. A família Omíada chegara ao poder durante o governo do terceiro califa, Otomão (r. 644–656), contudo a dinastía omíada foi fundada por Moáusia I, governador da Síria, após o fim da Primeira Guerra Civil Islâmica em 41 ano da Hégira (661 do calendário ocidental). Foi assim que a Síria se constituiu como a base da força da nova dinastia, com Damasco com a sua capital. Com a sua ascensão, a dinastia Omíada começou uma enorme expansão polo Cáucaso, a Transxónia, Sinde, o Magrebe e grande parte da Península Ibérica (al-Andalus) alcançando os 15 000 000 km², fazendo do império muçulmano o maior que se tinha visto até então e o quinto maior que o mundo tenha visto.