ANTOLOGIA POESIA PALESTINA MODERNA (XXI)

Tawfiq Zayyadd

توفيق زيّاد

Cantiga de júbilo polos* que se negam a morrer e render-se

Cameleiro,

saúde por mim a Amam,

beije a ferida e abraze às suas gentes valorosas,

beije a metralhadora nas suas mos

e a trincheira gloriosa

e as praças

e as paredes,

e grite-lhes:

a tua cabeça ergueita é um milagre,

que viva o leite com o que te amamentaste,

ó Amam!

Segue o teu caminho,

ó cidade crucificada!

Que desprezaste inclinar-te um instante

perante a espada e o poder.

Segue o teu caminho, ó Amam nosso!

E amanh chantaremos a nossa bandeira de sangue

Em Basmám15.

Cameleiro,

berre nas duas ourelas.

Diga aos meus que o pranto cegou os meus olhos.

Os punhais da opresso

no meu coraço e na minha garganta.

Agarre as palmas das minhas mos

e venda-me e compre-me um olho.

Cameleiro,

grite nas duas ourelas.

Em duas se quebrou a espada na minha mo.

Mas acometo-as por cima das minhas cruzes.

Apanhe o meu coraço e a minha alma e faça entrega de duas espadas.

Cameleiro,

empreste-me, ainda que só seja, uma lágrima

que no tenho já para chorar meus sete irmos.

Deles me despedi o dia do desastre

e no volvi olhá-los

até chegar a nova das suas mortes

na noite da sexta-feira.

Cameleiro,

o meu kufilha16 está num pingo.

Mas, aonde vai o seu de veludo?

É pesado o meu carregamento,

mas igual ao aceiro* fui criado

para aturá-lo.

Cameleiro,

saúde por mim a Salt17.

Semeada de morte trás morte está a sua terra,

e se passar diante duma crucificada despida

com um manto cobra o seu corpo, que a minha irm é.

Cameleiro,

saúde por mim a Irbid18.

As suas metralhadoras no param de atroar nas barricadas.

Leve-lhe um ramalhete de rosas da nossa terra

e diga-lhe que no nos resta mais que resistir.

Cameleiro,

saúde por mim a Az-zarqa19.

A cabeça do meu irmo segaram na sua praça.

Diga-lhe que a história tem a sua lógica

e machucará o sólio real

e o nosso povo subsistirá

(ninguém se faça ilusões)

Cameleiro,

saúde por mim a Jerusalém

e diga-lhe: Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém!

que a minha cabeça caia.

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15 Nome do palácio real de Aman.

16 Pano tradicional árabe-oriental para se cobrir a cabeça

17 Cidade da Jordânia no noroeste de Amam.

18 Cidade no norte da Jordânia, perto da raia com a Síria.

19 Cidade da Jordânia ao norte de Amam.